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Mostrando postagens de janeiro, 2014

Quem dera fosse uma declaração de amor

 Ela era romântica e sem justa forma. Levantava a saia e pisava nas poças feitas pelas mangueiras na prefeitura. Jogava beijo para os homens de terno que lá dentro trabalhavam que ganhavam um momento de alegria nas oito horas de colarinho branco. Tinha um amante lá dentro, um homem importante segundo ela, mas não falava quem era. Me beijava na frente deles e eu dava de ombros e continuava andando, tinha coisas mais importantes para me preocupar que alguma garota desconhecida no meio da rua que namorava o garoto do xerox. 

Summertime Sadness

 - Por favor, não vá. Você sabe como eu ficaria sem você.  - Vai me substituir, nem somos amigas há tanto tempo assim.  - Otária, se você não me ligar amanhã eu juro que pulo da mesma ponte que você.  Uma beija a outra.  - E agora? Ainda pularia?  - Três vezes. 

Roleta francesa

 - Nenhuma garota bonita como você devia estar chorando sozinha à essa hora.  - Nenhum homem decente está em casa a essa hora. Se não vai tentar me estuprar, dê o fora.  - Se você quisesse um cara decente procuraria em lugares claros.  - Eu não estou procurando ninguém, estou?   Atravesso a rua e continuo a observar ela, se ela não se movesse na próxima meia hora eu tentaria de novo. Os olhos encharcados de lágrima e vermelhos do ardor do rímel, e um fio fino de sangue demora para escorrer delicadamente pelo canto direito do lábio. Ela grita de desespero e joga um celular na pista de skate, depois corre até ele para montar as peças de novo, provavelmente se questionando se conseguiria fazer isso com tua vida. Ela me encara, levanto a garrafa de cerveja num comprimento e ela me manda um dedo do meio.   Volto para ela, e acendo um cigarro.  - Sabe menina? Eu podia ter sido sua transa de vingança. 

I'll Never quit Tequila

 - Você voltou de vez dessa vez?   - Para a cidade sim.   Os cabelos que antes eram longos e ondulados, depois viraram curtos agora estavam na altura do sutiã dela e lisos como cabelo de orientais. A pele continuava dourada e aquelas coxas ainda se cruzavam e descruzavam como um convite de satã. Voltou a usar maquiagem e a passar perfume caro nos seios.   Ela não sugeriu nada dessa vez, eu somente acendi o cigarro dela em silêncio e baforei enquanto ela inclinava a cabeça para a chama alcançar o tudo de nicotina e descaradamente encara a ereção em minhas pernas, satisfeita.   Jim Morrison canta no fundo do bar.   - Quem é o dono desse lugar? - Ela analisa tudo com um interesse perfeitamente fingido.  - Um gato chamado Tom.   E ela se transforma na felina, se inclina para mim me exibindo o decote e mostrando a bunda para quem quisesse ver. Se aproxima o suficiente para eu sentir o calor da pele dela, sinto o hálito de canela e o perfume. A ereção queima. E ela me pega des

Sussurros de Pique Nique

 Era um erro, um erro que eu ia cometer de novo pela oitava vez, porém era algo que eu tinha que fazer. Ele re-lia Dom Casmurro com os olhos roubados de algum modelo, me levantou o olhar e sorriu um sorriso discreto, digno de bom-moço.   - Vestibular? - Pergunto.  Ele consente e me dá espaço para sentar no chão do pátio, e então me pergunto se parecemos um casal para os outros e nem percebo que deito a cabeça no ombro dele, e acho que vejo um sorriso pequeno se esboçando. Me desencosto.   - Quer dar uma volta?   - Claro. - Ele me responde com o mesmo sorriso.  E vamos almoçar em uma praça perto, e planejei todos os meus atos. Calculei os sorrisos, as risadas e quando ajeitar o cabelo; o modo em que eu me inclinaria para somente exibir um vislumbre do decote e um bom detalhe de meu colo. Você ri comigo da mesma maneira que riria de tua irmã mais nova. E eu conto.  - Ta apaixonada por mim?  - Não... Digo, acho que não chego a te amar, mas gosto de você o suficiente para te

Porque Vamos Terminar a Garrafa - Uma canção para um ex-ex-ex amor.

 Ah Felipe, nem posso te contar o tanto que chorei quando você se mudou para o litoral ou quando você ficou com uma garota que eu queria ser amiga em segredo. Nunca derrubei tantas lágrimas por alguém quanto por você, eu me explicaria mas vou usar os meus doze anos como justificativa. Você leu o mesmo que eu; Marx, Engels e Umberto Eco, porém na hora H, se mostrou como anarquista e quando eu me declarei foi gentil, porém riu nas minhas costas. Ah Felipe, te amei tanto quanto eu amei o meu primeiro amor, era só uma pena que você me enganou. 

Um abraço Jorge

 Ela tinha acordado cedo pra limpar a bagunça que o ano novo tinha resultado. Não precisou me falar onde eu tava, conhecia a minha esposa. Deve ter acordado umas seis da manhã, mas só foi limpar a churrasqueira agora com o sol no pico.   A casa estava silenciosa, a cozinha cheirava a carne queimada e Nelson dormia no chão, é só então que percebo que estava chovendo, faço um leite com café solúvel e lavo o rosto na pia, numa velocidade pequena demais para ser digna de nota e em cinco minutos chego na porta de trás e a vejo. Vestia seu shorts branco e uma bata de renda por cima. Comia a feijoada da concha, nem me viu a vendo. Noel late e ela me olha, sorri e me manda um beijo. Corro até a churrasqueira e em cinco segundos a alcanço, ela me beija e pede ajuda pra lavar tudo. 

Porque vamos terminar a garrafa - livros infanto-juvenis

 Meus únicos quinze minutos sozinha. Queria poder falar que senti como se tivesse passado horas, mas é mentira. Senti somente quinze minutos mesmo. Me sentei no cais enquanto a maré baixava, devia de estar uns dez metros acima do nível do mar. O cheiro de mar não é forte, o oceano é cinza enquanto o céu é nublado. Me contaram que as vezes a temperatura nas águas chega a quatro graus negativos.  Penduro os meus pés descalços de meia calça e deito o corpo no piso de madeira, resistente, nem balançava com as ondas, porém eu me gelava com os poucos (mas não tão poucos assim) respingos de mar. Em cerca de três minutos me acostumo e a mente se acalma e começa a vagar. O ano que se foi, os que se vem, as pessoas por quem me apaixonei, o garoto que amei e um sorriso vem na cara, e me pergunto todas as grandes perguntas, mas não espero a resposta de nenhuma delas, posso ser ingênua, mas não tanto assim.  Volto para o carro e lá caio no sono, tenho um sonho bom e relativamente revelador,

Um belo dia, se acostumou com a fantasia.

 Passou a maquiagem com o ritual de um gueixa, se vestiu com o cuidado de uma princesa e saiu por aí fantasiada. Esperando que a encontrasse. Não tinha ninguém no banco da praça, mas ela havia chegado cedo.   A história do livro que lia se desenrolava devagar, o grumete não encontrava o tesouro nunca. E as medidas que os minutos passavam a cidade começava a tomar um pouco de vida, os pastéis fritavam, uma mulher xingava a outra no meio da rua e alguns artistas começavam a tocar. Um chorinho de cavaquinho ganha três reais de esmola enquanto passava a hora do rapaz chegar.   - Acho que eu mereço isso. - Falou para quem quer que quisesse ouvir. Ninguém.   A sorte era o horário de verão, somente por causa disso ela não perdeu o dia inteiro. 

Uma valsa e um café, por favor.

Eu tive que abrir os olhos para perceber que voava. Ele não tirava seus braços de envolta de mim e sussurrava na minha nuca, ronronando.   - Pode abrir os olhos querida, está segura.  E eu rio, a adrenalina e o vento me tomam por surpresa, apesar de eu já estar na asa delta há alguns minutos. Me pega desprevinida com um beijo e bambaleamos e eu grito com medo da queda.  - Primeira vez que faz isso?   Respondi que sim, mas nao sei se ele ouviu. Eu ria e ria e ria. Me senti como uma menina de novo, nos braços daquele homem.   Descemos no morro do Urca, eu ria e dançava com os braços abertos, e ele me encarava com paciência. Pedia dois chás gelados e mais alguma coisa enquanto eu apreciava a vista. Só o sinto do meu lado e deito minha cabeça em seu ombro, ainda estou agitada, mas a adrenalina baixou. Até ele ter pego na minha mão pelo menos, não sei se era o voo de asa delta, ou a maneira que ele veio de fininho, mas meu coração acelerou de novo. E nos meus vinte e seis anos de

Rosebud

 Enrolou o seu último baseado com a mesma sensação que supos que teria se tivesse que assinar o papel de herança, acendeu-o com o mesmo nervosismo de quando acendeu o primeiro cigarro, e tragou-o triste por ter que ser o último.  - Sou um homem comprometido agora. - Ele ri.  - Não imagino a sensação. - Uma garota, no auge de sua adolescência interrompe o que seria o começo de um monólogo.  - Vai contar para alguém?  - Nem sei teu nome, pra quem contaria? - E ela se senta do lado dele.  - Não tem medo que eu seja um pedófilo?  - Daí sim eu contaria para alguém. - Aponta para o distintivo de polícia. - Parece até alguma coisa de um filme noir.  - Noir? - Ele sente a maconha sentindo a cabeça.  - É, significa preto em frances. Filmes em preto-e-branco sobre policiais e detetives barra pesada que sempre ficam com as garotas bonitas. Anti-heróis. - Ela acende um cigarro.  - Você não é muito nova para isso?  - Isso sim é uma frase de filme noir.  Mais confuso ainda ele encara para

A vítima sem suspeitas.

 Parece estranho, mas não me lembro mais dela. Só das manias. Lembro dos tiques que tinha, da maneira em como deixava as mãos quando nervosa, como roía as unhas compulsivamente e do jeito que o sorriso dela pendia para a direita quando era falso. Os olhos eram castanhos, tinha uma pinta perto do olho direito. Mas não me lembro do resto. Se os cabelos eram pretos ou castanhos escuros ou até se ela pintava os lábios ou não.   Ainda me lembro do número de telefone, porém também deixei de lado a curiosidade para ligar e perguntar.

Sinhás

              A vida nunca me facilitou nada, acho que faz parte de ser negro, mas isso não me derrubou. Não consegui estudar, aprendi a ler e a escrever e tava ótimo, depois disso meu pai me ensinou a dirigir. Dirigia de tudo aos catorze anos; caminhão, caminhonete, motoca. Mas não queria ser caminhoneiro não, nordeste por si só já é quente, dentro duma cabine então? Trabalhei dois anos com ele, consegui um dinheiro já que só tinha que ajudar a pagar as contas e me mudei pro Alagoas, fui pra Maceió. Ainda era quente, mas pelo menos tinha mar e um primo de terceiro grau morando lá. Acho que era meu primo pelo menos.               - Cumpadi, minha casa, tua casa. – Primo Beto me fala com um sorriso rosto e uma   cerveja na mão. – Entra aí, vai perder o jogo. Qualquer filho de Rosa é bem-vindo aqui.             Sigo o conselho, pego minha bagagem da porteira e entro. Cinco maranhenses que nem eu (uns mais magros) me levantam a lata como se já soubessem quem eu era. Devia

Rock dos anos oitenta.

 Os cabelos retos lisos até as costas um pouco embaraçados, mas não o suficiente para tirar a forma. Sentada em pernas de índio encostada na janela, estava permitindo a si mesma um pouco de drama antes de ter que voltar para a aula. Camila não tinha certeza se havia visto uma lágrima escorrer do olho da amiga, mas ficou quieta.  - Foi bem na prova.  - Mm-Hm.   Não era dificil adivinhar o que estava na cabeça dela, é fácil adivinhar os pensamentos de garotas de maneira geral, principalmente quando elas dão certas dicas, se esconder em um café longe da universidade para tomar uma garrafa d'água era uma delas.   - Ele não ligou?  - Nem mandou mensagem. - Ela não para de encarar a janela.  - Surpresa?  - Nem tanto, mais decepcionada mesmo. Eu sabia que ele iria fazer isso, mas tinha esperança. Entendo porque Pandora deixou esse sentimento escondido na caixa.   Ela vira para a amiga e sorri um daqueles sorrisos cansados que somente quem teve um coração partido e orgulho

Não tenho nenhuma delas (as canções francesas)

  O cabelo armava com a chuva e o casaco impermeável dificultava os movimentos, provavelmente eu devia estar fedendo por debaixo dele. Paro na frente da Torre Eiffel, e vejo o pôr-do-sol e os milhares de casais neles; a chuva, as luminosidade, o local; uma garota é pedida em casamento, outras duas recebem (provavelmente) os melhores beijos de suas vidas e eu somente observo tudo. Podia não ser a minha, mas era uma cena de filme.

Por nunca

 Amores não podem ser só feitos de frases feitas. Corações partidos não podem ser esquecidos, podemos tentar sufocar os suspiros o tanto que quisermos querido, mas todo prazo tem sua validade, o nosso é a felicidade.

Na cidade das ventanias e das gaivotas eu me apaixonei

 - Bella.  Olho para trás curiosa ao me deparar com um senhor (menos de sessenta mais de cinquenta anos), um caderno e gizes de cera. Sorriu e colocou os cabelos atrás da orelha, sentou-se numa pedra e me perguntou o nome, eu respondi.  - Leonardo. De Verona. - Respondeu, como se perguntarem "Da Vinci?" (confesso que eu ia) fosse mais velho que ele.  Me contou que estudou artes e que se mudou para Paris com uma ex-mulher e desde então não saiu. Me perguntou sobre a vida e eu falei que tranquei universidade pra viajar por um ano. Ele terminou o desenho e me entregou. Eu ia pagar os trinta euros que ele merecia, mas ele me chamou para um café ao invés. Num lugar em cima do Moulin Rouge ele me apresentou o filho dele, Rafael (de novo me seguro com piadas). 

A gorda da Magnolia

  Algo que nunca vai faltar em qualquer cidade do mundo são pessoas características. Aquelas que nunca apareceram na televisão e muito menos fizeram algo de ruim, somente são famosas, conhecidas pelo seu passado ou pelo seu jeito. Benito nunca tinha prestado muita atenção em fofoca, muito menos fofoca local, mas Roma é uma cidade de histórias tanto as antigas quanto as novas. Em todo o fogo de seus vinte anos ele passeava pela rua das Magnolias no inverno onde somente folhas caídas, cachorros e Donna Giovanna.  Poderia ser uma matrona, mas ninguém sabia. Cada dia carregava algo consigo, normalmente eram livros que o rapaz conhecia o título; Umberto Ego principalmente, ela ficou um mês lendo O Nome da Rosa.  Somente três coisas se sabiam sobre ela: escolheu morar em Roma depois de ter viajado pela Europa inteira (principalmente o leste europeu), era mais jovem do que aparentava e que trabalhou por um tempo como garota de programa (12 horas ou 12 meses, ninguém sabia). Era alvo de fofo

Esqueci os meus sonhos em Paris

Ouvíamos Dig a Pony e ela dançava para mim, rebolava, quase imitava uma serpente; estava feliz, rindo. Movia os quadris de maneira exagerada, não sei se de propósito para tirar sarro ou para me seduzir, a questão é que ela estava sexy na sua regata vermelha com os mamilos acesos e a calcinha branca de bolinhas que parecia um shorts minúsculo. Eram sete e meia da manhã, estaria sol e calor se estivéssemos no Brasil, mas ela me convenceu a vir Para a França, onde alugávamos um estúdio; eu dava aulas na universidade e ela estudava lá (eu era professor de engenharia de alimentos e ela estudava economia). Nosso aniversário de seis anos e três anos morando na França. Em toda sua juventude ela sorri para mim e vem engatinhando se insinuando para mim, até escalar em meu colo. Me beija e dá risada. Eu estava feliz. – O quê você acha da Inglaterra, meu anjo? – Chuvosa. Mal-humorada. – Os ingleses são mais bem-educados que os franceses. – Eles são, mas a aura do país não. Muita chuva. Quer ir