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Mostrando postagens de abril, 2013

Esquecidos na terra de Judas.

 - Teddy... Tô morrendo né?  - Não diga besteira. Vou te tirar daqui.  - Eu vou morrer nessa vala com cheiro de merda não é?  - Para com isso!  Theodore tenta ajeitar o amigo enquanto atira no inimigo.  - Sabe... Vou morrer virgem. Que droga. Morrer virgem num campo cheio de merda.  - Você. Não. Vai. Morrer.  E a resposta do companheiro, foi somente enfiar o cano do rifle na boca e estourar os miolos. Teddy nem sabia o nome do cara que cuidou dele por toda aquela guerra. Um garoto de dezoito anos de idade, que sacrificou tudo que tinha por esse suicídio doentio. E foi assim que ele parou de atirar. Os outros soldados, viram o que tinha acontecido e também pararam, somente então começaram a limpar o lugar e hastearam a bandeira branca, que já tava suja e manchada. Arrumaram tudo, pois em uma hora os alemães estariam lá. E a velha cortesia inglesa implicava nisso. E somente nessa hora, que descobriram uns os nomes dos outros. Descobriram que Teddy já foi professor de educação físi

Sangue de barata e lábios de veneno.

 O tango tocando no salão. Uma garota com os olhos pintados e a boca discreta te olha. O vestido negro e justo, acinturado por uma faixa azul. Ela é linda, é claro. Nenhuma palavra pronunciada, somente os passos sincronizados com o violão. A noite se decorre. Você diz não.  Um mês se passa, e você arruma a lapela. Uma rosa vermelha. Nunca iludir uma dama com a flor branca. Mas não existe quem não se iluda. Afinal, é uma sorte ser um Don Juan em século XXI.

No suor de tinta se banham as palavras.

 Cinco horas foi quando consegui dormir. O suor já amarelando a gola da camisa. O café já esgotado e as olheiras negras. Me deito do seu lado e só deixo o manuscrito em cima do criado mudo. Você me acorda as onze da manhã, com o mesmo sorriso complacente de sempre; o olhar de quem olha para uma criança, a xícara de chá na mão e a outra me acariciando os cabelos. Sempre adorei esse seu sorriso.  - Que horas você foi dormir, pequena?   - Desliguei o computador as cinco, acho. - Tomo um gole do chá, queimando a língua. - É do quê?  - Chá preto com gengibre e mel.  Vou bebericando a bebida enquanto você percorre os olhos pelos papéis. Nem chega a ler direito, mas o suficiente para saber a história. Você termina as páginas antes de eu terminar o chá.   - Se troque logo, querida. Temos onde ir.   Sim, eu sei. A sua premier.  Finalmente seus anos escrevendo por trocados valeram a pena. Um talento bruto, sendo reconhecido.   Te abraço e vou para o banho, você me acompanha. Me per

Porque vamos terminar a garrafa - Mais uma máscara que cai.

 - Sabe, gosto muito de você.  - Também gosto muito de você.  Se beijam.   - Contanto que tua namorada não saiba disso, eu continuarei gostando.   - E se você virar ela?  - Querido, todos sabemos que sou A Outra. Não almejo outro papel.   - E se eu o quiser?  - Pare de agir como se tivesse escolha. 

Tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo o sempre.

 Deitada no sofá, sambava com os pés enquanto lia. As palavras dos poemas rimados com a música que tocava. E a hora de ir para o colégio se aproxima.  Nunca se arrumava para ir à aula, somente nas sextas. Perfumava-se e chegava cedo, esperando pelo professor no departamento.  Comentou sobre o livro de poesia, rindo e admirando seu tutor. Ele conversava com a moça falando palavras bonitas e difíceis, e então um elogio sai. A menina se enrubesce e sorri, agradecendo. Por dois anos estudando com aquele homem, uma paixão foi desenvolvida. O professor de faculdade e a Lolita. Nada mais apropriado para uma aula de literatura. Um romance perfeito se não fosse tão proibido e surreal. Ele sorri para ela e faz a pergunta.  Ela responde perfeitamente e pensa que é importante. Fecha os olhos para a aliança dele e abre eles para um sonho.

se eu tava apaixonado, foda-se seu namorado.

 E então ela te trai. Você termina e vai para a casa de shows. Ouvir um cover ruim, beber álcool etílico com limão e gelo, chama aquilo de caipirinha, vai ouvir a música e procura por uma garota.  "It's too late, too late"  O garoto que tenta imitar o Jim Morrison fez um péssimo trabalho. E acha a garota, cabelo descolorido, piercing nos lábios, o suficiente para uma noite.  - Qual o seu nome?  - Sarah.  E então você a beija, sem mais nem menos. Somente a beija e sente o beijo bom de uma moça. E o gosto de vômito na garganta. E me lembro de você. Com a boca com gosto de restos de comida, penso em você. Me lembro de segurar seus cabelos enquanto você passava mal. De puxá-los na cama. Tudo isso foi belo, tirando o cheiro. Quem diria que uma noite de bebedeira daria tantas metáforas? 

Entre todos os clichês, um passado.

 Meu rosto manchado com o teu batom rosa choque. Meu rímel manchado pelas lágrimas. E meu coração quebrado pela tua coragem."Usar e jogar fora", aí está uma expressão que conhece bem. Todos sabemos que vou embora antes mesmo de você dormir, mas, para variar, seria bom se você pedisse pra eu ficar.

Perdido no vazio de outros Passos

 Cartas amassadas no chão, os fones de ouvido tortos no pescoço e um computador portátil no chão. É assim que a moça se imaginava todas as noites. Cartas nunca recebidas, músicas nunca ouvidas e o laptop. A única coisa do sonho que realmente tinha.  Em um universo onde um garoto vai aparecer e te dar rosas. Declamar textos e te transformar numa musa, você seria uma leitora do romance em que escreve. A ficção mais bela dos sonhos de garota. 

midnight flowers

 - Vem cá mô. Vem ver a lua...  - Agora??  - É.  E, como toda democracia funciona, ela me arrasta até a sacada no segundo andar. Tanto sono que eu tava, que nem percebi que subi a escada. Tive que ajudar ela a abrir a porcaria da porta emperrada, e naquele frio do sereno ela ficou deslumbrada.  - É linda né??  - É...  Olhei pra ela, sorrindo prum negócio que volta e meia acontece. Um sorriso e um brilho nos olhos. Ela tava arrepiada de frio, mas não fazia diferença. A lua era o fenômeno da noite. Só posso dizer que não entedia nada daquilo. Mas a abracei, porque combinava com o momento.

Da cabeça aos pés.

 E é com uma simples garota que você começa a se sentir importante. Com a menina de poucos anos apaixonada. Os recadinhos escondidos no meu caderno. As ligações perdidas e o sorriso abobado nos lábios. Os lábios dela.  São os lábios de boca pintada de rosa em que me perco. É um beijo disfarçado de candidez e carinho. Um toque tão delicado e simples que me fazem sentir tua falta. Falta tua, dos teus braços. De me perder contigo.  Tão perdida nas artes e na literatura. Toca piano, flauta, teclado e violino. Tento te ensinar o violão mas você não gosta de tocar música de bar.   Nos bares, se senta comigo e me olha me embebedar. Sorri ao me carregar embriagado até o carro, me deixa na cama, tira os sapatos e dorme no sofá.  Me acorda com café e aspirina. Enche a banheira, me deixa no banho e vai trabalhar.  Vai para o circo, dança e treina. Me entrega os convites de tua próxima apresentação e vai pro chuveiro exausta. Sempre sorrindo.  Lhe faço a janta, você corta a gordura da c

Quem te viu, Quem te vê

 Estava tão cansado quando acordou que nem reparou em sua esposa. Estava tão apressado no banho que nem aproveitou a ducha quente. Tomou o café da manhã com tanta fome que nem saboreou a refeição.  Ao pegar o ônibus estava com um humor tão enfadonho que nem reparou nas cores do nascer do sol, laranja amarelo e rosa. Ou na moça bonita que sorria para ele. Pensava somente nos calos em suas mãos.  Chegou no sítio de obras e se trocou. Colocou o macacão, o capacete e as luvas. Então, pôs a máscara e ligou a solda. De tão compenetrado que estava na sua função mecânica, ignorou o movimento de seus colegas por condições mais justas. Sabia que ia dar em problema. Saiu mais cedo e foi para casa.  E ao chegar, viu a mulher com outro. Somente as costas suadas do homem subindo e descendo. De tão conformado que estava, somente fechou a porta com cuidado e saiu para o bar, pensando em voltar quando ele saísse.

Como a poesia é feita nas lágrimas escondidas

 Perdido entre Godard e Tolstói caminhava pelo centro histórico pútrido de uma cidade acabada. Passava na frente de bares e observava a boemia de toda uma juventude que se perdia em cigarros e cerveja. Não fumava cigarros, nunca aprendeu a tragar. Por isso, sempre que tinha a oportunidade apreciava um charuto barato. Um caderno em uma mão e a lapiseira no bolso da jaqueta de couro. Tinha um computador portátil em casa, mas não o usava pelo centro. Primeiro porque poderia ser assaltado; e segundo porque era muito mais bonito escrever com a lapiseira e a caneta. Ver os versos e as divagações se materializarem com a caligrafia pobre de um garoto.  No bar em que passa, tem uma dupla tocando MpB. "Apesar de você, amanhã há de ser um outro dia". Sabia que não. Nem sabia se teria um outro dia depois daquilo tudo. Se sentou do lado da fonte do cavalo e ficou pensando em tudo o que aconteceu. Olhou para o relógio de pulso que havia ganhado de presente da garota. Olhou para a foto de
 - Eu me apaixono por você com uma facilidade enorme.  - Como assim? Não é só uma vez que isso acontece.  - Não, na realidade, acontece várias vezes. Porém, em duas situações especificas.  - Quais?  - Quando você escreve e quando você chora.  - ...  - Nunca vi um garoto tão bonito quanto você quando triste.  - Ah, obrigada então. Pode deixar que não sorrirei mais.  - Não é desse jeito. Quando você sorri eu somente te amo. Mas não to apaixonada.  - Qual a diferença?  - Um é desejo, o outro é carinho.  - Você não sente carinho por mim quando escrevo?  - É irrelevante quando comparado ao desejo, ainda mais quando você escreve sobre mim.  - Por quê?  - Nunca é nada bonito, somente coisas de raiva e tristeza.  - Talvez seja porque o que temos não seja bonito.  - Poderia ser se você algum dia me chamasse pra um encontro.

Garotos que estão para crescer; para nosso amado Jorge.

 Com lágrimas nos olhos o garoto abraçou o cadáver do amigo. O cheiro quente e metálico do sangue borbulhando fazia um nó em tua garganta; o ferimento da faca no ombro direito ardia, e essa era a única coisa que ele sentia. A ardência dilacerante. O sangue gotejava, caindo rápido, mas não rápido o suficiente para morrer. E tinha somente Barreto em seus braços.  O rosto desfigurado da bala que levou. A barriga toda arranhada. Eles teriam ganhado a richa se o filho da mãe do Grilo não tivesse tirado uma arma. Mas deviam ter esperado isso, ninguém joga pelas regras quando a lei não se importa mais.  O amanhecer rosa e laranja começou a nascer. Era uma cena linda, esteticamente falando. O vermelho do sangue, contrastando com a pele dourada de um garoto e com a negra do outro. As casas azuis e vermelhas, sendo tingidas pelos reflexos do astro rei. Sim, era uma cena bonita. Uma cena tão linda que foi só com ela que o menino vivo chorou. Mas não de tristeza, não de pesar pelo melhor amigo.

Walk the Streets for money, you don't care if is wrong or if it's right.

 Se apaixonar por uma prostituta. As famosas cortesãs, a profissão mais antiga do mundo. Se apaixonar por uma dessas criaturas do submundo é tão clichê quanto um "felizes para sempre"; talvez até mais, pois ser feliz não é a profissão mais antiga do mundo.  Mas é a vida, ou C'est la vie, se você for francês, ou inteligente o suficiente para entender. Enquanto tiverem mulheres dispostas a dar seu corpo por uma quantia material, existirão homens comprando. Afinal, o quê o dinheiro não compra, o sexo vende.  As mulheres sujas, caboclas, selvagens e feias. Umas gordas demais, outras magras. Até as velhas. Todas têm seu miticismo, porém em todo bordel, casa ou rua do centro, há uma Dama das Camélias ou uma Satine. E é por essa mulher que os garotos se apaixonam.  A garota que sorri naturalmente, que abre as pernas com felicidade. Como não amar uma mulher assim? Como não amar a mulher que te ama?  Somente não pagando mesmo.

It's four in the morning and I'm walking alone.

 Sempre as loiras curvilíneas, ou as loiras dos olhos verdes. Nunca as morenas baixinhas. Arctic Monkeys, Vanguart e outras bandas esquecidas estão numa pilha de CDs ao lado de Palahniuk e Bukowski. Romance é fora de moda, então noir e palavrões. Um coração partido, escondido sob um decote serve também.  As rimas e as sonoridades das palavras, cada xingamento calculadamente poético. Cada insulto romantizado. Cada palavra não repetida.  Não toma café, nem chá. Somente bebidas frias e sem álcool. Não fuma pois é um risco para a saúde, e como todo gênio, pretende viver. Uma ideia mirabolante brota enquanto lava a louça e dança ao som da televisão.  E é claro, há uma garota. Sempre há uma garota. A garota que no começo era a Chelsea que nunca tinha conhecido. Mas ficou com medo de virar o marido de Henrietta.  Palavras foram ditas. Juras trocadas e beijos dados. Você mostrou para ela a poesia que a moça nunca viu. Ela te mostrou o amor que te foi negado. Criou-se um drama exagerado sob

Sentimentos que não são apagados com borracha.

 Queimar as fotos, na esperança de apagar algum passado. Mudar o jeito de se vestir, o quê ouvir. E assim seguir em frente. Não olhar para trás até o momento em que você me parar e me segurar para trás. Hesito, te encaro e um sorriso apagado se forma em seus lábios. Um canto se levanta com um esforço em nós dois. Nós sabemos o quê fazer. Sabemos que você deveria me beijar e eu aceitar, e um conto de fadas se recomeçaria.  Também sabemos que eu vou embora sem olhar pra trás. Uma ou duas lágrimas cairão do meu rosto, olharei para trás. Você vai me abraçar, eu vou te empurrar, porque é fora de moda aceitar um amor acabado.

Nunca uma história de amor

 Todas as noites no mesmo bistrô. Aquele lugar rústico e refinado, um restaurante para se tomar vodca, café e brioches. Música ao vivo e comida cara, e na banda tinha um guitarrista com barba cerrada e o olhar triste. Tocava violão, e depois ia para o piano enquanto fazia um backing vocal. A voz rouca e áspera do rapaz não fazia jus a sua idade, porém com o talento.  E todas as noites ela estava lá. O olhar obsessivo e o notebook em cima do balcão; os dedos frenéticos enquanto digitava, sem desviar o olhar da tela.  Uma noite, ela veio com um bloco de notas e uma lágrima no rosto. Um sorriso forçado nos lábios e uma cerveja belga na mão. E pela primeira vez em alguns meses, ela notou o músico. Ele cantava e tocava sozinho dessa vez. "Mirem-se no exemplo   Daquelas mulheres de Atenas"  Transformou a canção de Chico Buarque  num tango. Olhou para a garota e levantou o copo, como num drinque. Ela correspondeu e limpou a lágrima.   Parou a música por uma meia hora, para co