Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de 2017

Vamos terminar a garrafa - NPC

- Sabe, mesmo que você realmente seja um idiota, mesmo que eu deveras me machuque. Isso nunca vai ser minha culpa. É um defeito seu se você me machucar, e uma qualidade minha eu pular de cabeça. Nunca pedirei desculpas por correr em direção o pôr do sol. Com um sorriso sereno, ela fala isso com toda  simplicidade do mundo na mesa do bar, entendia que precisava dar essa certeza para as pessoas, a certeza de que ela compreendia que tudo era efêmero e que estava preparada para um coração partido. Antes fosse pose tudo isso, lhe facilitaria a vida. Se ela realmente pudesse se culpar, pudesse se fazer de mártir muitas de suas dores seriam justificadas. Mas não, ela tinha essa consciência de suas escolhas. Sabia diferenciar quando alguém lhe alimentava expectativas e quando ela criava elas mesmas. Tão atenta de si, mas tão atrapalhada. Oblíqua ao mundo a sua volta, nunca sabia quando estavam gostando dela e por isso nunca sabia quando magoava alguém. - Não, na realidade você foi bem cu

Estrada Revolucionária

 Já estava planejado, os convidados chegariam às 17:30, logo antes do pôr do sol na orla, onde as cortinas translúcidas fariam sua função de impedir a cegueira mas não a beleza. Na sacada haveria um sofá de vime e um balde com gelo e vinho branco e a sala de jantar estaria decorada com crisântemos vermelhos e brancos enquanto haveria um samba tocando, uma homenagem a bossa nova da zona sul; contudo ainda faltavam dez horas para o acontecimento. José já tinha levantado duas horas antes, então Marieta aproveitou os seus momentos sozinha antes da bagunça cotidiana. O quarto sempre se conservava branco e azul, mantendo algum efeito terapêutico calmante.   - Parece um valium.   Foi a reação do marido quando a decoração ficou pronta, alguns anos antes ela teria dado risada, mas décadas envelhecem o humor.  - Valium e viagra.  Ele não tinha ficado magoado com o comentário, essas leves humilhações já tinham virado um hábito dela.  Lavou o rosto e molhou alguns fios de cabelo da

Leblon Holiday

 - Está sentindo isso? Nós nesse momento somos eternos.  O sol brilhava janela afora, iluminando uma das garotas mais bonitas que eu já tinha visto. Ela sorria enquanto o cabelo loiro refletia todo o brilho que entrava no meu quartinho azul.  Todo o seu esforço para recriar a cena daquele filme adolescente era verdadeiramente adorável, e não todo em vão. Apenas uma pena que a espontaneidade estava sumindo.  Pulou para fora da cama e correu para o banho, no meio tempo eu me sentei na minha escrivaninha, abri o notebook e comecei a escrever.  Uma página e meia depois ela voltou, se sentou na mesa do lado do computador e retomou a leitura de um livro de poesia, deve ter lido o equivalente a uma estrofe antes de apoiar a perna e me interromper.  - Como és tão produtivo?  - Apenas sendo.  - Hmm, eu tento apenas ser e não consigo. - Se sentou de joelhos na mesa, frustrada, exigindo que eu desviasse meu olhar para ela.  - Tem que se livrar dos seus vícios.  - Todos eles?