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A gorda da Magnolia

  Algo que nunca vai faltar em qualquer cidade do mundo são pessoas características. Aquelas que nunca apareceram na televisão e muito menos fizeram algo de ruim, somente são famosas, conhecidas pelo seu passado ou pelo seu jeito. Benito nunca tinha prestado muita atenção em fofoca, muito menos fofoca local, mas Roma é uma cidade de histórias tanto as antigas quanto as novas. Em todo o fogo de seus vinte anos ele passeava pela rua das Magnolias no inverno onde somente folhas caídas, cachorros e Donna Giovanna.  Poderia ser uma matrona, mas ninguém sabia. Cada dia carregava algo consigo, normalmente eram livros que o rapaz conhecia o título; Umberto Ego principalmente, ela ficou um mês lendo O Nome da Rosa.
 Somente três coisas se sabiam sobre ela: escolheu morar em Roma depois de ter viajado pela Europa inteira (principalmente o leste europeu), era mais jovem do que aparentava e que trabalhou por um tempo como garota de programa (12 horas ou 12 meses, ninguém sabia). Era alvo de fofocas e piadas, uns senhores juravam que ela vivia na cidade há anos e que era a mulher mais bonita já vista, umas senhoras diziam que vivia de esmola e alguns jovens contavam que ela era uma escritora famosa que vivia no anonimato.
 Misturada já na paisagem, ela decorava com o sorriso pesado e tranquilo. Podia ter vivido mais de cem anos que ninguém nunca saberia.
 Um dia a curosidade falou mais alto que os dogmas para Benito.
 - Posso me sentar Signora?
 Ela sorri, um sorriso leve.
 - Que educado. - Ela tira uma sacola de seu lado e coloca entre os pés, dando espaço para o moço. - Qual o seu nome?
 - Benito Marconde.
 - Nome bonito, com significado obscuro para muitos.
 Ele não sabia se ela estava se referindo a segunda guerra mundial ou era algo pessoal.
 - Eu não preciso me apresentar não é? - Ela ri. - Eu sei do que falam de mim rapaz. É divertido ver como as pessoas se esquecem rápido. Sabe, já ajudei muita gente dessa cidade. E já notei você me observando, é o primeiro que vem conversar comigo sabe? Não me incomoda, sou uma velha, e como todas as velhas sou solitária.
 Ele somente a encara, atônito. Surpreso com a agressão delicada da senhora. Imaginava que ela sabia dos boatos, mas esperava um pouco de sutileza. Não sabia como prosseguir. Só se levantou, se despediu em silêncio e continuou andando. 

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