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Não precisa de título, a sociedade entende a indireta.

 Andar de cabeça baixa. Roupas não muito escuras. Ouvir música baixa. Não encarar ninguém. Evitar os militares. Não usar vermelho. Se misturar, não chamar atenção. Sobreviver era fácil. 
 Fabiano andava quieto, inseguro, sempre olhando para os lados. Com as mãos nos bolsos do moletom. Sempre abaixando a cabeça mais quando via os militares, quase como uma espécie de reverência ou mesura... Não fazia diferença, ele não sabia a diferença. Viver em medo, sem poder fazer nada... Era insuportável. Mas era viver. Não ia para a escola, era perigoso lá. Não encorajavam o estudo. 
 Um garoto estranho passou correndo por ele. Calça de couro, jaqueta vermelha e um broche que não reconhecia o símbolo. Ele tinha uma faixa dobrada no colo. Sempre correndo, estendeu-a. Uma pequena multidão se aglomerou. Fabiano se afastou, viu que os guardas estavam de olho. O rapaz começou a falar. 
 - Vocês estão felizes? 
 - NÃO! - Somente uma garota, cuja blusa tinha o mesmo símbolo que o broche dele respondeu. 
 - Por quê?
 - NÃO TEMOS LIBERDADE! - Três garotos e duas garotas se juntaram a ela.
 - Só isso?
 - NÃO!
 E antes que ele pudesse continuar, falar algo que parecia importante, os guardas o prenderam. A multidão se espalhou. Todos correram, gritaram. O rapaz morreu. 
 Fabiano sentiu um arrepio na nuca. Não se lembrava direito do que a faixa falava, mas sim do sorrido do garoto. Ele era livre. Coisa que Fabiano nunca fora. Nunca se iludiu sobre isso.
 Esperou a zona passar. Andou até a praça. Tinha somente duas palavras na faixa. 
 IGNORÂNCIA NÃO
 E de uma maneira estranha, ele sentiu que a indireta era para ele. 

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