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Veredicto do Júri.

 Mais um traficante de merda sendo interrogado. Não estava no alto escalão. E não era tão irrelevante para ser preso sem justificativa. Era um cara digno para fazer formalidades.
 - Paulo José Barrotos... Sabe a sua situação?
 - Sim.
 - Precisa que eu leia?
 - Não. Sei do que sou acusado. Me declaro culpado, senhor.
 - Tem algumas perguntas que eu quero lhe fazer...
 - Não vou responder.
 - Não é assim que a banda toca, rapaz!
 - Eu sei. Vai desligar a câmera. Chamar alguém. Vão dar uma de "Tropa de Elite" em mim. E o fim todos sabem... Ou eu morro. Ou vocês descobrem. Ou eu não falo nada e me fodo. Mentira. O pau de algum de vocês faz isso.
 O oficial ficou impassível com a impassibilidade do sujeito.
 - Mas eu tenho que ficar uma hora aqui no minimo. Para você pelo menos poder fingir que tentou.
 - Filho da puta, sabe que vai pra cadeia?
 - Sim. Eu sei.
 - E tá tocando o foda-se?
 - Vou morrer logo. Tenho AIDS, Hepatite e uma penca de doença. Vou espalhar isso pra todos os bastardos que me estuprarem. E eles irão espalhar para suas mulheres. Seus filhos. Ninguém nunca saberá. Porque sabe como é favela. Temos dinheiro pra Heroína. Mas não pra saúde. - Riu. - Serei um dos maiores assassinos do Brasil... Já matou alguém, oficial?
 - Não.
 - Mentiroso. Não conta como atirar em alguém em serviço como assassinato? Os favelados drogadinhos de merda não contam? Não né. É guerra.
 - Sim.
 - O quê?
 - É guerra. E eu já matei.
 - E como se sente? Poder?
 - Nunca pensei sobre isso.
 - Eu já, policial. Matei já. A sangue frio, nunca. Mas em situação de guerra. Já. Sabe, não é igual aos filmes. Que o sangue é liquido e bonito. O filho da puta precisa de 3 ou 4 balas pra morrer. E fede. Fico arrepiado só de lembrar. Matei três oficiais já. Quase matei o senhor. Mas como eu disse, não matei a sangue frio.
 Um nó de nojo, culpa e alguma sensação quente e perfurante ocupou a garganta do policial.
 - Você é repugnante.
 - Eu? Você que matou pessoas e não se sentiu culpado. Eu só to te avisando que já matei, e matarei de novo. Me sinto mal pra cacete com isso. Mas não posso evitar. Sou um viciadinho de merda.
 - Me faz um favor?
 - Não. Você me faz um?
 - Sim.
 - Chama a porra do BOPE, ou sei lá quem. Eu não sei de nada sobre o tráfico, ok? Era pago bem o suficiente para não falar mas não bem o suficiente para saber de algo. Mas chame a os monstros.
 - Sim... - O oficial deu uma risada nervosa. - Os filhos da puta são enormes.
 - Eles matam, oficial. Por isso são monstros.

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