Boca com gosto de bala. Sempre com jujubas na mão. Perfume de doce no cabelo. Fazia tudo isso, e depois reclamava do peso. Cabelos bagunçados o suficiente para ser difícil de passar a mão neles. Cabeça jogada para trás com o tédio. Nunca soube mais o quê falar com ela desde sua mudança. Não chego a sentir falta dela, somente quando ela está por perto. - E a vida como jornalista? - Vai bem. - Ela boceja. - Mas estou me dando melhor com literatura. Vendi três contos essa semana. - Três anos atrás, você diria que não se vende cultura. - Três anos atrás, eu não tinha que me sustentar. Acendo um cigarro, ofereço pra ela, ela diz que não, e pega um pirulito. - E o namoro? - Brigamos o tempo todo. Estamos ótimos. - Como brigar é bom? - Não estamos na fase de contentamento. Ainda nos importamos para melhorar. - E ela sorriu. Não sei porque, gostei dela sorrindo. - Sei lá. Não namoro mais. - Terminaram? - Não, nunca mais quero ter uma namorada. - Por quê? - Ciúmes.