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Boca de Sabores

 Boca com gosto de bala. Sempre com jujubas na mão. Perfume de doce no cabelo. Fazia tudo isso, e depois reclamava do peso.  Cabelos bagunçados o suficiente para ser difícil de passar a mão neles. Cabeça jogada para trás com o tédio. Nunca soube mais o quê falar com ela desde sua mudança. Não chego a sentir falta dela, somente quando ela está por perto.
 - E a vida como jornalista?
 - Vai bem. - Ela boceja. - Mas estou me dando melhor com literatura. Vendi três contos essa semana.
 - Três anos atrás, você diria que não se vende cultura.
 - Três anos atrás, eu não tinha que me sustentar.
 Acendo um cigarro, ofereço pra ela, ela diz que não, e pega um pirulito.
 - E o namoro?
 - Brigamos o tempo todo. Estamos ótimos.
 - Como brigar é bom?
 - Não estamos na fase de contentamento. Ainda nos importamos para melhorar. - E ela sorriu. Não sei porque, gostei dela sorrindo.
 - Sei lá. Não namoro mais.
 - Terminaram?
 - Não, nunca mais quero ter uma namorada.
 - Por quê?
 - Ciúmes. Transar com só uma pessoa. Brigas. Dinheiro. Sem paciência.
 - Espero que você esteja conseguindo comer muitas garotas então.
 - Ah, até que sim. Mas o foda é ter que pagar.
 E ela sorriu, de novo. Pegou na minha mão e me prometeu que tudo vai ficar bem, fez isso sem pronunciar nenhuma palavra. Vagabunda, não faz porra nenhuma, não é bonita. E é feliz.
 - Bem, espero que você seja feliz.
 - Eu também.
 Ficamos dois segundos naquela sensação pró-beijo. A angústia, vergonha. Um meio sorriso em cada um de nós. Queria transar com ela. Só não sei por quanto tempo.

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