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Mostrando postagens de novembro, 2013

Em Curitiba, choveu num funeral.

 O doutor falou dos estágios da doença. Bah, baboseira maior não há. Uma maneira bonita de dizer se vamos demorar pra morrer ou se vai ser rápido pra bater as botas. Sabe, acho que é HIV, IVH IDH, o nome do troço que tenho. Me disseram que faz tempo isso, mas sei lá, nunca notei nada não. Lembro do doutor cheio de cerimônia antes de me contar.  - Ué? Qual o problema? Remédio caro?  - Sem cura.  E esse era o porque da cerimônia. É aquela coisa né, todos nós morremos, a questão é quando.   E eis que me vejo numa tal terapia de grupo aqui no Ahú, e olha só que eu me surpreendi. O Bóris e o Kiko estavam lá. O Bóris até que chorou, falando que não queria morrer na cadeia. Já por mim, homem que é homem não chora, ainda mais se for do sul.   - O vírus da Imunodeficiência Humana é um retrovírus que causa a falência do sistema imunitário, degenerando-o. Transmitido pela troca de fluídos, normalmente por relações sexuais sem proteção e o compartilhamento de seringas e agulhas.  

Minhas meias 7/8

 As tuas são pretas e você usa com a saia rodada, as minhas eram brancas e vestia-as com mais nada. As minhas viram somente um par de olhos, as tuas alguns vários. Você tem suas histórias, seus amantes tuas glórias, eu tenho meus pijamas e meus sonhos de cigana. Espero que os lábios que tiraram as peças de lingerie das suas pernas tenham lhe proporcionado o mesmo carinho que o meu chá de hortelã (colhido na hora), porque me diverti muito dançando sozinha em frente do espelho com vestido, sapatilhas e rendinha delicada. Espero que seus amantes tenham se divertido tanto quanto eu com o meu amor.

Veja bem, meu amor.

 Se eu pudesse fazer um desejo, seria o que de você pudesse ouvir os meus sussurros. Eu te amo e é da boca pra fora, mas isso não faz diferença já que você nem me da bola.   Me arrumo toda, coloco meu decote vermelho e passo glitter no colo e te encaro na pista de dança. Mordo os lábios e dou risada, mas você nem se quer ver nada.  Te convido prum café e pruma mousse de maracujá, você vem e me diz que prefere chá. Te chamo pro boteco e você prefere ir pra casa com a tua mãe jantar... ...   Realmente, era da boca pra fora.

Porque vamos terminar a garrafa - Nashville Teen

 Se a minha mãe soubesse que eu estou acordada a essa hora, me daria uma bronca. Mas como ela não está em casa, tudo é possível. Um chocolate quente de amêndoas com banana no estômago e uma vontade de não-dormir no peito. Normalmente seria drama, mas possuo licença poética durante as madrugadas (ainda nem se quer é quinta-feira) e então posso me conectar à sessão dos anos 60 da playlist (acabou de virar quinta-feira). O que se pode fazer? Sou muito nova pra entrar no caminho do tabaco e muito covarde para fugir de casa.

Divagações, como prometido. - 3 ou 4, não lembro.

 Fiquei doente, acontece, é a vida. Aquele resfriado insuportável cujo único remédio é esperar uma semana. Quatro dias se passaram e os sintomas melhoraram, porém fiquei sem voz. Estava rouca, bem insuportável. Parecia voz de velha, mas me surpreendi quando (realmente, foi coincidência) tentei cantar "chega de saudades" e a voz não foi. Nem um sussurro horrível. Só fiquei muda, querendo cantar e não conseguindo. Não sei se foi a música, mas só imaginei como deve ter sido cinquenta anos atrás. Todos querendo cantar e não conseguindo. Acho digno se lembrar disso. Sem metáforas e poesias, só um memorando.

Tarde em Itapoã.

 Acordo dolorida. Nem teve nada demais na noite anterior, mas dormir em dois colchões de solteiro com espessuras diferentes. Mas a dor passa ao ver ela usando o meu cabelo de bombril como travesseiro. Até dormindo era a piadista. Me levanto rápido. Ela acorda.  - Aah. - Vira para o lado.   - Bom dia flor do dia.  - Aah.  Lhe tiro o edredom do rosto.   - Vamos lá, você me prometeu me levar para a feira do largo hoje.   - Ahn. E eu vou. - Boceja, com a boca ainda manchada de batom. - Mas precisa me acordar as sete horas da manhã pra isso?  Não respondo, só vejo ela se levantar e sorrio vendo-a rebolar e sorrindo, achando graça. Eu vejo beleza, ela vê piada. Os cabelos normalmente lisos estavam bagunçados. Podia passar a vida vendo ela assim. E ela veste uma de suas camisetas. Uma que nunca vi. Uma do Slayer.  - De quem é essa? - Um ex-namorado assumo, com o ciúmes nascendo de fininho.  - Minha.   - Não creio.  - Te disse que tive minha fase metaleira. - Ela ri, enq

Não gosto de formigas no meu mel.

 Hoje eu acordei no mesmo horário de sempre. Dormi bem, nada demais. Tomei banho e por algum motivo hidratei o meu cabelo e abri um hidratante novo. Tinha cheiro de Cajá e Maracujá. Foi um banho longo, depois da ducha enchi a banheira e não saí até o sol chegar ao seu zênite. Como é domingo, não me incomodei. Coloquei uma camiseta antiga de algum ex-namorado e desci para tomar café da manhã. Cortei morangos, umas ameixas e coloquei na massa da panqueca e então fui procurar pelo mel.   Entendam, apesar de simples, o dia estava perfeito. Dormi bem, recebi ligações de uma pessoa que gosto muito, me arrumei sem motivo. Tinha sol e céu azul (como muito de vocês não são de Curitiba, deixem-me explicar: isso é raro aqui) e eu planejava tocar violão durante o dia, talvez compor algumas coisas (logo eu me formo na Belas Artes) e ao crepúsculo ir a algum bar. Sair para dançar (vantagem de se estudar em uma universidade de artes, os professores entendem a ressaca. Me perdoem pelo estereotipo,

Winterime Love

 O nosso amor durou como o inverno curitibano. No meio da cidade da chapinha eu conheci a nega do cabelo duro. Aquela lá sobre quem Elis Regina cantou mesmo. Era aquilo, eu gostando de assistir televisão juntinho, ficar no bem-bom e ela me arrastando para a praia. Ela era como A Banda, todo mundo parava pra olhar e fazia as moças tristes sorrirem e a meninada se assanhar. A sorte do desespero da garota era que depois da geada tinha o céu azul limpo e o sol brilhando bonito. Eu gosto dos casacos compridos e dos vestidos de tricô. Ela gosta de biquínis com tangas.  E como o inverno curitibano, por mais sinistro e intenso que seja, acaba. Eu acho. Digo, volta o tempo todo durante a primavera e o outono (descartamos a ideia da existência de um verão). Mas imagino a surpresa dela quando resolvi me mudar para o Rio de Janeiro.

Baile de uma só.

 Uma saia rodada e uma garrafa de vinho branco gelado servem. Chinelos velhos, cabelo preso e cara lavada completam tudo. Aproveita a casa vazia e dá a festa. A viola tocando com um pandeiro no rádio e dois botões abertos na blusa. E um sambado improvisado. A noite é uma criança e o samba nem começou. Isso que dá tomar café depois da meia-noite.

Fora do ritmo

 Ao ter a liberdade de ir para casa, decidi me esconder embaixo da sua saia e nos cachos de seus cabelos. Resolvi te esperar chegar de porre nos sábados de manhã para te dar um banho e fazer café. Você dormiria enquanto eu vou pra aula, eu dormiria enquanto você trabalha e durante as noites a cama seria o nosso lugar de encontro. Teus braços, teus lábios. Minha perdição. Só descanse os seus olhos nos meus e entrelace sua coxas nas minhas. Curo tua ressaca de vodca e você a minha de amor.

Lero-Lero

 - Como foi de semana?   - Interessante, recebi um cheque meu mesmo como pagamento.  - Oi?  - Se lembra de quando eu paguei o meu dentista com um cheque porque tava sem cartão?  - Não.  - De qualquer jeito, um dia fui ao dentista e paguei com um cheque de cento e cinquenta reais.   - E daí?  - E daí que segunda feira o Igor, do trabalho me pagou uma dívida com esse mesmo cheque.   - Certeza que não era de outro?  - Absoluta. Minha letra eu conheço como a minha mulher.  - Fodeu então.   - Pare com isso, a Amanda é um doce.  - Eu sei. Mas enfim, voltando ao cheque.   - Eu perguntei pra ele como ele conseguiu aquele cheque, ele me disse que ganhou de aniversário da irmã dele. Então eu fui perguntar pra ela a origem do troço.   - Você se dá bem com a irmã dele?  - A Marisa? Nossa, ela é ótima. Tem só vinte anos mas conhece toda a Europa. Enfim, ela disse que um cliente pagou ela.  - O quê?  - Ela é mecânica. Enfim, descobri que o cliente era da mesma acad

Castelo de cartas

 Casais se beijam de noite na entrada de prédios, isso acontece o tempo todo. Adolescentes, adultos até idosos ocasionalmente. Mas são os jovens adultos que dominam esse espaço. Não têm hora pra voltar e possuem energia o suficiente para ficarem na rua até as duas da madrugada. São muito sortudos e valentes para quaisquer bandidos que tentem qualquer coisa. Todo o tempo do mundo e nada a perder. A penumbra dos semáforos que iluminam a rua assim como as placas brilhantes em lojas. Todos os diretores de cinema que se prezam roubaram pelo menos uma vez essa cena do cotidiano noturno. E como todo o cenário do mundo, existe um casal protagonista.  Cabelos bonitos presos em um rabo de cavalo, a jaqueta jeans surrada e uma regata bonita por debaixo completam o look da década de noventa. Um garoto jovem e bonito do escritório onde trabalhava antes de pedir demissão te beijando completa a cena. E um coadjuvante a tudo observa em uma SVU preta. Sente o ciúmes e a inferioridade ao ver o seu opon

Poesia de guardanapo.

 Em um boteco tentando engolir uma cerveja nem penso em pedir uma marca diferente. Concentrada demais. "Preciso de ti como garotos irritados precisam de rock 'n' roll" Que porcaria. O quarto guardanapo amassado com rascunhos atinge o chão do largo da ordem. Desisto e peço uma Malzebier de uma vez, impressionantemente conseguindo engolir a bebida escura. Duas garrafas se vão e pego a caneta de volta.  "Para você eu dedico todos os poemas de Leminski e todos os elogios de Caetano Veloso" "Me beije como se fosse a última vez, e farei com que seja somente mais uma de várias"  E a mulher briga comigo, pego os trinta guardanapos amassados com tentativas de "eu te amo" em uma forma mais bonita e boto na mesa de volta. Somente o timing pra você chegar e perguntar o que é tudo isso. Bêbada, jogo tudo em uma lata de lixo e falo que era besteira. 

Onde queres anjo, sou mulher.

 - Ela é uma ótima puta, péssima stripper.  - Ué? Não da pra ser os dois?  - Strippers são lindas de se ver, péssimas de se tocar. Perninhas secas, bunda empinadinha, seios delicados, nada com muita sustância. Agora puta? Puta é arrebentada, algumas até meio gordinhas, mas te aquecem de noite e são mulherão. Vale a pena a grana.   - Eu sou qual? - Se inclina, mostrando os peitinhos do decote.  - Não sei, é bonita, magrinha, jeitosa, dança bem, gosta de se exibir. Mas não tenho coragem de falar que você não é boa de pegar.   - Serviria pros dois?  - Talvez, mas é sacanagem falar isso. Ninguém pode servir pros dois.  - Aé? E você? O quê é?  - Sou puta. Um par de pernas grossas e quentes e acabou. Uma pena é que adoro beijar na boca. 

Ah, vamos lá, não vá.

 Ninguém notaria algo ou alguém se fosse qualquer outro horário ou qualquer outro dia, mas apesar de ser o inicio do anoitecer o trânsito e o movimento já estavam diminuindo e naquela noite de segunda feira Amanda sozinha olhava a avenida. O cozinheiro e o atendente conversavam entre si enquanto jogavam baralho enquanto ela olhava o movimento da porteira (o restaurante era mais alto que a calçada, então tinha um degrau confortável para se estar) e espera o sanduíche ficar pronto, para comer enquanto observa as pessoas passando. Difícil para os senhores que saem do trabalho não notarem os olhos maquiados ou a boca provocando. A garota flertava com quem passava, lutava por romances que logo morriam.   Terminou o sanduíche, pagou os sete reais e saiu a vagar pela rua com as luzes apagadas por causa da tempestade que teve de manhã.  - Oh, oh, oh, oh, oh, you don't have to go-o-o.  Led Zeppelin embala a garota que dança na rua deserta enquanto o semáforo está fechado na mão única

Porque vamos terminar a garrafa - me perdoe pela misericórdia.

 Coloco pijama e ligo a televisão. Deixo leite com algumas especiarias cozinhando, tento fazer um Chai  como um amigo um dia me apresentou. Tiro o sutiã (ou soutien ) e deixo um filme francês rodar enquanto me permito chorar até sentir dó de mim, sem motivo ou vontade. Só uma menina assumindo sua fragilidade. 

Não precisa me devolver a minha meia noite.

 Ia ser horário de verão, nada melhor do que poder beber para perder uma hora de nossas vidas. Um vinho caro e música nos ouvidos. A bossa nova virou algo agradável e a voz dela algo milagroso. Garota de Ipanema se transforma em Cowboy Fora da Lei que vira Hey Jude, dedos calejados e um sabor de suspiro na boca fazem a noite que se transforma em madrugada. Um ar morno com cheiro de Sálvia e Jasmim entra na sala, e quando o sol nasce, um rosto lindo como o verão me beija.

A melhor Atriz do meu Teatro

 Não sei definir o sono dela. Seria conturbado se ela não fosse tão quieta, seria feliz se eu não visse uma lágrima ocasionalmente. Quando ela me abraçava no sono, suspirava e se enrijecia; quando eu a abraçava, relaxava. Eu não sei se me importava com isso ou observá-la era apenas um hobby para quando o sono fugia, mas de qualquer modo, os fins justificam os meios.  Devo minha vida à essa menina, me salvou da sífilis. Coração partido na mão, garrafa de vinho barato na outra (não aguento cachaça ou uísque) e estando um passo de entrar em um coma alcoólico caminho para um puteiro barato. Ela, na recepção mais bonita que as prostitutas todas juntas, mas quando não se está disposto a pagar mais de cem reais. Não me lembro direito da noite, mas ela me prometeu de pé junto que eu não paguei nada pra ela, e que tudo o que foi feito ela que quis.  A dor de um amor é com outro amor que se cura, certo?  Tínhamos uma rotina preguiçosa, ela vestia as minhas camisetas como se tivesse graça