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Mostrando postagens de março, 2013

Boca de Sabores

 Boca com gosto de bala. Sempre com jujubas na mão. Perfume de doce no cabelo. Fazia tudo isso, e depois reclamava do peso.  Cabelos bagunçados o suficiente para ser difícil de passar a mão neles. Cabeça jogada para trás com o tédio. Nunca soube mais o quê falar com ela desde sua mudança. Não chego a sentir falta dela, somente quando ela está por perto.  - E a vida como jornalista?  - Vai bem. - Ela boceja. - Mas estou me dando melhor com literatura. Vendi três contos essa semana.  - Três anos atrás, você diria que não se vende cultura.  - Três anos atrás, eu não tinha que me sustentar.  Acendo um cigarro, ofereço pra ela, ela diz que não, e pega um pirulito.  - E o namoro?  - Brigamos o tempo todo. Estamos ótimos.  - Como brigar é bom?  - Não estamos na fase de contentamento. Ainda nos importamos para melhorar. - E ela sorriu. Não sei porque, gostei dela sorrindo.  - Sei lá. Não namoro mais.  - Terminaram?  - Não, nunca mais quero ter uma namorada.  - Por quê?  - Ciúmes.

A pieguice aceitável. O clichê inacabável.

 Todos os dias em que me abraçar  Me lembrarei do que o fez.  O contrato assinado, seu sorriso acabado.   Mas venha, me acompanhe sob a meia luz do baile.  Somente mais uma noite, e pelo resto de nossas vidas, que isso se repita.  Algum dia, perderei minha forma. E em algumas décadas,  A lucidez.   Em um momento, aparecerá uma moça formosa,  para você me trocar.   Mas, em outro dia. Você virá a tua criança se formar.  Sorrio agora, por tu não gostar de Kerouac.  E um Jorge Amado contigo partilhar.   Agora, voltamos para o Sul. Onde o frio nos aquece.  Onde posso justificar tua saudades.  Onde você não pode fugir.  E onde a vodca é cara. 

Você é assim, um sonho pra mim

 Nem andar direito o fazia. Um pé para direita. O outro ia para a direita junto. Não conseguia se manter no meio-fio. A franja cortada por ela mesma, ficava torta sobre os olhos; o quê fazia que ela a tirasse de cinco em cinco segundos. A sandália quase arrebentando e os cabelos tão emaranhados que somente um banho iria tirá-los.   Não passava de 90 cm de altura, e se sentia a maior mulher do mundo; quem sabe ela fosse.   Um vestido manchado era só o que ela usava. Todos os dias ter que lavá-lo. Tinha o travesseiro dela, e a mamadeira. Não entreguei para ela naquela noite. Tomou seu leite com chocolate em um copo. E então seus olhos, sob a franja, caíram. Uma lágrima brotou. Mas ela não a deixou cair. Tomou todo o leite e me agradeceu. Falou que estava bom. Se deitou sob o colchão. Então, ajeitei sua cabeça no travesseiro. Ninguém precisa crescer tudo de uma vez. 

Porque vamos terminar a garrafa - Velho amigo, bom revê-lo.

- Você foi a paixão da minha infância. A principal pelo menos. A única que durou mais de seis meses. - E ainda assim, quando tivemos a chance de darmos certo, você desistiu. - Não desisti. Você me magoou. Não iria pedir desculpas por algo que não fiz. - Bem, isso é uma pena. - Por quê? - Eu fui tua paixão de infância, você a da minha vida.

Always will be heroes in our minds.

 O cabelo rubro brilhante. A boca comprida e carnuda. Os olhos para baixo. Ela nunca olhava para trás quando passava por aquele bairro. Aquelas ruas. Tinha medo de olhar para trás. Tinha medo do escuro. E tinha motivos para isso, afinal, qual criatura racional não o temeria?    "Se eu pular, será que morro?" pensava o garoto enquanto atravessava o viaduto. Um viaduto longo, dois quilômetros de comprimento. Mas nunca deu a volta.  Sempre gostou de pontes. O frio na barriga de olhar para baixo,  a falta de vontade de chegar em casa. Tudo isso moldado pelo rapaz  que foi criado em prédios com piscina. Foi uma longa caminhada, mas já estava acostumada com o salto. Sua calça jeans rasgada deixava o vento frio da madrugada entrar em suas pernas. O sobretudo já não era mais o suficiente para mantê-la aquecida às 3 horas da manhã. Não é um pedaço de lã que irá aquece-lá. Não depois dele.    Sem nenhum motivo, não foi para casa. Deu meia volta e foi até o centro da cidade.

A Ilusão das músicas antigas com o sonho perdido

 O sonho da beleza está em seus olhos. Você, ó garota, sonha com a fantasia. A máquina fotográfica na mão e o entorpecente no bolso. Um sorriso perdido e apagado em seu rosto.  O mendigo chorando lhe chama a atenção, mas o garoto fumando na esquina não. Seu cotidiano não é ordinário, apesar de não ter nada demais.  A cocaína, bebidas, gírias e festas. O sonho de todos é fazer o que faz. O seu é não fazer o que faz. Não ter que precisar. Claro que tentar se esquecer do coração partido não tem relação com todo esse escape.  Ama à todos como uma pagã. Não tem uma roupa que não esteja estragada. Mas nenhum rasgo em suas meias e ligas irão disfarçar o borrado de seus olhos.

Não sei pra quê outra história de amor a essa hora. Então um ode paratua desconstrução.

E é sob a chuva imutável de Curitiba que você percebe o que vale a pena. Seja inverno, verão ou o nosso eterno outono. A chuva fraca, rala e gélida esta lá. E é sob ela que você vê. Uma pena que suas gotas não são maiores, para disfarçar as lágrimas. Uma pena que ela não é mais fina, para os bêbados não escorregarem nas lágrimas da cidade. Mas, de novo. Ela é imutável. É o motivo dos curitibanos serem frios. E as mulheres mais ainda. Os sorrisos pontuais e as bocas de hortelã são o traje a rigor para o baile do Largo. Tanto os Punks quanto os Junkies se sentam e choram sobre a impassibilidade do clima. Todas as garotas sorriem e limpam a maquiagem borrada. Homens se apaixonam por garotas, garotas brincam com garotos. Garotos choram por garotas. Em algum lugar tem uma mãe preocupada, vendo se a filha irá aparecer sóbria em casa dessa vez. E em outro bairro existe um homem pensando na amante, passando a saudade nos lençóis de algodão frios. E é por isso que todos amam essa cidade, ela

Porque vamos terminar a garrafa - Para um amigo.

- Você mudou nesse ano. - Sim, pintei meu cabelo. - Não me refiro à isso. Você começou a escrever, virou uma garota comprometida. - Pois é, a fila anda. - Ele te faz feliz? - Mais do que achei possível. - É uma pena... Sinto sua falta. Senti muita a sua falta. - Sabe, a culpa foi sua. Eu avisei que não ia correr mais atrás, corri desde a quinta série. - Eu sou burro, fazer o quê. - Nunca imaginei que você assumiria isso.

Alright, Bring her home tonight.

 - Quantos invernos passamos?  - Invernos reais, ou curitibanos?   - Curitibanos.   - Estamos no terceiro ou no quarto, por quê?  - Muita coisa aconteceu em meio ano.   - Sim... Levou dois invernos pra você me dizer que me amava.  - Você disse primeiro.   - Eu disse... - Ela sorri. - Perdi o jogo. E as máscaras.   - A piada está velha.   - Eu também, provavelmente.   - Claro, 15 anos são sinônimos de velhice.   - Ah, são sinônimos de drama e frases feitas. Mesma coisa.   - Não, você espera que idosos sejam ao menos simpáticos. Ou rabugentos.  - E você? O quê espera de mim?  - Honestamente? Algo entre uma agonia e um beijo. 

Nem vou lhe beijar, gastando assim o meu batom.

Quem já se apaixonou, irá concordar comigo e com Forrest Gump. Ser um idiota não é nenhuma caixa de chocolates. Todos ficamos idiotas quando amamos. E como não ficar? E mais ainda, como não ficar por ela? O vestido ajustado. Cabelos presos. Nunca gostei de loiras, mas essa menina era a junção entre Monroe e Kidman. Linda, estonteante. O vestido rosa combinava com seus brincos que combinavam com seus sapatos, que por sua vez eram da mesma cor que sua lingerie, sendo que esta, por si, ficava melhor no chão. Mas de novo, ser um idiota não é nenhuma caixa de chocolates. A beleza e alegria se apagam com a mesma facilidade com o filme quando acaba. Tem os créditos; a trilha sonora bela e suave, te lembrando dos melhores momentos do cinema. Os nomes dos atores, fazendo com que a imagem de cada um deles apareça em seu cérebro. Mas no fim, a tela se apaga gradualmente, deixando somente a sensação de abandono e desconsolo de ter que voltar para a vida real depois do filme. Contudo, quand

If I close my eyes tonight, will I feel the beauty of your lips?

 É mais que fácil ver o quê você quer dizer. Mas nunca o que você diz. Sorte tua que não tenho problemas de interpretação. Mas será que machucaria tanto, eu me fazer de tola (tantas vezes já chamada por ti), e não ver as entrelinhas?  Porque ser um idiota não é nenhuma caixa de chocolates. Mas saber ler, é ver que você tem que fazê-los.

Sonho pós-guerra.

 Era incrível como ninguém se importava. A contagem de corpos, as valas fedendo a fezes e ao sangue seco. As cartas não enviadas, os pais mortos. Os futuros suicidas chorando.   Mas enquanto você não passar por uma situação de extrema necessidade, você nunca reclamará.  Não valorizará um banho quente enquanto não passar frio. Não ficará feliz por comer carne enquanto não passar fome. Mas foi assim, sempre foi. Cristo só foi amado somente quando crucificado. O mesmo é com os soldados humanos. Ninguém chorará pelos soldados até que eles estejam sendo decompostos no campo de batalha. 

Mostre que me ama querida.

 - Vem cá, garota. - Ele estende a mão, mirando a cintura.  - Não... - Ela se esquiva, num gemido baixo. Dá dois passos para trás. Se sufoca com o cheiro da pinga.  - Vem cá. - E então ele segura o braço dela. Não da maneira de antes, com aquele carinho e delicadeza. De maneira bruta. Machuca ela.  O tempo de Marina fechar os olhos e tentar empurrar ele para longe, é o tempo dele empurrar a língua na garganta de sua noiva. O cheiro de pinga, com o sabor e a brutalidade dele, machucam ela. Uma lágrima cai de seus olhos.  Seus punhos não são o suficiente para empurrar Marcos. Somente para irritá-lo. O amor da vida dela, lhe esbofetei-a na cara.  Ela não reage. Tentou das primeiras vezes. Resultou em machucados.  Mais um shorts sendo rasgado, mais ofensas sobre sua roupa, sua personalidade.  E o inferno começa. O quê foram sete minutos, pareceram horas. Ele deita e dorme. Desmaia, ronca, fede. Mariana faz as malas, fecha elas e toma um banho. Olha para trás, e por dois segundos, vê

Os Campos Verdes da França.

 - Willie Mcbride... Como está meu bom companheiro? Espero que não se incomode se eu sentar aqui. Se você não se levantar do túmulo, acho que não terá problemas... - Riu o irlandês, se largando no cemitério de Versalhes. Até nisso os franceses eram metidos. Na ostentação da morte. Aí uma coisa que eles nunca entenderão. Usavam saias, ainda assim eram mais hétero que os franceses com calças, quem mandou uma raça inteira ser imune à psicoanálise.  - 1916... Taí um ano bom pra se morrer. Logo depois da revolução russa... - Bebeu outro gole da cidra. - 19 anos... Uma criança. - Acendeu um charuto. - Como foi sua morte, garoto? Lenta e penosa como a minha ou foi bonita e limpa? Lhe invejo. Lhe invejo por não estar mais aqui...  O homem abriu a jaqueta e jogou a bebida no rombo que a bala lhe fez na barriga. Ou flanco. Mesma droga.  - Minha esposa me causou isso. - Ele apontou para o rombo. - Tentei matar a desgraçada, mas a bala ricocheteou na frigideira. Acredita? Na porcaria da frigide

Tu eşti dragostea vieţii mele... vieţii mele

 Nunca um ninho de cabelos foi tão bonito. Cacheados. Estranhos. De uma cor entre loiro, castanho, e ruivo.  Não tinha nenhuma relação com o ruivo, mas ela falava que sim. Ele gostava de ruivo. Ruivas, no caso. Uma pena que ela não era ruiva.  A garota observava o ninho de cabelos. Sempre brincando com eles. Nem prestou atenção no filme que alugaram (escolha dela, por isso o garoto dormia). Vlad Tepes e Nina. Abraçou ele e cheirou o emaranhado de cabelos. Não tinha cheiro de nada. Mas ela amava.  Pensou com o que ele sonhava. Pensou se ele estava feliz.  E então ela percebeu os músculos de seus lábios e queixo se contraindo num sorriso contra sua barriga.  Abraçou-o. E ele perguntou os pensamentos dela.  Ela respondeu "Vlad e Nina".  Ele perguntou o porque.  Ela falou que a resposta era muito clichê. Mais do que eles.  Ele deu de ombros. Beijou a menina. E tentou prestar atenção no filme.  Mas ela não conseguia mais. Só pensava na comparação de juras de amor eterno

All night, the penniless sitar player had waited. And now, for the first time, he had felt the cold stab of jealousy

 Antes fosse a vida um copo de Uísque num Pub. Mas todos sabemos que não é.  Ver a sua garota com a aliança de outro cara na mão, não é Uísque num Pub. É um chicote nas costas.  Ver ela, todas as manhãs com a camisa dele, cabelos bagunçados e sorriso no rosto, não é Uísque num Pub. É a culpa te corroendo quando você vê ele todas as tardes com outras no bar. Afinal, você podia ter feito algo enquanto escrevia sobre isso num blog.

5 - Dollar Shake.

 Cabelos pretos e soltos. Naquela altura entre as orelhas e os ombros. Cigarro pendendo nos lábios. Uma cachecol, botas, casaco e calças. Temperatura de 27º C no ambiente. O Capital na mão direita. Um isqueiro na esquerda. O estereotipo de moça culta, talvez. Moça demais para ser chamada de moça. Uma menina querendo crescer.  Seus pés balançavam no ritmo da música, me lembravam uma banda ruim. Pensei em The Smiths. E falei isso. Alto demais para minha sorte ou azar.  - Perdão? - Ela levantou os olhos. Enormes.  - The Smiths? - Perguntei, apontando para os fones.  - Black Sabbath.  - Ah... - Ela viu a minha cara de desapontamento. Isso a deliciou. Deu um riso sarcástico. Harmonioso.  Os olhos se transformaram numa expressão de deboche. Apesar de sua boca permanecer impassível, eu via o sorriso dela de "bem-feito".  Pedi desculpas à mim mesmo por ter chamado Black Sabbath de ruim. Aparentemente ela não era tão estereotipada assim.  - É comunista?  - Quase isso. - Respo

Algo Para Ninguém.

Tendo somente uma frase foguete. "O local onde garotas guardam seus chocolates é mais importante que seu coração."  E a inspiração vai embora. Meia hora tentando decorrer sobre algo. Mas nada se encaixa.  Lê outros escritores.  Ouve músicas.  Deita. Come.  Nada saí.  Para um escritor, não conseguir escrever é que nem um pássaro não conseguir voar. A diferença, é que o pássaro é mais bonito e lucrativo.

Cheers Darling

 Nunca audaciosa o suficiente para passar o batom vermelho.   Sem coordenação para passar delineador.  Não gosta do rímel.   Sua pele era ruim o suficiente para ser alérgica à pó.   Era 100% verdadeira. Seu rosto, cabelo e mãos.  Menos os olhos.   Sempre brilhavam.   Mas nunca de alegria.  Somente algumas lágrimas por conta das lentes. 

Veredicto do Júri.

 Mais um traficante de merda sendo interrogado. Não estava no alto escalão. E não era tão irrelevante para ser preso sem justificativa. Era um cara digno para fazer formalidades.  - Paulo José Barrotos... Sabe a sua situação?  - Sim.  - Precisa que eu leia?  - Não. Sei do que sou acusado. Me declaro culpado, senhor.  - Tem algumas perguntas que eu quero lhe fazer...  - Não vou responder.  - Não é assim que a banda toca, rapaz!  - Eu sei. Vai desligar a câmera. Chamar alguém. Vão dar uma de "Tropa de Elite" em mim. E o fim todos sabem... Ou eu morro. Ou vocês descobrem. Ou eu não falo nada e me fodo. Mentira. O pau de algum de vocês faz isso.  O oficial ficou impassível com a impassibilidade do sujeito.  - Mas eu tenho que ficar uma hora aqui no minimo. Para você pelo menos poder fingir que tentou.  - Filho da puta, sabe que vai pra cadeia?  - Sim. Eu sei.  - E tá tocando o foda-se?  - Vou morrer logo. Tenho AIDS, Hepatite e uma penca de doença. Vou espalhar isso