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Mostrando postagens de maio, 2013

"Se você vai tentar, vá até o fim caso contrário, nem comece"

 E a dose de Whiskey equilibrada na cabeça. E a arma encarando o pequenino copo. Eis que o tutor dá um passo para trás.  - Somente te aviso, minha mira é péssima.  Os estilhaços e a bebida cara sujam a cabeça do aprendiz. Que aprendeu merda nenhuma com isso.  - Por quê disso? - Pergunta o rapaz, ainda tremendo.  - Bem, você gastou dinheiro. Ficou com medo, se sujou todo e se humilhou para uma experiência única.  - E?  - Isso é a vida.  - Uma perca de tempo?  - Ah, claro que não, se fosse nem teria nascido.  - Um apunhalado de lições que servem pra nada?  - Também não, ah vá para casa e escreva sobre isso.  E é o que fez, afinal, queria aprender. Ainda tentando fumar, mas sempre se engasgando com a fumaça. Porcaria inútil. Chegou no apartamento caótico (que já fora arrumado) e sentou na frente do computador, com a dor de cabeça. Meia hora pensando. Como começar? Primeira pessoa? Palavrões? Falando de si mesmo?  No fim, o texto foi: "O homem é lunático, um gênio morto, m

So, tell me your name.

 - Eu desafio você dar um selinho nela.  E ele fica vermelho. Dá uma risada para disfarçar, enquanto ela apenas morde o lábio por dentro, disfarçando um sorriso de satisfação.  E está dado o primeiro beijo do casal, que resulta, logo após em um passeio no shopping, como amigos é claro. Amigos que estavam abraçados.  - E este foi o nosso primeiro beijo? - Ela ri.  - Nunca pensei que fosse ter um na realidade.  - Ah, foi melhor que o esperado, afinal, ninguém mais tem tempo para clichês e romances.  - Nem você?  - Ah, ter tempo tenho, o que falta é o romance mesmo.  E então, nesse espaço de tempo, foi lançado um convite. Não para o cinema, nem para o shopping. Um café, e uma exposição de fotos talvez. Sem carícias ocultas, sem segundas intenções. Somente os dois e um lugar legal. Centro, galerias, cafés, bibliotecas.  Claro, como um ótimo cavalheiro, teve todos os clichês. Puxar a cadeira, ouvir, olhar nos olhos, e com uma desculpa esfarrapada, fazê-la ficar do seu lado, e quand

As **** que nunca recebi.

 - Sabe? Acho que em algum lugar, perdido entre a sua desatenção e sua pose de macho, tem muitas declarações de amor.  - Não é muito cedo para falarmos de amor?  - Temo que não, tendo em vista que te amo.  -...  - Ouviu o quê eu disse?  - Não, desculpa. Estava...  - ... Lendo, eu sei.  - O quê você disse, querida?  - Nada demais.  - Parecia importante.  - Aparentemente, não é.
 Me perco entre o amor e a magia dos seus olhos. As histórias de conto de fadas as inversas, onde começa com um caos e fica tudo bem. Aqueles démodes. Ter que te convencer para ver os filmes que quero, e sempre falhar. Me contentar com os meus romances de época sozinha quando você está embora, e rir contigo quando você está próximo. As mãos geladas tocando nas suas quentes.

O gigolô e o seu brinquedinho.

 - Tenho que ir já.  - Ah... Por quê?  - Tenho que trabalhar.  - Ah, já falamos sobre isso...  - Não, você faz demais por mim. Não conseguiria viver de caridade tua. - Beija a mulher.  - Não é caridade querido, é carinho... - Beija de novo a mulher. - Sabe que te amo.  - Eu também.  E sai pela porta, vestindo o blazer Armani que tinha ganhado. Pegar o carro da senhora e ir para o bar, saudades de uma pessoa sem rugas.  Mas era essa a vida. Ir ao cinema por conta dela. Chegar tarde, ir cedo, e a mulher ficaria feliz com a companhia apenas. É o preço da solidão, ainda bem que ela tinha dinheiro.

Vida de bar.

 No bar no meio da estrada. O calor árido de Minas, e a pinga barata. Um refúgio pra qualquer um que queria o mínimo de conforto e o máximo de coisas pra esquecer.  - Enche.  E o atendente enchia. Sempre assim, todo os dias. Os caminhoneiros enchiam a cara e voltavam pra estrada. Ninguém nunca passou por um acidente. Algumas noites, faziam fila no motel por uma prostituta barata. Era o inferno. Dirigir mil quilômetros por dia. Se contentar com pinga barata e dormir onde der. Todos os dias isso para, quando sobrasse dinheiro, ir pra casa com a tua esposa que te trai. A mulher que nem se quer te chama pelo nome e está grávida de outro. É uma vida desgraçada mesmo.

Talvez eu seja o último romântico, dos litorais desse oceano atlântico

 Olá garoto bonito, se aproxime por favor. Diga que me ama e me entregue essas rosas que estão na tua mão. Não tenha medo, eu não mordo, só se você pedir, agora me declame algum daqueles seus poemas. Venha aqui do meu lado e me conte tudo. Sussurre nos meus ouvidos as palavras de amor tão belas que pra mim declamou. Deixe-me perder em seus olhos azuis, acariciar seus cabelos lisos e bagunçados.  E mais uma vez, sente-se aqui e diga que me ama, como sempre fez, e agora me beije. Ignore as pessoas passando dessa vez, e vamos nos tornar naquele casal odiado pelos amargurados. Take me somewhere nice. E assim que funciona. Um garoto e uma garota. Garoto e garota se conhecem, se apaixonam, e se separam por eventos, e no fim, garoto e garota ficam juntos. O conto de fadas mais antigo do mundo, certo? Mas, fico feliz, garoto bonito, que vivemos na vida real dessa vez.  
 Na primeira, tudo faz sentido. Fechar o cinto no braço e dar os petelecos na agulha. E então, vem a apreensão. Não saber o que fazer, não saber como colocar o negócio. Então abre e fecha o braço para a circulação ativar.  Vamos lá, que nem na primeira transa, é só meter. Abre e fecha o braço. De novo.  Encontra a veia, e lá se vai a droga. Porém, onde tudo começa, é quando tudo acaba certo? Digo, heroína é um troço brabo. Ninguém pensa passar da segunda dose, porque todo mundo fala que é uma merda. Mas a primeira dose, não.  E em questão de semanas, tudo vira de mentirinha. Até a droga. Colocar pimenta. Gelo. Aquecer demais. Fazer o possível para retornar ao êxtase da primeira vez. Mas, isso não acontece. A droga só serve para te tirar do desespero que vira essa sobre vida. Esqueça namorada. Esqueça família. Só não esquece emprego, porque precisa pagar a droga. E dia após dia, é assim. Tomar cuidado para não fazer infecção. Tomar cuidado com quem vai dividir a agulha.  Mas nem sem

Amêndoas e Água de coco.

 Um petisco saudável sentada na beira da praia. A cadeira de palha, chinelo no chão e sol no corpo. Um coco gelado na mão e os óculos escuros de grife.  Biquíni caro, para não entrar no mar. Somente se bronzear e esfoliar os pés na areia enquanto ouve Clarice Falcão. E assim permanecer até o fim do dia, fingindo que o pôr-do-sol é o fim do mundo e sorrir com o paraíso tropical.

If you are gonna walk make sure, wear your comfortable shoes.

 - E é isso? Vai terminar comigo por uma pessoa que nunca existiu?  - Não é assim...  - Estou errada então? Por favor me corrija se você não está indo embora somente porque não sou ela. Só está me deixando porque não sou a ruiva tatuada. A loira perdida. Eu não sou Mary Lou. Sou sua. Esse é o problema.  - Sinto como se você estivesse terminando comigo...  - Talvez eu devesse, sabe? Estou farta de você suspirar o nome de um personagem toda vez que fazemos amor. Se é que se ainda pode considerar isso quando você pensa em um ser completamente imaginário.  - Todas as vezes que eu te amei... Foram de verdade.  - E as vezes em que falou que me ama?  E é com a frase de impacto, que ela vai embora me deixando sem resposta, é claro. Com a última palavra dita e lágrimas caídas, quem julguei ser o amor dos meus vinte anos se esvanece como a geada com o  sol. Aos poucos e bela. E saio então em busca de minha musa.  Caio nos botecos procurando qualquer ruiva de olhar ardente. Vasculho os pu

Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha.

 Quatro anos. Nada demais, apenas você ser maior de idade e eu não. O tempo de você ler centenas de livros, ver pinturas, assistir filmes. Conhecer Leminski para poder me falar dele.  É o suficiente para me ensinar a aprender. O suficiente para saber como conquistar uma adolescente tola (o que está longe de ser difícil, convenhamos). Mas vamos lá, me ensine.  São quatro anos que você teve; para escrever melhor; saber mais; ver mais.  Afinal, o quê era uma adolescente tola quatro anos atrás? Uma criança tola.  Como será uma adolescente em quatro anos? Uma adulta tola, ou não tão tola?  Mas é assim que funciona. Tentar te acompanhar. Dar três passos para um seu. E somente parar quando, realmente, te impressionar.

Saudades dos tempos que não vivi.

 O quê houve com a poesia? Onde estão as pessoas que aplaudiam os artistas de rua, onde estão os casais que admiravam a paisagem?  Para onde migrou os amantes de Leminski e as meninas apaixonadas por versos e rimas? Os rapazes cavalheiros que abriam as portas com um sorriso e um beijo escondido? Os lábios vermelhos e rosas das moças das saias rodadas? O cabelo penteado sob a boina dos rapazes?  Onde foram os jovens revoltados ao som da batida do Rock N Roll que dançavam com as garotas de maquiagem borrada? O suor escorrendo pela nuca e o pescoço, as calças de couro grudadas, dando até coceira. Tudo isso, para no final da noite a garota entrar de fininho em casa pra não acordar os pais e no dia seguinte estudar.  Já se passou a era em que a beleza era admirada. Já passaram-se os tempos da classe. Agora, a moda é se desconstruir. Mostrar os defeitos da sociedade! Se expressar! Ir para a rua e gritar "estou aqui". Nada mais de saias longas, agora são shorts e meias-calças ras

Puteiro em Bairro Nobre.

 Todos os dias passava na frente da casa rosa. Todos os dias, estava vazia, sem um rastro de uma alma viva, porém todas as noites, estava viva. Um estacionamento do lado, abria as 5 e fechava a uma. Todos os dias. Advogados, empregados, carros caros. Paravam na rua.   Ninguém sabia o que ela aquela casa. De noite cheia. Porém, nunca ninguém viu alguém entrando, saindo, ou dentro.   Claro, que havia muitos bares na rua. Botecos sofisticados, rústicos. O ponto alto da noite da boemia rica e cult da cidade, tudo concentrado naquele bairro. Pessoas amontoadas na calçada, fumando e rindo. Comendo espetinho e bebendo cervejas importadas. Mas nunca tinha ninguém na casa rosa de madeira.   Mas, aquilo era um bordel.  Nunca tinha ninguém. Nunca abria de dia. Nunca se via um vulto dentro dela.  Porém, aquela casa, servia aos altos homens da sociedade, eles se alimentavam no bar e lá se deliciavam. Os moradores da rua da frente, sabiam. Nunca viram nada, mas sabiam. Nunca ouviram nada, m
 "Amigos não beijam as garotas dos outros amigos."  Era um mantra bom o suficiente para se repetir. Um mantra bom o suficiente para evitar de fazer merda; afinal é difícil se segurar quando uma garota bonita e interessante como você se prende à um bosta desses; ao monte de bosta que é meu amigo. Claro, ele é bonito, interessante, mas é burro. E você merece mais que um cara estúpido que nunca ouviu falar de Orwell.  Sim, ele tem uma banda, mas eu tenho livros.  Sim, ele usa couro, mas eu me visto feito gente.  Sim, ele fuma cigarros, mas eu tento preservar o máximo da minha vida possível, para ficar contigo. Sim, falta poesia com ele, falta beijos carinhosos e abraços.  Mas como competir com um bad boy?  E de novo, Amigos não beijam as garotas dos outros amigos, é uma boa desculpa para não levar um pé na bunda.

A little of a illness called love.

 E aos passos em que você tenta ajudá-la, ela chora mais. Todos os dias, a mesma cama, a mesma expressão nos olhos.  "Você é linda" você diz.  - Apenas fútil.  "O amor da minha vida"  - Tem péssimo gosto.  "Seus filhos, nossos filhos, são incríveis"  - Mais uma péssima mãe.  E o quê você faz? Deita e a faz companhia. A abraça enquanto ela chora, beija ela enquanto ela dorme. E o cotidiano vira amar uma mulher que não ama.

Mr Nobody

 É uma festa divertida. Música boa, pessoas bonitas e dançantes. Garotas com vestidos de babados, justos, curtos, longos, paetês, renda, seda; salto alto, curto, sapatilhas, algumas descalças pelo cansaço.Garotos de jeans e camisa aberta, outros de camiseta, uns sem nada, somente a gravata. E, como em toda festa, tem um garoto sentado bebendo coca-cola.  No outro lado da pista, tem uma garota. Loira, alta, sandália de salto baixo e vestido azul. Sussurra algo no ouvido de um rapaz. Ele responde, ela chora.  - Eu não sou louca. - O rapaz sentado lê ela balbuciar.  - Eu que sou por você. - Ele balbucia de volta.  E por dois segundos, ela olha para os lábios dele. Boca naturalmente rosa, pele branca. Garoto bonito, lhe retira um sorriso, em qualquer outro dia ela jogaria os cabelos para trás e inclinaria o pescoço pro lado, piscando os olhos e semi-cerrando os lábios. Mas não naquela noite.  Infelizmente, ela não tem o talento de ler lábios.

A rosa esquecida.

 Todos os poemas que antes foram para ela, você muda o nome e me dá. Todos as canções e lirismo. As mesmas cantadas. Até o mesmo desfecho. O mesmo coração partido, e os mesmos xingamentos. Palavrões disfarçados de palavras bonitas, histórias antigas de corno sendo contadas para mim. Engraçado simpatizar com a mulher de quem te roubei.

Entre o brilho dos holofotes e o medo da perdição.

Assopra a fumaça do cigarro e respira fundo o ar com cheiro de nicotina.  - Vamos lá.  E entrou no palco, com a maquiagem borrada e o collant justo. Subiu no trapézio e se equilibrou. Primeiro de pé, depois enroscou a perna e caiu, ficando pendurada nela. Curvou-se e o público aplaudiu. Ficou de pé, sem as mãos. Apenas balançando naquele cenário pendurada. Entre a vida e a morte. O limiar entre a arte e a loucura. E caiu.  Por dez metros ela caiu, porém, no décimo primeiro, ela se segurou na faixa de tecido, e em questão de segundos, enrolou seu pé nela e suas madeixas caíram, transformando-a numa obra de arte.