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Mostrando postagens de abril, 2014

A bêbada e o Equilibrista

 Pagava a penitência do meu coração caminhando de bar em bar, porém toda a estrada era feita de cacos de vidro e o dinheiro dos calçados tinham ido embora junto com a vodca barata. Era como assistir o filme da minha vida, todo o romance se entrelaçando e se apertando num nó que não desatava, somente estourou no final. E nem tive a dignidade de segurar as pontas. Mas essa é a vida de dar murro em ponta de faca. Se apaixonar pela mulher do melhor amigo, querer um emprego que paga o suficiente para ser bandido.  Quase uma pária, mas com todos os perdidos, de vez em quando um anjo descia.   - Oh, meu Roberto, meu nômade favorito. Me diga, porque tanto me amaldiçoa.   - Ah noite, noite minha, noite da lua, dona do bordel. - Rio seco. - Juro que não é de propósito, mas você me desperta a melancolia.   Nos finais de semana, a noite é a ruiva ardente de vestido brilhante; segundas, quintas, sextas e terças a dona do bordel de blazer e salto alto. Nas quartas feiras tirava folga e ves

Mucambo Cafundó

 Uma luz se acendeu no prédio em frente ao meu. Na realidade estava na lateral do edifício, mas na frente da minha janela. Uma loira de olhos verdes chora para a rua. Não sei se ela pretendia ter algum espectador, mas a partir daquele momento me teve. Em duas semanas já aprendi os hábitos dela.  Até que em uma sexta-feira eu sentei no meu parapeito e acendi o meu primeiro cigarro em dez anos, ela olhou para a frente, diferente dos outros dias que somente olhava para a rua, e me deu um sorriso de presente, para que ninguém fale que eu roubei. Devia ter uma saúde de ferro, pois desde então começou a dormir de janela aberta.  Tomávamos café-da-manhã junto, um rindo para o outro. Eu trabalhava antes dela, saía as oito da manhã e em uma quarta ela desceu o prédio dela e me deu um beijo de despedida.  - Volte logo, meu amor.  E subi direto para o apartamento dela. Quarto andar, número 42. Uma banda de rock meio manjada tocava enquanto ela fazia a janta.  - Nickelback?  - Uhum. - Ela

Chelsea St Nº 2

 A cretina manipulava ele como dava.  - Tem certeza que vai dar certo?  - Claro benzinho, você é o chefe. - Abraçava ele por trás, acariciava o peito do velho tarado. E então sussurrou algo no ouvido dele enquanto me olhava. Aqueles olhos de quem aguenta a tequila e a noitada por seguir, os olhos de piranha.  Ela então pegou os duzentos reais e saiu, vestiu o casaco branco por cima do vestido branco e me esperava na frente do hotel com o cigarro já aceso. A chuva caia e parecia se desviar dela, como um feixe de luz; e ela me viu e sorriu, e por dois segundos deixei a guarda baixar. Mas me recompus ao voltar para ela, não estou na Sicília mas as mulheres sempre serão mais perigosas que armas.  - Noite agradável, não?  - Claro, se você gosta de frio e chuva.  Estranho que não consigo imaginá-la de dia. Em dois anos que a conheço, nunca a vi de dia. Todas as vezes que acordei do lado dela ainda era madrugada e eram cinco da manhã quando ela pegava o táxi.  - Você sabe que v

Tired of all about the blues

 Ele queria ser o meu homem. Eu não deixei e me arrependi.  Sabia que estava bonita naquela noite, o vestido rodado, o cabelo arrumado para cima; os doze adolescentes de sempre me disseram que foi a minha melhor performance e me falaram para lançar um álbum. Deve ser verdade aquilo que dizem sobre como a desgraça melhora as artes. Aconteceu isso com Van Gogh, Kurt Cobain, por que eu não poderia ser a próxima?  Porque a vida é mais do que um sonho adolescente, por mais que eu me esforçasse para ser. Pagava caro em um apartamento pequeno com uma claraboia na rua Riachuelo, perto do Largo da Ordem, antes de tudo eu dividia ele com uma namorada, mas ela foi embora e eu fiquei sozinha por um tempo. Até ter me entediado e arranjado outra companhia, depois outra e outra e todos viram números.  Como toda garota perdida, fugi para o colo da minha mãe. Meus pais moravam no interior na época, cidade pequena, mil habitantes, lugar agradável e fácil demais de se perder.  E naquela pequena

Homônimo

 O beiço dela trava tremendo, não culpo ela. Por mais que nunca a tenha pedido em namoro, éramos namorados; ela dava em cima de alguns caras quando eu estava olhando, somente para me deixar em meu lugar, mas eu fazia coisa pior quando ela piscava. Eu realmente acreditava que a vida seria mais fácil sem uma esposa. Mas deixar uma mulher grávida e sozinha por cinco anos não é algo que ela perdoe.  - Você não mudou nada. - Tento elogiar.  - Pois é, aceitei esse encontro. Jurava que iria aprender com o tempo.  Ela não tinha mudado mesmo. Os cabelos estavam mais longos, mas somente isso. Ainda tinha os olhos de menina.   - Ainda fuma?  - Com frequência. Pode acender se quiser.  Acendo dois Marlboros  e entrego um pra ela. Ela se relaxa.  - Como vai a vida?  - Bem, continuo sozinha, não tive nenhum outro homem sério se é o que quer saber.  E era.   - Sozinha com o garoto?  - Nunca cheguei a ter o bebê. Admito que foi provocação. Sabe, eu tinha aquela ilusão que no mome

Os tragos dos Blues

 - Ele já disse que te ama?  - Já. - Menti.  - E você?  - Também. Por que?  - Pra saber qual dos dois mentiram.   - Ah, por favor, não vá me dizer que você é desses que acredita que o amor é uma farsa.  - Sinceramente, eu sou. Cazuza me iludiu demais.  - Amor é mais que corações partidos e músicas melosas.  - Ah, nunca cheguei a parte confortável, já estava de ressaca na noite seguinte. 

E tudo ficou amarelo

 Quando o final feliz é a partida dele você começa a repensar alguns momentos. Como quando começou a ser assim? Há uns 3 namorados atrás. Mas acho que é sempre assim com garotos, começam como paixões, depois se transformam em boas companhias e no fim somente tapa-buracos. Aqueles que você chama de "amor" porque somente se esqueceu do nome. Maldade demais? Talvez. Mas umas três decepções amorosas justificam tudo isso.  Tem alguns que vão embora antes de eu acordar, são os mais fáceis e que duram menos. Tem outros que simplesmente não durmo com, esses duram entre uma semana e um mês. E tem os que dormem comigo; me abraçam e me acordam com beijo na testa. Odeio esses, me fazem querer pedir para eles ficarem por mais tempo, me dão vontade de pedir um abraço e de contar as mesmas mentiras e as mesmas histórias, porém como todos eles me beijam na testa e me chamam de "anjo" acho que é uma trapaça válida.