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Mostrando postagens de 2013

to Orsay and Louvre

 Eu me mudei para Paris por causa dela. Claro que a cidade em si é maravilhosa, me conquistou como uma lata de sardinhas conquista um gato, mas ela era a cadela no cio que atrai os cachorros, não que ela fosse uma bitch  mas era irresistível.  A conheci num museu, não vou citar aqui o nome por questões éticas, mas era um desses grandes e famosos, lotados de turistas, garotas russas e japonesas tirando fotos com flash ao lado de Van Gogh e Monet e turistas italianos furando filas. Em uma sessão havia o nascimento de Vênus, noutra as artes decorativas; e ela no meio do caminho. A pele lisa, branca, firme e perfeita; lábios delineados por artistas e as ondas vívidas do cabelo. Ela era a minha Afrodite.   Duas vezes por semana ao mínimo eu voltava pra lá. Ser crítico de artes ajudava muito o meu trabalho, e eu tinha a sorte de sempre encontrá-la. Ficava horas a observando, a amando em silêncio, ela devia ter notado, mas se notou não demonstrou nada, só ficou impassível, neutra, linda.

que les rêves deviennent réalité

 Ela guardou as lágrimas para o trem. Chorou baixo, mas caíram lágrimas o suficiente para um rapaz notar.   - Tout va bien?  Um rapaz francês.  - Je ne parle pas français.  Ele poderia ter ficado, perguntado se falava inglês ou outra língua, ou quem sabe ainda ter sorrido e só feito companhia? Ela teria o beijado facilmente, deitado em seu colo e tido sua segunda aventura na europa; ainda bem que não o fez. A primeira aventura não tinha acabado bem. 

When you've got time

Setembro  A pele fica ressecada e os lábios rachados. A garganta se tranca com o frio e os dedos parecem que vão cair (normalmente não caem) a dor do frio é uma das piores. Ela te queima e não passa, pode pular ou mover as extremidades do corpo o quanto quiser que só piora. Um momento da vida em que você fica feliz que o lábio ressecado sangra, pois esquenta uma partícula de tecido. Antes fosse que se enrolar em cobertor fizesse efeito, mas como a malha só mantém o calor ela só te deixa vivo por mais tempo. Janeiro  Uma moeda dentro do copo me acorda (tenho sorte ou azar de ter um de metal) e vejo três reais. Almoço hoje no parque e aproveito para comprar uns cigarros, mas uma garota bonita da universidade do lado da Eufrásio me dá metade de um maço de Malboro Vermelho e me sinto como se ganhei na loteria. Pelos cigarros mesmo, já passei daquela fase em que você fica feliz com um sorriso gentil. Sentimentos não pagam e nem se quer colocam comida na sua barriga, aquela história

Anoitecer as 4 da tarde

 As mulheres de salto me intimidam, os garotos de cachecol me impressionam. Compro um moletom por cinco libras e me satisfaço. Elas me encaram, eles me ignoram. Mas por um chá sofisticado e batons fortes tudo vale a pena. Fecho os olhos e me lembro da terra dos tupiniquins, abro eles e vejo a King's Cross.

British boys don't do it better.

 Os feijões agridoces acompanham o pudding em um Pub, alguns comem isso, outros peixe frito e batatas. A chuva cai devagar enquanto o vento sopra frio como os infernos (não que essa expressão faça algum sentido). Uma garota maquiada que trabalha no bar ri da piada de algum cliente enquanto enche o copo de cerveja mordendo os lábios, compreendo ela; difícil resistir à olhos azuis. Sento sozinha bebericando alguma bebida fermentada que não é cerveja (não sei o que diabos ale  significa) e espero que minha irmã chegue no horário dessa vez, ok entendo que ela esteja noiva, mas fiquei 13 horas num avião e três num trem para visitar ela.   Ela chega três quartos de hora atrasada. Diz que sentia minha falta, nos abraçamos, conto como mamãe está (insuportável) e pedimos um chá.   - Você tem que provar o Earl Gray!   Mesmo falando em inglês ela ainda mantia aquele insuportável sotaque goiano. Olha, eu sempre fui uma garota caseira, vida mundana, ordinária. Me formei em direito, virei jui

Sobre Lulu Santos e Riffs de Guitarra.

 Charlie Brown Jr. tocando e as roupas se enfiando aos poucos na mochila. Duas calças, cinco regatas e oito calcinhas bastam. Um céu azul colaborando com tudo. Olho para a bagunça da sala; os resquícios do churrasco de despedida me suplicam por um trato, ignoro-os com a mesma frieza de um carrasco. Não ter bebido ontem a noite foi uma boa escolha, não iria aguentar a ressaca.  Já despedi de quem precisava ontem a noite, mamãe já sabe que se eu não ligar é pra ela me procurar.  Um, dois, respire fundo. Creedence Clearwater, Lynyrd Skynyrd, Dazaranha, e o que já estava no Ipod vão me guiar.  Deixo a bagunça sozinha com setenta reais para pagar a diarista, meus sapatos de salto ficam no fundo do baú (realmente tenho um baú ao invés de um guarda-roupas. São três na realidade) e volto para casa.

Valley Boy

 O gosto do cigarro que fumei essa manhã me acompanha de madrugada já. Garoa sobre os meus ombros, sobre os prédios e a rua solitária. Não me considero uma companhia muito boa.  Olho pra cima procurando alguma estrela, mas é claro a poluição não deixa. Trocamos oxigênio e constelações por arranha-céus e redes de celular. Oh deus, se soubéssemos. Me perguntaram se eu pudesse voltar no tempo o que eu faria, mataria o primeiro homem que cercou o primeiro pedaço de terra.  Pago setenta centavos num único cigarro em um boteco para perceber que ele estava úmido. Trago o negócio de qualquer jeito, acendendo ele com um garoto fumando maconha na esquina. Um ruivo de olhos azuis. Sento com ele e ele vai embora. Espero a noite passar antes de voltar para casa. Setenta e duas horas devem ser o suficiente para deixá-la preocupada.

Uma cama de pregos

 Ela se sentava na cozinha e olhava para a janela enquanto tomava o café, não sei o que reparei nela. Não foram os olhos, de uma cor normal, aquele castanho meio sem graça e os lábios ressecados. Uma expressão de que esperava algo acontecer, mas pelo pouco que já a conhecia sabia que não ia fazer nada. Ela me viu a vendo e não disse nada, encarou a xícara de café. Somente abaixou os olhos e jogou todo o cabelo para um lado. A maneira em que ela manejou o punho e segurou o cabelo me chamou a atenção, era delicada, mas firme, não deixando nenhuma madeixa cair no líquido quente.  - E então... - Começo a falar.  - Um café primeiro.  Me serve em uma xícara que tinha uma âncora desenhada enquanto tira as roupas dela do chão. E de novo reparo nos movimentos da garota, suaves e delicados. E ainda me encarava como se esperasse algo de mim. Termino o café, meio aguado. Ela se senta no meu balcão e sorri pra mim.  - Não lembra do meu nome, não é?

Ensaios de TPM

 Pior que coração partido ou que um passado mentido, uma garota de mau humor. Todos os raios de sol perdem cor, todos os doces o sabor para uma garota de mau humor. Os corações partidos retornam, os amargores voltam. Lágrimas não caem, mas berros saem. Precisava de mais! Merecia mais! Quero mais! Me deixem em paz!  Palavrões, mal educação, chingos e desespero. Estou de guerra contra o espelho (o de Machado de Assis mesmo). Música alta, grosseria, faz parte da rebeldia.  Ainda bem que um banho resolve tudo.

Os amores que a vida me deu e eu não pude viver

 Quando eu me apaixonei pela primeira vez, eu queria ser um espião e ela uma enfermeira. Nos nossos onze anos já discutíamos. Eu queria brincar que me machucava e ela cuidava de mim enquanto ela falava de como a gente faria, porque eu viajaria o mundo inteiro enquanto ela trabalharia no interior ajudando os velhinhos pobres. Crescemos um pouco, resolvi ser professor e ela começou a fazer voluntariado. Ela estudava, me perguntava onde eu ia prestar vestibular e resolvendo o nosso futuro. Eu só queria uns beijos no sofá. Ela sempre a frente, sendo Mônica e eu Eduardo. Eu disse tchau, sequei as lágrimas dela e fui embora.   Na segunda vez, eu não corri o risco. Me casei e fiz dois filhos. Melissa era um doce, fazia suspiro, bolo e feijoada. Me dava um beijo quando eu saia de casa e me recebia de tarde cheirando a perfume. Me recebia com mais carinho do que paixão na cama, era uma ótima esposa e péssima amiga. Não me deixava beber nem fumar, queria que eu corresse de manhã e comesse sal

Porque vamos terminar a garrafa. - Tipo assim Clarice Bean

 Queria ter paciência o suficiente para rodar a cidade a pé. Fôlego até que tenho, parando de vez em quando para dormir e tomar um gole de água ou suco de laranja todo mundo aguenta. Mas eu provavelmente iria começar a correr em algumas partes e me cansaria e irritaria, perdendo todo o propósito de uma peregrinagem. Estou longe de ser velha, sou criança ainda, mas uma criança preguiçosa. Me ocupo, arrumo a cozinha, danço sozinha. Pensamento viaja para onde não devia e me reprimo. Falo de ti para o espelho, conto tudo pra ele. Converso com ele, afinal não tem mais ninguém né? Ele me fala para eu ir correr, prefiro andar de bicicleta, mas essa infelizmente foi roubada. Caminhar não tem graça e estou sem fones de ouvido para ouvir música.  Realmente, sou preguiçosa.

Third time is to go.

 Se fez de dona do meu apartamento. Roubou minha camiseta e queimou o café, fez uma bagunça desgraçada. Não vi nada disso, mas conheço a dona do meu coração. Primeira vez que acordo e a vejo do meu lado. Pernas cruzadas, sorriso tranquilo me esperando despertado.  - Você aqui?  - Ué, tantas vezes que já me deitei na tua cama e ta surpreso que estou aqui?  - É a primeira vez que você fica aqui na manhã seguinte. Não tem mais ninguém hoje?  - Não seja malvado, você mesmo disse que podia. Você teve também outra moça.  - No singular, e você nem se quer se importou com o fato de eu quase me apaixonar.  - Claro que me importei. - Ela pula em cima de mim daquele jeito que pessoas de filmes fazem - Só que era segredo.  Não estava bravo. Só magoado. Faz parte não é? Uma dor aqui, outra lá, beijar outros lábios tentando esquecer. Tomo um gole do que quer que estava na sua caneca. Água.  - Ué, não fez café nem nada?  - Casa tua, suas regras.  E faço o café da manhã enquanto e

Traga-me um ramo de alecrim.

 Pouco se sabia dela. Ganhou o Camões e o Jabuti com seu romance "Lágrimas secas". Era jovem, sabia disso. Não se expunha em público, mas era bonita.   "Dizem que ela transa com todos os homens que vê" disse Marcos, da redação. Acho divertido colocarem essas coisas na minha cabeça no meu trabalho, não preciso dizer que estava nervoso, certo? Entendam que em 2013 o jornalismo estava começando a morrer, fazer perfis para jornais e revistas era quase desnecessário, mas esperança é a última que morre, certo?  Um sobradinho com jardim e flores é a residência dela. Aperto o botão do interfone.  - Quem é?   - Sou Rodrigo, vou fazer seu perfil.  - Ah, claro. - Portão destranca - A porta está aberta.   Entro e vejo dois beagles dormindo no canto, um deles me olha, vem até mim, me cheira e volta a dormir. Bato na porta e entro.  Me surpreendo com a casa, arejada e sem muita coisa. Um sofá, televisão, videogame e alguns quadros bem colocados. Tocava Rita Lee, pa

Pride (in the name of love)

 Seis e meia. O horário em que a maioria dos estudantes acorda, se moram perto do colégio (ou universidade, dependendo da faixa etária), em que os ônibus começam a lotar, as padarias a encherem e crianças (e adultos) reclamam de ter que acordar cedo. Um casal acorda no meio de toda essa bagunça. Um casal novo, sabem? Daqueles que não ta junto há muito tempo.   - Quem diria?  - Uma surpresa perfeita.   Fazem o café, com preguiça, meio cambaleando ainda. Um sorriso abobado na cara de cada um. Faz parte da vida. Ainda envergonhados da noite passada vão juntos para a faculdade, sem segurar mãos (não que fosse difícil deduzir) e não se veem até o final do dia. Roberto vai pra casa mais cedo, decidido contar para sua mãe que tinha se apaixonado por Ricardo. 

Em Curitiba, choveu num funeral.

 O doutor falou dos estágios da doença. Bah, baboseira maior não há. Uma maneira bonita de dizer se vamos demorar pra morrer ou se vai ser rápido pra bater as botas. Sabe, acho que é HIV, IVH IDH, o nome do troço que tenho. Me disseram que faz tempo isso, mas sei lá, nunca notei nada não. Lembro do doutor cheio de cerimônia antes de me contar.  - Ué? Qual o problema? Remédio caro?  - Sem cura.  E esse era o porque da cerimônia. É aquela coisa né, todos nós morremos, a questão é quando.   E eis que me vejo numa tal terapia de grupo aqui no Ahú, e olha só que eu me surpreendi. O Bóris e o Kiko estavam lá. O Bóris até que chorou, falando que não queria morrer na cadeia. Já por mim, homem que é homem não chora, ainda mais se for do sul.   - O vírus da Imunodeficiência Humana é um retrovírus que causa a falência do sistema imunitário, degenerando-o. Transmitido pela troca de fluídos, normalmente por relações sexuais sem proteção e o compartilhamento de seringas e agulhas.  

Minhas meias 7/8

 As tuas são pretas e você usa com a saia rodada, as minhas eram brancas e vestia-as com mais nada. As minhas viram somente um par de olhos, as tuas alguns vários. Você tem suas histórias, seus amantes tuas glórias, eu tenho meus pijamas e meus sonhos de cigana. Espero que os lábios que tiraram as peças de lingerie das suas pernas tenham lhe proporcionado o mesmo carinho que o meu chá de hortelã (colhido na hora), porque me diverti muito dançando sozinha em frente do espelho com vestido, sapatilhas e rendinha delicada. Espero que seus amantes tenham se divertido tanto quanto eu com o meu amor.

Veja bem, meu amor.

 Se eu pudesse fazer um desejo, seria o que de você pudesse ouvir os meus sussurros. Eu te amo e é da boca pra fora, mas isso não faz diferença já que você nem me da bola.   Me arrumo toda, coloco meu decote vermelho e passo glitter no colo e te encaro na pista de dança. Mordo os lábios e dou risada, mas você nem se quer ver nada.  Te convido prum café e pruma mousse de maracujá, você vem e me diz que prefere chá. Te chamo pro boteco e você prefere ir pra casa com a tua mãe jantar... ...   Realmente, era da boca pra fora.

Porque vamos terminar a garrafa - Nashville Teen

 Se a minha mãe soubesse que eu estou acordada a essa hora, me daria uma bronca. Mas como ela não está em casa, tudo é possível. Um chocolate quente de amêndoas com banana no estômago e uma vontade de não-dormir no peito. Normalmente seria drama, mas possuo licença poética durante as madrugadas (ainda nem se quer é quinta-feira) e então posso me conectar à sessão dos anos 60 da playlist (acabou de virar quinta-feira). O que se pode fazer? Sou muito nova pra entrar no caminho do tabaco e muito covarde para fugir de casa.

Divagações, como prometido. - 3 ou 4, não lembro.

 Fiquei doente, acontece, é a vida. Aquele resfriado insuportável cujo único remédio é esperar uma semana. Quatro dias se passaram e os sintomas melhoraram, porém fiquei sem voz. Estava rouca, bem insuportável. Parecia voz de velha, mas me surpreendi quando (realmente, foi coincidência) tentei cantar "chega de saudades" e a voz não foi. Nem um sussurro horrível. Só fiquei muda, querendo cantar e não conseguindo. Não sei se foi a música, mas só imaginei como deve ter sido cinquenta anos atrás. Todos querendo cantar e não conseguindo. Acho digno se lembrar disso. Sem metáforas e poesias, só um memorando.

Tarde em Itapoã.

 Acordo dolorida. Nem teve nada demais na noite anterior, mas dormir em dois colchões de solteiro com espessuras diferentes. Mas a dor passa ao ver ela usando o meu cabelo de bombril como travesseiro. Até dormindo era a piadista. Me levanto rápido. Ela acorda.  - Aah. - Vira para o lado.   - Bom dia flor do dia.  - Aah.  Lhe tiro o edredom do rosto.   - Vamos lá, você me prometeu me levar para a feira do largo hoje.   - Ahn. E eu vou. - Boceja, com a boca ainda manchada de batom. - Mas precisa me acordar as sete horas da manhã pra isso?  Não respondo, só vejo ela se levantar e sorrio vendo-a rebolar e sorrindo, achando graça. Eu vejo beleza, ela vê piada. Os cabelos normalmente lisos estavam bagunçados. Podia passar a vida vendo ela assim. E ela veste uma de suas camisetas. Uma que nunca vi. Uma do Slayer.  - De quem é essa? - Um ex-namorado assumo, com o ciúmes nascendo de fininho.  - Minha.   - Não creio.  - Te disse que tive minha fase metaleira. - Ela ri, enq

Não gosto de formigas no meu mel.

 Hoje eu acordei no mesmo horário de sempre. Dormi bem, nada demais. Tomei banho e por algum motivo hidratei o meu cabelo e abri um hidratante novo. Tinha cheiro de Cajá e Maracujá. Foi um banho longo, depois da ducha enchi a banheira e não saí até o sol chegar ao seu zênite. Como é domingo, não me incomodei. Coloquei uma camiseta antiga de algum ex-namorado e desci para tomar café da manhã. Cortei morangos, umas ameixas e coloquei na massa da panqueca e então fui procurar pelo mel.   Entendam, apesar de simples, o dia estava perfeito. Dormi bem, recebi ligações de uma pessoa que gosto muito, me arrumei sem motivo. Tinha sol e céu azul (como muito de vocês não são de Curitiba, deixem-me explicar: isso é raro aqui) e eu planejava tocar violão durante o dia, talvez compor algumas coisas (logo eu me formo na Belas Artes) e ao crepúsculo ir a algum bar. Sair para dançar (vantagem de se estudar em uma universidade de artes, os professores entendem a ressaca. Me perdoem pelo estereotipo,

Winterime Love

 O nosso amor durou como o inverno curitibano. No meio da cidade da chapinha eu conheci a nega do cabelo duro. Aquela lá sobre quem Elis Regina cantou mesmo. Era aquilo, eu gostando de assistir televisão juntinho, ficar no bem-bom e ela me arrastando para a praia. Ela era como A Banda, todo mundo parava pra olhar e fazia as moças tristes sorrirem e a meninada se assanhar. A sorte do desespero da garota era que depois da geada tinha o céu azul limpo e o sol brilhando bonito. Eu gosto dos casacos compridos e dos vestidos de tricô. Ela gosta de biquínis com tangas.  E como o inverno curitibano, por mais sinistro e intenso que seja, acaba. Eu acho. Digo, volta o tempo todo durante a primavera e o outono (descartamos a ideia da existência de um verão). Mas imagino a surpresa dela quando resolvi me mudar para o Rio de Janeiro.

Baile de uma só.

 Uma saia rodada e uma garrafa de vinho branco gelado servem. Chinelos velhos, cabelo preso e cara lavada completam tudo. Aproveita a casa vazia e dá a festa. A viola tocando com um pandeiro no rádio e dois botões abertos na blusa. E um sambado improvisado. A noite é uma criança e o samba nem começou. Isso que dá tomar café depois da meia-noite.

Fora do ritmo

 Ao ter a liberdade de ir para casa, decidi me esconder embaixo da sua saia e nos cachos de seus cabelos. Resolvi te esperar chegar de porre nos sábados de manhã para te dar um banho e fazer café. Você dormiria enquanto eu vou pra aula, eu dormiria enquanto você trabalha e durante as noites a cama seria o nosso lugar de encontro. Teus braços, teus lábios. Minha perdição. Só descanse os seus olhos nos meus e entrelace sua coxas nas minhas. Curo tua ressaca de vodca e você a minha de amor.

Lero-Lero

 - Como foi de semana?   - Interessante, recebi um cheque meu mesmo como pagamento.  - Oi?  - Se lembra de quando eu paguei o meu dentista com um cheque porque tava sem cartão?  - Não.  - De qualquer jeito, um dia fui ao dentista e paguei com um cheque de cento e cinquenta reais.   - E daí?  - E daí que segunda feira o Igor, do trabalho me pagou uma dívida com esse mesmo cheque.   - Certeza que não era de outro?  - Absoluta. Minha letra eu conheço como a minha mulher.  - Fodeu então.   - Pare com isso, a Amanda é um doce.  - Eu sei. Mas enfim, voltando ao cheque.   - Eu perguntei pra ele como ele conseguiu aquele cheque, ele me disse que ganhou de aniversário da irmã dele. Então eu fui perguntar pra ela a origem do troço.   - Você se dá bem com a irmã dele?  - A Marisa? Nossa, ela é ótima. Tem só vinte anos mas conhece toda a Europa. Enfim, ela disse que um cliente pagou ela.  - O quê?  - Ela é mecânica. Enfim, descobri que o cliente era da mesma acad

Castelo de cartas

 Casais se beijam de noite na entrada de prédios, isso acontece o tempo todo. Adolescentes, adultos até idosos ocasionalmente. Mas são os jovens adultos que dominam esse espaço. Não têm hora pra voltar e possuem energia o suficiente para ficarem na rua até as duas da madrugada. São muito sortudos e valentes para quaisquer bandidos que tentem qualquer coisa. Todo o tempo do mundo e nada a perder. A penumbra dos semáforos que iluminam a rua assim como as placas brilhantes em lojas. Todos os diretores de cinema que se prezam roubaram pelo menos uma vez essa cena do cotidiano noturno. E como todo o cenário do mundo, existe um casal protagonista.  Cabelos bonitos presos em um rabo de cavalo, a jaqueta jeans surrada e uma regata bonita por debaixo completam o look da década de noventa. Um garoto jovem e bonito do escritório onde trabalhava antes de pedir demissão te beijando completa a cena. E um coadjuvante a tudo observa em uma SVU preta. Sente o ciúmes e a inferioridade ao ver o seu opon

Poesia de guardanapo.

 Em um boteco tentando engolir uma cerveja nem penso em pedir uma marca diferente. Concentrada demais. "Preciso de ti como garotos irritados precisam de rock 'n' roll" Que porcaria. O quarto guardanapo amassado com rascunhos atinge o chão do largo da ordem. Desisto e peço uma Malzebier de uma vez, impressionantemente conseguindo engolir a bebida escura. Duas garrafas se vão e pego a caneta de volta.  "Para você eu dedico todos os poemas de Leminski e todos os elogios de Caetano Veloso" "Me beije como se fosse a última vez, e farei com que seja somente mais uma de várias"  E a mulher briga comigo, pego os trinta guardanapos amassados com tentativas de "eu te amo" em uma forma mais bonita e boto na mesa de volta. Somente o timing pra você chegar e perguntar o que é tudo isso. Bêbada, jogo tudo em uma lata de lixo e falo que era besteira. 

Onde queres anjo, sou mulher.

 - Ela é uma ótima puta, péssima stripper.  - Ué? Não da pra ser os dois?  - Strippers são lindas de se ver, péssimas de se tocar. Perninhas secas, bunda empinadinha, seios delicados, nada com muita sustância. Agora puta? Puta é arrebentada, algumas até meio gordinhas, mas te aquecem de noite e são mulherão. Vale a pena a grana.   - Eu sou qual? - Se inclina, mostrando os peitinhos do decote.  - Não sei, é bonita, magrinha, jeitosa, dança bem, gosta de se exibir. Mas não tenho coragem de falar que você não é boa de pegar.   - Serviria pros dois?  - Talvez, mas é sacanagem falar isso. Ninguém pode servir pros dois.  - Aé? E você? O quê é?  - Sou puta. Um par de pernas grossas e quentes e acabou. Uma pena é que adoro beijar na boca. 

Ah, vamos lá, não vá.

 Ninguém notaria algo ou alguém se fosse qualquer outro horário ou qualquer outro dia, mas apesar de ser o inicio do anoitecer o trânsito e o movimento já estavam diminuindo e naquela noite de segunda feira Amanda sozinha olhava a avenida. O cozinheiro e o atendente conversavam entre si enquanto jogavam baralho enquanto ela olhava o movimento da porteira (o restaurante era mais alto que a calçada, então tinha um degrau confortável para se estar) e espera o sanduíche ficar pronto, para comer enquanto observa as pessoas passando. Difícil para os senhores que saem do trabalho não notarem os olhos maquiados ou a boca provocando. A garota flertava com quem passava, lutava por romances que logo morriam.   Terminou o sanduíche, pagou os sete reais e saiu a vagar pela rua com as luzes apagadas por causa da tempestade que teve de manhã.  - Oh, oh, oh, oh, oh, you don't have to go-o-o.  Led Zeppelin embala a garota que dança na rua deserta enquanto o semáforo está fechado na mão única

Porque vamos terminar a garrafa - me perdoe pela misericórdia.

 Coloco pijama e ligo a televisão. Deixo leite com algumas especiarias cozinhando, tento fazer um Chai  como um amigo um dia me apresentou. Tiro o sutiã (ou soutien ) e deixo um filme francês rodar enquanto me permito chorar até sentir dó de mim, sem motivo ou vontade. Só uma menina assumindo sua fragilidade. 

Não precisa me devolver a minha meia noite.

 Ia ser horário de verão, nada melhor do que poder beber para perder uma hora de nossas vidas. Um vinho caro e música nos ouvidos. A bossa nova virou algo agradável e a voz dela algo milagroso. Garota de Ipanema se transforma em Cowboy Fora da Lei que vira Hey Jude, dedos calejados e um sabor de suspiro na boca fazem a noite que se transforma em madrugada. Um ar morno com cheiro de Sálvia e Jasmim entra na sala, e quando o sol nasce, um rosto lindo como o verão me beija.

A melhor Atriz do meu Teatro

 Não sei definir o sono dela. Seria conturbado se ela não fosse tão quieta, seria feliz se eu não visse uma lágrima ocasionalmente. Quando ela me abraçava no sono, suspirava e se enrijecia; quando eu a abraçava, relaxava. Eu não sei se me importava com isso ou observá-la era apenas um hobby para quando o sono fugia, mas de qualquer modo, os fins justificam os meios.  Devo minha vida à essa menina, me salvou da sífilis. Coração partido na mão, garrafa de vinho barato na outra (não aguento cachaça ou uísque) e estando um passo de entrar em um coma alcoólico caminho para um puteiro barato. Ela, na recepção mais bonita que as prostitutas todas juntas, mas quando não se está disposto a pagar mais de cem reais. Não me lembro direito da noite, mas ela me prometeu de pé junto que eu não paguei nada pra ela, e que tudo o que foi feito ela que quis.  A dor de um amor é com outro amor que se cura, certo?  Tínhamos uma rotina preguiçosa, ela vestia as minhas camisetas como se tivesse graça

Day is Done

 - Pensei que você não ia se sujar fumando apenas um cigarro.  - Por isso mesmo estou no terceiro. Mas relaxe, prometo não borrar o meu batom.  - Pare com isso, não faz bem.  - Um ano e meio você tentando me convencer disso, ainda não conseguiu.  - O quê falta então?  - Não sei, um movimento literário decente para acompanhar.  - Odeia tanto Bukowski e ainda assim segue os passos do velho tarado.  - Olha, não é da minha geração e não vou fingir que é, se fosse bem escrito ou algo natural tudo bem, mas todos eles, Kerouac, Bukowski, tudo a mesma coisa. Bando de vendidos, se eu quiser ler algo que preste sobre liberdade, leria Gabeiros. Brasileiro e bem escrito. Mas não sou nenhum deles. Tenho só tatuagens de memórias gravadas no meu braço.  - Se arrepende delas?  - Só da de caveira. Gosto da cereja com um pavio.  - Cherry Bomb. Já passou a moda de ser roqueira?  - Nunca, só percebi que é babaquice usar preto até os dentes, gosto de flores.  - Quem sabe você lance

Os beijos nunca conhecem o que os lábios vão dizer.

 Em um bar, ela de saia justa e camisa mais ainda só me passa um guardanapo com uma marca de batom e oito números escritos. Um sorriso por cima do ombro e por debaixo da franja vira um convite para algo que nunca vi, pensei que esse charme tinha morrido junto com o nascimento da internet. Eu nunca teria reparado nela se ela não tivesse se mostrado, admito. Era só mais uma. Eu não notaria seus cabelos ondulados ou seus lábios pintados, mas ela me notou (o quê ela notou não importa), isso basta.  Disco os números em meu celular e ligo. Ouço uma voz que deveria ser aguda porém está rouca por cigarros e vejo ela atendendo fora da danceteria.  - Alô? Quem é?  - Deu o seu número para outros desconhecidos?  - Não, mas ainda não sei o seu nome.   - Nicolas. Vinte e um anos.  - Ah, uma criança.  - E você?   - Dezesseis. - Ela sussurra em meu ouvido, marcando minha orelha com batom carmim.   Ela não vai para a minha cama naquela noite, me exige um primeiro encontro antes. Com

Que tal crescer de verdade?

Seu único luxo eram seus cigarros de marca, ninguém sabia como eles surgiam, mas já que ele dividia ninguém questionava. Conheci Humberto quando procurava por um quarto no apartamento, ele tinha acabado de entrar na federal, fazia psicologia e eu era de Engenharia Civil, porém logo voei para economia, meus pais não reclamaram pelo menos, dá emprego tudo igual.             Eu estudava no mesmo turno que ele, só que ele estava dois semestres na frente, toda quarta-feira bebíamos cerveja antes de ir pra casa, era mais barato que nas sextas feiras e não tínhamos aulas quinta de manhã. Humberto era preguiçoso, camarada, revolucionário, porém lazarento como somente ele conseguia. Era um caos, se eu quisesse levar uma garota para casa tinha que chegar duas horas mais cedo e às vezes chegava ao ponto de raspar com uma espátula a sujeira das paredes. A sorte dele eram as garotas que o chamavam pra ir pra casa dele, eu insistia em sustentar um resquício de cavalheirismo. Ele era mais inteli

Beijando o sapo encantado (?)

 Quando criança, sonhei por um. Queria à todos os custos. E por ele eu seguiria o figurino, colocaria salto no dia-dia, maquiagem e acordaria cedo pra fazer o cabelo; não falaria palavrão, seria educada e teria o meu príncipe encantado.  E então você cresce. Aprende que não depende de homem, que pode andar descalça e descabelada e falar alto, que você pode e deve gritar. Que sua aparência não importa tanto assim e que realmente, existe algo chamado conteúdo. E começa a se apaixonar por outros garotos além do príncipe; como o garoto foragido que te leva para o mundo ou quem te mostra a primeira garrafa de vodca. Mas nada disso importa, nenhum deles te dará rosas. Então virar o príncipe si mesma, parece uma boa ideia.

Evento formal feito para leiloar suas filhas

 Eu nunca tinha ido para um baile e ela sabia disso. Era a minha primeira vez com tudo, o smoking, os sapatos desconfortáveis e a expectativa de ver ela de salto e vestido. Me apaixonei por uma garota que usa moletons surrados e tênis velhos que um dia resolve me dizer que adora bailes. Ela ia debutar, com vestido branco, discurso e exibição de fotos em um clube refinado da cidade. Uma festa que prometia durar até o amanhecer e eu lá, quem nem se quer estava acostumado a ter mais de quinze reais no bolso velho da calça estava sentado na mesa esperando para que ela fosse anunciada. Tinha uma dúzia de garotas, algumas mais bonitas que ela reconheço, mas já estava ficando ansioso. A gravata era como uma mini forca.  Claro que ela tinha que entrar por último, e é claro que para mim foi a mais linda. Ela brilhava com tanta maquiagem, tanta purpurina e tanta luz e com um garoto muito mais bonito do que eu como o escort  dela. E, não sei se era toda a situação medieval de expor as garotas

Depois da meia noite.

 Os olhos arregalados sem piscar para o computador, as olheiras, os cabelos presos da maneira que menos a favorece. O cobertor que se cobria provavelmente já fedendo de suor e lá estava ela,quase caindo no teclado. Deixo um copo de suco e faço o que é possível, a abraço.  - Não preciso de abraços agora e muito menos de suco de maracujá, tenho que terminar isso.   Lhe beijo a testa e vou pra cozinha e coloco a água pra esquentar. O café no filtro e às duas da manhã está pronto. Deixo uma xícara do lado do computador, com pouco açúcar.  - Está aguado.   - Libera mais cafeína assim.  E ela me olha, com aquele olhar que sempre fez. Pediu desculpas sem abrir os lábios e eu a disse que a amava sem abrir os meus. Caí no sono em uma poltrona do outro lado da sala a vendo trabalhar. Sorte minha que um beijo foi o meu despertar. 

Porque vamos terminar a garrafa - Não foi dessa vez, só tenho 16

 Eu juro que se eu pudesse pulava num avião contigo e ia para as praias no Piauí, pegava um táxi e me enfiava em suas cobertas de noite. Te levava para a praia e acampávamos em uma barraca na Ilha do Mel fumando maconha. Quebraremos as leis e nos refugiaremos no México. Quem sabe eu até arranje um emprego como atendente de lanchonete? Desse jeito posso te dar um futuro Bukowskiano quem sabe.

Troco flores por um sorriso torto (teu).

 - Onde estava? - Para de tocar Here Comes The Sun para começar a tocar Strawberry Fields Forever.    - Trabalhando oras, você sabe que fico até mais tarde nas sextas feiras.  - Está sem calcinha? - Larga o violão.  - Estou, era uma despedida de solteiro.  - Você me prometeu...  - Não é porque eu me despi completamente que quer dizer que coisas a mais aconteceram querida, você sabe que sou sua.   - Não gosto de que os outros brinquem com os meus brinquedos. - Amanda beija o ventre de sofia.  - Agora sou só seu brinquedinho? Cade o seu feminismo agora?   - Admito a minha hipocrisia. E você? Assume a sua? - Um shorts de couro cai no chão.  - Admito que gosto de provocar outros, mas assumo que só quero você. - Ela deita sua amada no chão.  - Vamos lá, você que queria um amor digno de Cazuza.   - Quero a sorte de um amor tranquilo... Com sabor de fruta mordida. - Suspira.  - Você sabe não é? Eu sou a fruta mordida, aprendeu a metáfora.  - E a minha tranquilidade.

Com todas as regalias - 4

 Francisco.  Sua preocupação me lisonjeia, porém me frustra em certo aspecto querido. Pedi com carinho para que seguisse em frente, entenda que eu o segui. Penso em ti todos os dias e nos seus filhos que como queria que fossem meus. Acho que gostaria de saber que tive um, tem dois meses agora. O nome dele é Adriano, o pai dele é francês, foi concebido na minha estréia, lembra-se? Você não estava lá e eu precisava de alguém. É maldade te fazer isso? Sim, mas também é maldade tua me retratar daquela maneira em seus livros. Perdão, mas não é toda garota russa que é vulgar. E realmente, a história foi boa, mas não gostei desse seu estilo de escrita. Você é poeta, não chulo. E sim, desenvolvi português fluente, não graças à você. Ainda beijo seu retrato, ainda sussurro teu nome no banho, mas a boca fica amarga quando isso acontece. Você sabe que nunca conseguirei te odiar. Espero que esteja barrigudo, porém feliz. Você merece a felicidade. Te quero longe de mim.  Sua Nina. 12/05/2001

Porque vamos terminar a garrafa - Amanhã é dia 23

 Uma cama sem lençol repleta de pequenos pedregulhos e pedaços de teto é a decoração do aposento. Uma atriz de Pulp Fiction cantando Chico Buarque me passa na mente e coloco uma camisa grande o suficiente para chegar às minhas coxas. Conto as estrelas e me sinto num filme, me deito na sujeira logo antes do banho e sinto o cheiro de reboco no lugar, logo logo eu troco de quarto e as agonias que passei aqui vão comigo, não nos esquecemos dos temores da pré adolescência tão rápido (se bem que ainda acho que tô na infância), os livros recheados de romantismo e o terror de um mundo novo. Será que cresci nesses seis anos nesse quarto? Ou só nos últimos três pelo menos? Tive um coração partido, unhas roídas, notas baixas, notas altas, livros empoeirados e cartas guardadas com carinho. O que falta?  Roupa bagunçada tem, travesseiro manchado de rímel borrado também. Vestido bonito mal cuidado com certeza. Maquiagem estragando. E ainda assim tô com os dois pés atrás pra sair desse quarto pequen

Blasé

 Camisa branca e calcinha negra em uma varanda na chuva, escolha imprudente por mil e um motivos, morar no coração da Riachuelo era apenas um. Acaba de acordar e já está maquiada, se apoia nos cotovelos e remexe os quadris, fuma um cigarro e escolhe alguns vinis. Quem liga para as críticas ou as décadas passadas? Isso renderá uma boa pose.

Nunca vou ser Leminski.

"Não precisa morrer de verdade pra morrer por amor" - Me aquece essa sensação única inexplicável,  que dure mais que o último namorado. "I'm falling in love for the first time, don't you know is gonna last? Last forever..." "Amar é se apaixonar pela rotina.  Adorar a sua cara amassada e os seus cabelos lisos bagunçados quando acorda" Me interromper só vale se for com beijo.

Não é linda, somente bonita.

 Alguns vários idosos decoram a praça, uma cafeteria na frente e uns maconheiros alguns metros longe. Ela esconde os cigarros na bolsa e sorri. Ele a elogia, ela não entende e se sentam num banco, tempo suficiente para um beijo ser roubado e um suspiro arrancado. Um sentimento juvenil que havia morrido se renasce. Uma mão boba perdida, uma terceira se localizando e a oitava lá se estabelecendo. Um lábio manchado e uma nuca acariciada são resultados de uma tarde passada em um banco. Hora de ir embora chega, ele não a quer deixar ir e ela não quer abandoná-lo. Mas sabemos que ninguém pode se permitir a sentir algo, fingir isso pelo menos. 

Sob um céu sem estrelas

 Me ensine a fazer composições, me abrace por trás enquanto ajeita o violino em meu pescoço. Ou aperte meu diafragma para eu atingir as notas, me faça atingi-las; seja meu tutor nesse novo mundo assustador e acolhedor. Toque musica, toque-me. Algumas velas são o suficiente. Se por algum acaso o meu batom borrar durante o treino, te prometo que ninguém mais verá a performance.

Coisas que eu sei.

 O toque da música da abertura do Shrek me acorda, ainda estava escuro mas como tinha acabado de mudar pro horário de inverno não me incomodei, a raiva veio foi quando eu percebi que era três da manhã ainda.  - Alô? - Bocejo, murmuro, reclamo ao mesmo tempo.  - Se eu morresse agora, viraria uma mártir?   - Ahn? Roberta? Que diabos você quer?  - Vamos lá, arranjei um revolver. - Ela tira a trava pra fazer o som. - Sua resposta muda tudo. Vamos lá, sente minha falta? Se eu morresse agora viraria uma mártir?  Ela me vem com esse papo depois de meses de sadismo e loucura, depois de arruinar a minha vida começa com drama. Às três horas da manhã!  - Vai se ferrar. Arranja uma vida, um emprego.   - Responde.  - Não, porra, terminamos por um motivo.  Ela atira. Meu mundo para. O desespero brota na minha mente.  E só ouço a risada dela no outro lado da linha.

Porque vamos terminar a garrafa - Qual o porquê de beber sozinha?

 Eu gostaria de viver em um mundo colorido, se me perguntassem. Apesar do frio ter a sua dose de beleza, ele pertence à noite. Noites frias com companhia e dias quentes e tranquilos sozinha, sozinha é diferente de solitária, mantenham isso consigo. Aquelas coisas bonitas e bobas, estética de filme francês com atores italianos; afinal gosto de pessoas que saibam se expressar. Também gosto de carinho, chocolate e mar. Pessoas que toquem violão melhor do que eu e que me ensinem coisas novas. Mas não que saibam tudo sobre tudo porque também gosto de ser inteligente.  Alguém que me chame de "meu bem" enquanto me roça a nuca. Músicas românticas são boas, toque algumas. Não faço questão de um castelo, um apartamento ajeitado com lugar para colocar flores está ótimo já. Algumas amigas para tomar uma piña colada de vez em quando (não bebo cerveja), ou um Mojito.  Gosto de canções de ninar e bebidas doces e quentes. Não preciso de frio para tomar um cappuccino, existe ar condicionado

Vamos bater um papo um dia desses.

 - Eu te odeio.  - Somos duas.  Tira um maço de cigarro da bolsa, acende.  - Que diabos você está fazendo? - Arranca o cigarro da boca dela. - Quer morrer?  - Pensei que não se importasse, você não devia de qualquer jeito. - Acende mais um.  Uma arranca o maço da mão da outra e joga no ralo do esgoto, mas deixa ela fumar aquele.  - Tinha que te chamar a atenção de alguma maneira, sabe, foi como atirar no escuro, nunca soube se você estava prestando atenção. Foi a minha mãe que te ligou?  - Tua irmã.  - Me lembre de agradecer ela depois, afinal tu ta falando comigo. Mas ela revelou a minha humilhação. O que deverei fazer com ela?  - Me fala que tipo de merda tu ta usando.  - Nada demais. O de praxe.  Um tapa marca a cara.  - Típico, certo? Relaxa, agora que sabe o que me fez, pode ir embora de ego massageado.

Seu balão do bob esponja

 Morena, descansa em meu pobre peito porque a música a seguir é muito bonitinha. Tu é um poço de bondade e para ti a banda devia passar, cantando coisas de amor. Tão coitada e tão singela, cativara o forasteiro. Mas a minha estrada logo na saída entortou. Não duvido que vários homens te amaram bem mais e melhor do que eu, porém a minha porta está sempre aberta. Mas me diga como partir, se já joguei tudo fora, e fiz mil e um desvarios. No tempo da maldade nem tínhamos nascido. E agora lhe digo que sem ti não pode ser, já que tu é meu doce predileto.

Maldita Capitu.

 - Sim, doeu. Relaxa, não tenho problemas em falar se a ideia te agrada tanto. - Ela pega um cigarro e olha sugestivamente pro isqueiro em cima da mesa.  - Já passaram esses tempos garota.  - Eu sei.  Ela começa o processo metódico de acender o cigarro. Prender com os dentes, depois segurar com os lábios e só então colocar a chama no veneno entubado. Não estava com nenhum de seus batons, era estranho. Não era tão enigmática sem maquiagem, mas continuava bonita. Descruza e cruza as pernas, se apoiando em outro lado do corpo. O ritual acaba.  - Quero meus sutiãs de volta.  - E eu minhas camisas.  - Esquece, não me deu presente de aniversário.  - Esqueça seus sutiãs.  - Vai fazer o quê? Emprestar para as putas que contratar?  Jogo a sacola com as tralhas dela na mesa. Derrubo a xícara de café expresso. Ela dá uma olhada, e sorri para mim, satisfeita e cínica.  - Até os lubrificantes você devolveu. Que meigo.  Ela tira uma caixa de madeira pesada da bolsa. Uns papéis estavam lá

Segura que eu corro.

 - Toma mais um trago.  - Depois te pago.  - Mas qual! Relaxa. Me conte.  - Sabe, tinha me dado melhor com a Beatriz.  - Você disse o mesmo dela com a Amanda.  - Mas dessa vez é sério. Antes preguiçoso do que corno.  - Mais um trago.  - Assim não consigo voltar pra casa.  - E lembrar de nada, te dou carona.  - E a Marina?  - Faz uns seis meses que terminamos.  - Oras, quanto tempo que não te vejo?  - Mais de um ano.  - Como pode né?  - Como pode.  - Lembra quando a gente dormia um na casa do outro porque tinha muito pouco tempo pra brincar?  - É, acho que se fica velho quando sobra o tempo.  - Talvez.  Pedem uma porção de polenta frita e a conta pro garçom, também dois copos de coca cola pra cada um. Ricardo nem se quer consegue se levantar direito. Mas isso não importava muito, o importante era fazer questão que ele dormisse de lado. Pegou o carro e jogou o colega no sofá de casa.  - O que somos nós Marcos? - Chora o amigo. - Meia idade e nem se quer casados.  - Eu

Os gigantes são moinhos de vento

Era previsível. Uma garota de classe média esperando para que algo acontecesse não que ela estivesse disposta a fazer algo para que isso acontecesse e eu como apenas mais um rapaz me apaixono, trinta anos na cara e podia já estar procurando uma mulher, mas como diz meu tio “só fica com mulher mais nova quem não tem capacidade de arranjar uma da sua idade” estava certo o velho diabo bêbado no fim das contas. Contentava-me em dois empregos de meio período, um em uma cafeteria e o outro num boteco. Porque em pleno século vinte e um ainda pretendo ser escritor, nunca publiquei nada e provavelmente nunca irei, mas tenho três cadernos repletos de rascunhos. Desses três, um inteiro era pra ela. Nunca a deixei ler, mas provavelmente a danada já tinha bisbilhotado, tanto que quando terminou comigo fez referencias maldosas sobre coisas que passamos. Não sei se era porque tinha uma memoria decente ou porque realmente havia lido, mas qual! Sou cismado.  Conhecemo-nos quando eu estava procuran