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Mostrando postagens de outubro, 2012

Édipo, Freud e Licor.

"Uma ducha fria. É isso o que preciso. Só isso vai tirar esse calor."   Roberto se concentrou nisso o caminho todo até chegar em sua casa. Subiu as escadas correndo, esqueceu-se do elevador, entrou no apartamento, ligou o chuveiro, despiu-se e sentou no chão. Quase gritou de frustração ao ver que ainda tinha uma ereção entre as pernas. Aliviou-se. Sentiu a culpa após perceber que havia pensado nela de novo.   Não era normal. Era doentio. Aqueles cabelos castanhos, tingidos. O corpo modelado por cirurgia. Olhos aguçados. Vinte anos mais velha que ele. Escritora de livros adultos. Presa três vezes por posse de drogas e  prostituição. Sua mãe era tudo, menos um exemplo freudiano.   Deu de ombros, abriu uma garrafa de licor que há muito tinha jogada no armário da cozinha. Embebedou-se. Ligou para uma prostituta qualquer, pedindo que tivesse uma fantasia de empregada. Afinal, era aquela a imagem tradicional de uma mulher. Seria bom um fetiche que não fosse completamente biz

Arma de curto alcance e morte eminente

- Você só tem uma bala.  - Que arma eu tenho? - Uma .44 de curto alcance. - Pra quê porra alguém levaria isso num apocalipse zumbi? - Calada. Só me escuta. - E se eu não quiser? - Me beije.  Se beijam. - Enfim, me diga. Estamos num apocalipse zumbi. Encurralados em um beco...  - Os Zumbis correm? - Que diferença faz? - Preciso saber se posso reagir ou não. - Ok, eles não correm. Mas estamos encurralados. - Hm... - O quê? - Alguma interrupção?  - Não, continue. - Vai deixar? - Uhum. - OK. Estamos num beco, encurralados, você tem uma bala e eu também. São 100 zumbis em volta da gente. O quê você faz? - Atiro em mim mesma. - Óbvio. - E você? - Atiro em você mesma. - Por quê? - Se você me amar um terço do que te amo, não suportará me ver morrer. Nunca te faria passar por isso. - Você e os seus clichês... - Você e os seus sorrisos... - Não mude de assunto. - Não estou. - Está sim. - Não, agora estamos falando coisas que cada um am

Não derreta seu coração em lágrimas, escreva sobre isso.

 Sorriso torto nos lábios, lágrima pendurada no olhar. Não era assim que ela era reconhecida, mas era isso que ela era. Rafaela, a garota com o sorriso quebrado e coração partido. Todos se lembravam do que havia acontecido três anos atrás. Ela acordara no hospital, com os pulsos remendados, a mãe chorando e o pai dando de ombros. Um mês depois, voltou para lá. Mas dessa vez não saiu. Continuava lá, alguns anos depois. Tinha recebido alta. Mas... gostava daquela instituição. Tudo branco, limpo e certo. Todos os dias ela andava pelo jardim, dormia até tarde, fazia exercícios na piscina... Não precisava estudar, não precisava pensar. Nem ser. Só sorrir e olhar para o céu. Era o suficiente. 

Mesmo que eu quisesse

 Lá estava ela. Enquanto todos riam e pulavam no intervalo, ela se esforçava para aprender a tocar o violão. Enquanto todos estudavam, ela trocava mensagens. E quando todos foram embora ele chegou. Ela o abraçou, riu, beijou. Depois deixou-o ir. Tinha que aprender bateria para o dia seguinte

Um exemplo de um relacionamento qualquer

 - Como você se sente em relação a nós dois?  - Muito bem, por quê?  - Quão bem?  - Extremamente, mais feliz que achei que fosse possível.  - Descreva.   - Bem, imagine que você passou a vida toda em um túnel. Tudo o que você tinha como uma fonte de iluminação era um isqueiro. E de repente, você ganha uma lanterna e um mapa de saída. É assim mais ou menos que me sinto.  -Os olhos doem com a claridade. Não?  - As lágrimas de esperança curam a dor.  - Sabe que o túnel não tem saída. Certo?  - Mas agora tenho um companheiro. Não preciso mais sair dele.  - Vale a pena? Largar todos os ideais que um dia você tinha. Esquecer todas as coisas que você me disse alguns meses atrás. Tudo isso por uma lanterna e um mapa?  - E um parceiro. Sim, vale. Mas não se esqueça, continuo comunista.  - Isso você nunca mudaria. Não por mim.  - Nem por chocolate. Posso não mudar por você, mas... Acho que você não quer isso.

Tequila com limão e sal

 - Então... Como ela está? - Ela me pergunta, com os mesmos olhos insoles, mesma boca vermelha. Porém há algo de diferente nela, sua expressão, seu tom de voz, seu cabelo (está mais curto, saiu da cintura para ir aos ombros) e suas unhas. Roídas. E é claro, as roupas. Os costumeiros vestidos e shorts de couro foram trocados por uma jeans e uma bata de renda.  - Bem, digo, deve estar. Terminamos.  - Hm...  - Por quê? - Me viro ao garçom - Vou querer uma dose de tequila, por favor.  - Limão e sal?  - Pura, por favor.  - E a senhorita?  - Vodca com gelo e suco de laranja, por favor.  Não consigo esconder a minha surpresa. Ela nunca tomava a bebida mais fraca da mesa.  Dois minutos depois e tínhamos as bebidas em mãos. Mais um minuto passou e meu copo estava vazio; o dela pela metade.  - Por que me chamou aqui?  - Senti sua falta.  - E o nosso passado?  - Quero ter um futuro contigo.  - Sério isso? Depois de tudo o que você fez comigo, você faz isso? Tenho cara de Ioiô pra vo

Porque uma bala no cérebro pode resolver alguns problemas.

 - Você deveria largar as drogas.  - E o mundo ser bonito, políticos não serem corruptos, pessoas serem interessantes, emagrecer fácil e n coisas que não são como deveriam ser. Pois é.  - Legal que... Você poderia mudar algumas coisas se quisesse.  - Mas, eu não quero, você sim.  - Não vai mudar por mim?  - Não mudo por ou para ninguém.  - E eu, como fico?  - Feche os olhos, ou vire as costas. Pessoas fazem isso com frequência.  - Meu deus, você é o quê? Uma adolescente qualquer? Pare de ser fresca e de ter pena de si mesma. Faça algo.  - Eu faço.  - O quê?  - Bebo.  - Vá a merda.  - Todo dia.

Algum dia, quem sabe?

 Visto a jaqueta de couro, sua camiseta; passo lápis de olho preto e bagunço meus cabelos. Coloco fone de ouvido e começo a ouvir Cannibal Corpse, Slayer, Matanza, Ratos de Porão e por aí vai. Sento no banco de qualquer jeito e te espero. Coloco brincos. Afinal, porque não me arrumar um pouco?  - Você podia ser um pouco mais feminina, sabia? Quase não te reconheci de costas. - Você aparece, cheirando meu pescoço por trás e tirando os meus já conhecidos por ti suspiros.  - Feminilidade é para maricas.  - Ou para mulheres.  - Até onde eu saiba você não tem um pênis.  - Você nunca saberá.  - Será?  Mentira. Em duas horas você tira todas as suas dúvidas sobre o meu sexo. E assim passamos a tarde. Um e outro beijo durante o jogo de carícias e suor. Quando acabamos, você dormindo e eu me vestindo, só penso que... Talvez eu não deveria ir embora. Então faço um café e deixo um bilhete. Até amanhã, caubói.   Não escrevo nada. Minha letra é abominável. Pego o táxi e em alguns minutos

Ah, o paraíso

 Deitar na grama. Fechar os olhos. Ligar a música. Ah, sim, isso é o paraíso. Respiro fundo e tento dormir. Uma gota pesada caí em meu rosto. Então outra. E de repente são várias. Sorrio e abro a boca para sentir o gosto da água com poluição aérea. Fecho os olhos com mais força. A água pesada machuca eles. Me aninho na grama. Tento dormir. Respiro fundo.  Acordo assustada. A chuva acabou. O céu escureceu. Me levanto em um pulo. Ouço passos. Um vulto negro, mais negro que o cenário em si. Vejo uma lâmina brilhando em sua mão direita. Começo a correr, o pânico me toma por completo. Não olho para trás. Ele está atrás de mim. Perco o controle da respiração. Chego em casa. Deito no sofá. Abraço minha mãe. Choro. Durmo de novo. Sonho com o paraíso.

Todos se sentiram assim. (ou um texto ruim sobre amor platônico)

 Lá está a garota com os seus vinte anos de decepções, sentada no terminal. A chuva gélida começa a cair. Ela se abraça, come mais uma bala e desliga o celular. Duas da manhã. O vento entra por debaixo do moletom e ela começa a tremer.  O garoto que está do outro lado olha pra ela e começa a roer as unhas de nervosismo. Queria chegar até ela. Abraçá-la. Oferecer seu casaco. Suas mãos quentes. Alguém para abraçar.  - Qual o seu nome? - Ele diria  - Roberta.  Ele fingiria que não sabe. Falaria sobre Three Days Grace, Radiohead e as bandas favoritas dela. Ofereceria um encontro. Beberiam cafe. Ririam. Ele arriscaria um beijo. Nada de carícias lascivas. Ela precisava de abraços e conforto, não sexo e drogas.  Porém, ele ficou olhando-a. Por uma hora. Até ela ir para o CIC. Então ele voltou para casa. Sorriu entristecido. Pelo menos ela estava segura.

Em Respeito ao Vício

 - O que vão beber?   - Eu quero uma cerveja e uma dose de Whisky.  - E a dama?   - O mesmo.   O garçom foi até o bar, e em dois minutos estavam com as bebidas. Viramos a dose juntos e metade da caneca cada um. Nenhuma palavra foi dita. Somente eu a observando. Jaqueta de motoqueiro, cabelos desbotados de ruivo e castanho. Maquiagem preta e um canivete na mão. Desenhava na mesa enquanto comia azeitonas. Cantarolava Matanza. Não conseguia não rir da minha expressão e eu da dela.  - Nunca viu uma mulher-macho?   - Já, mas nenhuma tão bonita.   - Hoje é o terceiro encontro, sabia?   Dei de ombros, agindo como se não fosse nada demais.   - Dia de transarmos. Iabadabadu.   - E se não gozarmos?   - Ganhei três encontros de cerveja paga. Valeu a pena. Mas garanto que pelo menos você irá aproveitar o que virá a seguir.  - Por que se garante tanto?   - Porque, meu bom senhor, você não é o primeiro, nem o quinto, nem o décimo e nem o último terceiro encontro que tive. 

Hombridade, Machismo e Sentimentos ao contrário

 O garoto corria em direção sua casa. O sobrado amplo e cor de creme que ele tanto conhecia. O rosto começando a inchar da surra. Chegando em casa, abriu o portão e deparou-se com a vó.   - Pra quê tanta pressa menino?   - Preciso falar com o pai. - Esse respondeu, chorando enquanto punha a mão no rosto pra tentar esconder o inchaço. A vó respirou fundo e deu de ombros.  - Não deixa a sua mãe te ver assim que ela fica preocupada.  O garoto assentiu com um gesto da cabeça e entrou em casa, e seguiu direto para o escritório do pai. Um bolero tocava. E lá estava ele. Aquela figura admirável. Cabelos penteados, barba cerrada. O celular na mão, sorriso nos lábios e uma ereção entre as pernas. O quê deixou o garoto confuso. Sua mãe estava dormindo. Ele checara.   Esguio no lado da porta, o menino não ousou entrar enquanto o pai não colocasse o Iphone na mesa. Isto feito, ele bateu na porta, e engolindo as lágrimas entrou.   - Por que chora garoto? - Perguntou o pai, ríspido, tiran

Algumas certezas da vida

 Ela jazia. Pálida, inexpressiva, dentes cerrados. Nem parecia que estava morta. Mesma indiferença.  Até pro inferno você levou seus malditos traços contigo, não é garota? Puta que pariu, não acredito que quando eu passar dessa pra pior terei que te encontrar. De novo. Qual a sua brilhante ideia para a pós-vida? Se drogar enquanto paga um boquete pro diabo? Típico de você, não? Vá pra puta que pariu também. Tanta coisa que eu queria te falar. não faz mais diferença, certo? Você vai ouvi-las de outras bocas.   Permaneci alguns minutos encarando-a. Me arrependendo cada vez mais a cada segundo que passava. Quando dei-me por mim. Lá estava eu. Dez horas depois. Um maço de cigarro já estava todo dividido em pequenos tocos queimados e em nicotina nas minhas veias. Respirei fundo. Cuspi em seu túmulo. Dei as costas. E chorei, mais algumas vezes. 

The Beauty and the Beast

 - Ela está perdida.   - Quem?  - A garota que você conheceu.  - Por quê? O que houve com ela?  - Perdeu o encanto.   - Você não perdeu o encanto para mim. Nunca o aconteceria. Nós dois sabemos disso.  - "Eu" não, mas "ela" perdeu, aparentemente.  - Qual a diferença de vocês duas? - Um riso zombeteiro esboçou-se nos lábios dele.   - Uma delas te ama.  - E a outra?  - Não tem coragem de admitir.  - Quem é você agora?  - Sua. Os outros títulos não importam. 

Divagações, como prometido

 É muito mais que simples. É óbvio. Eu sou óbvia. Nós dois sabemos isso. Você vê e ri disso quando me vê escondendo o sorriso, e eu ostento isso quando digo que te amo. E no final, você que assumiu ser piegas logo de começo, é quem virou a incógnita.   Você não tentou me rotular. Mas acabamos nós dois o fazendo. Certo? E aqui estou eu, como uma garotinha que perdeu a boneca procurando pelos cantos escuros da casa. Mas é triste pois, alguns lugares são escuros demais. Quero que você me empreste a sua lanterna. Mas nunca irei lhe falar isso. E nós dois sabemos que eu poderia até aceitá-la, mas que eu não a usaria. 

Mais um vício

 John Mayer no rádio, vodca na garganta e cocaína no cérebro. Ainda assim nada é suficiente pra amenizar. Seu abraço faria uma diferença. Mas eu não deixaria você saber. Te empurraria. Olharia para trás. Cheiraria outra carreira. Rezaria por uma overdose.

Afogada entre travesseiros e cocaína

 Tudo agora é um borrão. Não sei se foi passado dois dias, uma noite, ou somente uma noite e uma madrugada. Mas não tenho dignidade o suficiente pra sair da cama e descobrir. Três garrafas no chão. Acho. Vários cacos. Algumas pílulas. Cinzas e tocos de cigarro também. Ou é maconha? Foda-se. Não lembro se fiz isso por sua causa ou por minha. Mas o problema agora é arrumar o quarto. Quando eu acordar, quem sabe...

Ciclo Vicioso

 -  O quê esse cara tem de tanto especial?   - Ele é... Foda.  - Querida, você entendeu. Ele é mais velho, é comprometido, e você ainda corre atrás. Por quê?  - Porque ele ainda não disse para eu ir.   - Mas...  - Mas nada. Olha só, eu estou ciente que sou "A Outra", eu sei que vou me machucar. Mas sei que ele não irá me machucar. O pior que pode acontecer é eu criar a ilusão de que ele vai largar a namorada dele por mim. O que eu sei que não vai acontecer. Então, estou bem. Eu sei que, sempre que passarmos a noite junto, ele irá embora cedo. Eu não irei conhecer a família dele. E a minha nunca saberá da existência da dele. Por mim está bem. Eu só terei a melhor parte.  - Por quanto tempo?  - Até ele me mandar embora.  - E sobre exclusividade? Que você me disse?   - Ah, da mesma maneira que a namorada dele não sabe de mim, ele não sabe dos outros. Ou finge que não.