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Mostrando postagens de outubro, 2013

Day is Done

 - Pensei que você não ia se sujar fumando apenas um cigarro.  - Por isso mesmo estou no terceiro. Mas relaxe, prometo não borrar o meu batom.  - Pare com isso, não faz bem.  - Um ano e meio você tentando me convencer disso, ainda não conseguiu.  - O quê falta então?  - Não sei, um movimento literário decente para acompanhar.  - Odeia tanto Bukowski e ainda assim segue os passos do velho tarado.  - Olha, não é da minha geração e não vou fingir que é, se fosse bem escrito ou algo natural tudo bem, mas todos eles, Kerouac, Bukowski, tudo a mesma coisa. Bando de vendidos, se eu quiser ler algo que preste sobre liberdade, leria Gabeiros. Brasileiro e bem escrito. Mas não sou nenhum deles. Tenho só tatuagens de memórias gravadas no meu braço.  - Se arrepende delas?  - Só da de caveira. Gosto da cereja com um pavio.  - Cherry Bomb. Já passou a moda de ser roqueira?  - Nunca, só percebi que é babaquice usar preto até os dentes, gosto de flores.  - Quem sabe você lance

Os beijos nunca conhecem o que os lábios vão dizer.

 Em um bar, ela de saia justa e camisa mais ainda só me passa um guardanapo com uma marca de batom e oito números escritos. Um sorriso por cima do ombro e por debaixo da franja vira um convite para algo que nunca vi, pensei que esse charme tinha morrido junto com o nascimento da internet. Eu nunca teria reparado nela se ela não tivesse se mostrado, admito. Era só mais uma. Eu não notaria seus cabelos ondulados ou seus lábios pintados, mas ela me notou (o quê ela notou não importa), isso basta.  Disco os números em meu celular e ligo. Ouço uma voz que deveria ser aguda porém está rouca por cigarros e vejo ela atendendo fora da danceteria.  - Alô? Quem é?  - Deu o seu número para outros desconhecidos?  - Não, mas ainda não sei o seu nome.   - Nicolas. Vinte e um anos.  - Ah, uma criança.  - E você?   - Dezesseis. - Ela sussurra em meu ouvido, marcando minha orelha com batom carmim.   Ela não vai para a minha cama naquela noite, me exige um primeiro encontro antes. Com

Que tal crescer de verdade?

Seu único luxo eram seus cigarros de marca, ninguém sabia como eles surgiam, mas já que ele dividia ninguém questionava. Conheci Humberto quando procurava por um quarto no apartamento, ele tinha acabado de entrar na federal, fazia psicologia e eu era de Engenharia Civil, porém logo voei para economia, meus pais não reclamaram pelo menos, dá emprego tudo igual.             Eu estudava no mesmo turno que ele, só que ele estava dois semestres na frente, toda quarta-feira bebíamos cerveja antes de ir pra casa, era mais barato que nas sextas feiras e não tínhamos aulas quinta de manhã. Humberto era preguiçoso, camarada, revolucionário, porém lazarento como somente ele conseguia. Era um caos, se eu quisesse levar uma garota para casa tinha que chegar duas horas mais cedo e às vezes chegava ao ponto de raspar com uma espátula a sujeira das paredes. A sorte dele eram as garotas que o chamavam pra ir pra casa dele, eu insistia em sustentar um resquício de cavalheirismo. Ele era mais inteli

Beijando o sapo encantado (?)

 Quando criança, sonhei por um. Queria à todos os custos. E por ele eu seguiria o figurino, colocaria salto no dia-dia, maquiagem e acordaria cedo pra fazer o cabelo; não falaria palavrão, seria educada e teria o meu príncipe encantado.  E então você cresce. Aprende que não depende de homem, que pode andar descalça e descabelada e falar alto, que você pode e deve gritar. Que sua aparência não importa tanto assim e que realmente, existe algo chamado conteúdo. E começa a se apaixonar por outros garotos além do príncipe; como o garoto foragido que te leva para o mundo ou quem te mostra a primeira garrafa de vodca. Mas nada disso importa, nenhum deles te dará rosas. Então virar o príncipe si mesma, parece uma boa ideia.

Evento formal feito para leiloar suas filhas

 Eu nunca tinha ido para um baile e ela sabia disso. Era a minha primeira vez com tudo, o smoking, os sapatos desconfortáveis e a expectativa de ver ela de salto e vestido. Me apaixonei por uma garota que usa moletons surrados e tênis velhos que um dia resolve me dizer que adora bailes. Ela ia debutar, com vestido branco, discurso e exibição de fotos em um clube refinado da cidade. Uma festa que prometia durar até o amanhecer e eu lá, quem nem se quer estava acostumado a ter mais de quinze reais no bolso velho da calça estava sentado na mesa esperando para que ela fosse anunciada. Tinha uma dúzia de garotas, algumas mais bonitas que ela reconheço, mas já estava ficando ansioso. A gravata era como uma mini forca.  Claro que ela tinha que entrar por último, e é claro que para mim foi a mais linda. Ela brilhava com tanta maquiagem, tanta purpurina e tanta luz e com um garoto muito mais bonito do que eu como o escort  dela. E, não sei se era toda a situação medieval de expor as garotas

Depois da meia noite.

 Os olhos arregalados sem piscar para o computador, as olheiras, os cabelos presos da maneira que menos a favorece. O cobertor que se cobria provavelmente já fedendo de suor e lá estava ela,quase caindo no teclado. Deixo um copo de suco e faço o que é possível, a abraço.  - Não preciso de abraços agora e muito menos de suco de maracujá, tenho que terminar isso.   Lhe beijo a testa e vou pra cozinha e coloco a água pra esquentar. O café no filtro e às duas da manhã está pronto. Deixo uma xícara do lado do computador, com pouco açúcar.  - Está aguado.   - Libera mais cafeína assim.  E ela me olha, com aquele olhar que sempre fez. Pediu desculpas sem abrir os lábios e eu a disse que a amava sem abrir os meus. Caí no sono em uma poltrona do outro lado da sala a vendo trabalhar. Sorte minha que um beijo foi o meu despertar. 

Porque vamos terminar a garrafa - Não foi dessa vez, só tenho 16

 Eu juro que se eu pudesse pulava num avião contigo e ia para as praias no Piauí, pegava um táxi e me enfiava em suas cobertas de noite. Te levava para a praia e acampávamos em uma barraca na Ilha do Mel fumando maconha. Quebraremos as leis e nos refugiaremos no México. Quem sabe eu até arranje um emprego como atendente de lanchonete? Desse jeito posso te dar um futuro Bukowskiano quem sabe.

Troco flores por um sorriso torto (teu).

 - Onde estava? - Para de tocar Here Comes The Sun para começar a tocar Strawberry Fields Forever.    - Trabalhando oras, você sabe que fico até mais tarde nas sextas feiras.  - Está sem calcinha? - Larga o violão.  - Estou, era uma despedida de solteiro.  - Você me prometeu...  - Não é porque eu me despi completamente que quer dizer que coisas a mais aconteceram querida, você sabe que sou sua.   - Não gosto de que os outros brinquem com os meus brinquedos. - Amanda beija o ventre de sofia.  - Agora sou só seu brinquedinho? Cade o seu feminismo agora?   - Admito a minha hipocrisia. E você? Assume a sua? - Um shorts de couro cai no chão.  - Admito que gosto de provocar outros, mas assumo que só quero você. - Ela deita sua amada no chão.  - Vamos lá, você que queria um amor digno de Cazuza.   - Quero a sorte de um amor tranquilo... Com sabor de fruta mordida. - Suspira.  - Você sabe não é? Eu sou a fruta mordida, aprendeu a metáfora.  - E a minha tranquilidade.

Com todas as regalias - 4

 Francisco.  Sua preocupação me lisonjeia, porém me frustra em certo aspecto querido. Pedi com carinho para que seguisse em frente, entenda que eu o segui. Penso em ti todos os dias e nos seus filhos que como queria que fossem meus. Acho que gostaria de saber que tive um, tem dois meses agora. O nome dele é Adriano, o pai dele é francês, foi concebido na minha estréia, lembra-se? Você não estava lá e eu precisava de alguém. É maldade te fazer isso? Sim, mas também é maldade tua me retratar daquela maneira em seus livros. Perdão, mas não é toda garota russa que é vulgar. E realmente, a história foi boa, mas não gostei desse seu estilo de escrita. Você é poeta, não chulo. E sim, desenvolvi português fluente, não graças à você. Ainda beijo seu retrato, ainda sussurro teu nome no banho, mas a boca fica amarga quando isso acontece. Você sabe que nunca conseguirei te odiar. Espero que esteja barrigudo, porém feliz. Você merece a felicidade. Te quero longe de mim.  Sua Nina. 12/05/2001

Porque vamos terminar a garrafa - Amanhã é dia 23

 Uma cama sem lençol repleta de pequenos pedregulhos e pedaços de teto é a decoração do aposento. Uma atriz de Pulp Fiction cantando Chico Buarque me passa na mente e coloco uma camisa grande o suficiente para chegar às minhas coxas. Conto as estrelas e me sinto num filme, me deito na sujeira logo antes do banho e sinto o cheiro de reboco no lugar, logo logo eu troco de quarto e as agonias que passei aqui vão comigo, não nos esquecemos dos temores da pré adolescência tão rápido (se bem que ainda acho que tô na infância), os livros recheados de romantismo e o terror de um mundo novo. Será que cresci nesses seis anos nesse quarto? Ou só nos últimos três pelo menos? Tive um coração partido, unhas roídas, notas baixas, notas altas, livros empoeirados e cartas guardadas com carinho. O que falta?  Roupa bagunçada tem, travesseiro manchado de rímel borrado também. Vestido bonito mal cuidado com certeza. Maquiagem estragando. E ainda assim tô com os dois pés atrás pra sair desse quarto pequen

Blasé

 Camisa branca e calcinha negra em uma varanda na chuva, escolha imprudente por mil e um motivos, morar no coração da Riachuelo era apenas um. Acaba de acordar e já está maquiada, se apoia nos cotovelos e remexe os quadris, fuma um cigarro e escolhe alguns vinis. Quem liga para as críticas ou as décadas passadas? Isso renderá uma boa pose.

Nunca vou ser Leminski.

"Não precisa morrer de verdade pra morrer por amor" - Me aquece essa sensação única inexplicável,  que dure mais que o último namorado. "I'm falling in love for the first time, don't you know is gonna last? Last forever..." "Amar é se apaixonar pela rotina.  Adorar a sua cara amassada e os seus cabelos lisos bagunçados quando acorda" Me interromper só vale se for com beijo.

Não é linda, somente bonita.

 Alguns vários idosos decoram a praça, uma cafeteria na frente e uns maconheiros alguns metros longe. Ela esconde os cigarros na bolsa e sorri. Ele a elogia, ela não entende e se sentam num banco, tempo suficiente para um beijo ser roubado e um suspiro arrancado. Um sentimento juvenil que havia morrido se renasce. Uma mão boba perdida, uma terceira se localizando e a oitava lá se estabelecendo. Um lábio manchado e uma nuca acariciada são resultados de uma tarde passada em um banco. Hora de ir embora chega, ele não a quer deixar ir e ela não quer abandoná-lo. Mas sabemos que ninguém pode se permitir a sentir algo, fingir isso pelo menos. 

Sob um céu sem estrelas

 Me ensine a fazer composições, me abrace por trás enquanto ajeita o violino em meu pescoço. Ou aperte meu diafragma para eu atingir as notas, me faça atingi-las; seja meu tutor nesse novo mundo assustador e acolhedor. Toque musica, toque-me. Algumas velas são o suficiente. Se por algum acaso o meu batom borrar durante o treino, te prometo que ninguém mais verá a performance.

Coisas que eu sei.

 O toque da música da abertura do Shrek me acorda, ainda estava escuro mas como tinha acabado de mudar pro horário de inverno não me incomodei, a raiva veio foi quando eu percebi que era três da manhã ainda.  - Alô? - Bocejo, murmuro, reclamo ao mesmo tempo.  - Se eu morresse agora, viraria uma mártir?   - Ahn? Roberta? Que diabos você quer?  - Vamos lá, arranjei um revolver. - Ela tira a trava pra fazer o som. - Sua resposta muda tudo. Vamos lá, sente minha falta? Se eu morresse agora viraria uma mártir?  Ela me vem com esse papo depois de meses de sadismo e loucura, depois de arruinar a minha vida começa com drama. Às três horas da manhã!  - Vai se ferrar. Arranja uma vida, um emprego.   - Responde.  - Não, porra, terminamos por um motivo.  Ela atira. Meu mundo para. O desespero brota na minha mente.  E só ouço a risada dela no outro lado da linha.

Porque vamos terminar a garrafa - Qual o porquê de beber sozinha?

 Eu gostaria de viver em um mundo colorido, se me perguntassem. Apesar do frio ter a sua dose de beleza, ele pertence à noite. Noites frias com companhia e dias quentes e tranquilos sozinha, sozinha é diferente de solitária, mantenham isso consigo. Aquelas coisas bonitas e bobas, estética de filme francês com atores italianos; afinal gosto de pessoas que saibam se expressar. Também gosto de carinho, chocolate e mar. Pessoas que toquem violão melhor do que eu e que me ensinem coisas novas. Mas não que saibam tudo sobre tudo porque também gosto de ser inteligente.  Alguém que me chame de "meu bem" enquanto me roça a nuca. Músicas românticas são boas, toque algumas. Não faço questão de um castelo, um apartamento ajeitado com lugar para colocar flores está ótimo já. Algumas amigas para tomar uma piña colada de vez em quando (não bebo cerveja), ou um Mojito.  Gosto de canções de ninar e bebidas doces e quentes. Não preciso de frio para tomar um cappuccino, existe ar condicionado

Vamos bater um papo um dia desses.

 - Eu te odeio.  - Somos duas.  Tira um maço de cigarro da bolsa, acende.  - Que diabos você está fazendo? - Arranca o cigarro da boca dela. - Quer morrer?  - Pensei que não se importasse, você não devia de qualquer jeito. - Acende mais um.  Uma arranca o maço da mão da outra e joga no ralo do esgoto, mas deixa ela fumar aquele.  - Tinha que te chamar a atenção de alguma maneira, sabe, foi como atirar no escuro, nunca soube se você estava prestando atenção. Foi a minha mãe que te ligou?  - Tua irmã.  - Me lembre de agradecer ela depois, afinal tu ta falando comigo. Mas ela revelou a minha humilhação. O que deverei fazer com ela?  - Me fala que tipo de merda tu ta usando.  - Nada demais. O de praxe.  Um tapa marca a cara.  - Típico, certo? Relaxa, agora que sabe o que me fez, pode ir embora de ego massageado.

Seu balão do bob esponja

 Morena, descansa em meu pobre peito porque a música a seguir é muito bonitinha. Tu é um poço de bondade e para ti a banda devia passar, cantando coisas de amor. Tão coitada e tão singela, cativara o forasteiro. Mas a minha estrada logo na saída entortou. Não duvido que vários homens te amaram bem mais e melhor do que eu, porém a minha porta está sempre aberta. Mas me diga como partir, se já joguei tudo fora, e fiz mil e um desvarios. No tempo da maldade nem tínhamos nascido. E agora lhe digo que sem ti não pode ser, já que tu é meu doce predileto.

Maldita Capitu.

 - Sim, doeu. Relaxa, não tenho problemas em falar se a ideia te agrada tanto. - Ela pega um cigarro e olha sugestivamente pro isqueiro em cima da mesa.  - Já passaram esses tempos garota.  - Eu sei.  Ela começa o processo metódico de acender o cigarro. Prender com os dentes, depois segurar com os lábios e só então colocar a chama no veneno entubado. Não estava com nenhum de seus batons, era estranho. Não era tão enigmática sem maquiagem, mas continuava bonita. Descruza e cruza as pernas, se apoiando em outro lado do corpo. O ritual acaba.  - Quero meus sutiãs de volta.  - E eu minhas camisas.  - Esquece, não me deu presente de aniversário.  - Esqueça seus sutiãs.  - Vai fazer o quê? Emprestar para as putas que contratar?  Jogo a sacola com as tralhas dela na mesa. Derrubo a xícara de café expresso. Ela dá uma olhada, e sorri para mim, satisfeita e cínica.  - Até os lubrificantes você devolveu. Que meigo.  Ela tira uma caixa de madeira pesada da bolsa. Uns papéis estavam lá

Segura que eu corro.

 - Toma mais um trago.  - Depois te pago.  - Mas qual! Relaxa. Me conte.  - Sabe, tinha me dado melhor com a Beatriz.  - Você disse o mesmo dela com a Amanda.  - Mas dessa vez é sério. Antes preguiçoso do que corno.  - Mais um trago.  - Assim não consigo voltar pra casa.  - E lembrar de nada, te dou carona.  - E a Marina?  - Faz uns seis meses que terminamos.  - Oras, quanto tempo que não te vejo?  - Mais de um ano.  - Como pode né?  - Como pode.  - Lembra quando a gente dormia um na casa do outro porque tinha muito pouco tempo pra brincar?  - É, acho que se fica velho quando sobra o tempo.  - Talvez.  Pedem uma porção de polenta frita e a conta pro garçom, também dois copos de coca cola pra cada um. Ricardo nem se quer consegue se levantar direito. Mas isso não importava muito, o importante era fazer questão que ele dormisse de lado. Pegou o carro e jogou o colega no sofá de casa.  - O que somos nós Marcos? - Chora o amigo. - Meia idade e nem se quer casados.  - Eu

Os gigantes são moinhos de vento

Era previsível. Uma garota de classe média esperando para que algo acontecesse não que ela estivesse disposta a fazer algo para que isso acontecesse e eu como apenas mais um rapaz me apaixono, trinta anos na cara e podia já estar procurando uma mulher, mas como diz meu tio “só fica com mulher mais nova quem não tem capacidade de arranjar uma da sua idade” estava certo o velho diabo bêbado no fim das contas. Contentava-me em dois empregos de meio período, um em uma cafeteria e o outro num boteco. Porque em pleno século vinte e um ainda pretendo ser escritor, nunca publiquei nada e provavelmente nunca irei, mas tenho três cadernos repletos de rascunhos. Desses três, um inteiro era pra ela. Nunca a deixei ler, mas provavelmente a danada já tinha bisbilhotado, tanto que quando terminou comigo fez referencias maldosas sobre coisas que passamos. Não sei se era porque tinha uma memoria decente ou porque realmente havia lido, mas qual! Sou cismado.  Conhecemo-nos quando eu estava procuran

Left the kids alone.

 Acho que faz parte perder a noção do tempo. Entendam, quando se está trancado na porcaria de uma jaula onde realmente decidem deixar comida ou bebida somente quando você dorme para te foderem ainda mais, a loucura acaba virando uma realidade aceitável. Na hora do "interrogatório" como eles chamavam (apesar de ninguém perguntar porra nenhuma) um teve a coragem de me olhar nos olhos, mas foi só pra falar:  - Achamos que você tinha morrido, dormiu por umas trinta horas seguidas. - Trinta horas que pareceram trinta minutos. Isto posto e ele joga o punho dele contra meu maxilar. Não existe aquela porcaria de "minha vida passou toda pelos meus olhos" ou "pareceu que foi o momento mais longo da minha vida", não sei se é porque eu sabia que eles não iam me matar (tira todo o propósito de manter alguém preso) ou se porque eu estava impressionado com a facilidade em que conseguiram me arrancar dois dentes. Eu podia desmaiar, seria mais fácil. Mas sal me era enfiad

Ela faz cinema, ela é demais.

 - Qual o seu problema?  - Cigarros, vinho e heroína.  - Estou falando sério.  - Eu também, posso morrer se errar a quantidade.  - Você descobrirá algum dia que a vida não é um filme. Que não seja tarde demais.  - Relaxe querido, já sei que não existe nenhum botão de pause ou replay. 

Bebe um gole de cachaça e acha graça.

 O Terno branco com o chapéu combinando era um uniforme perfeito. Uma gravata que um dia era vermelha e no outro, virada do avesso, preta. O companheiro do bar tudo via tudo ouvia.  - É natural, alguma hora cura. - Ele sorri para a garotinha chorosa enquanto não pede identidade pelo cigarro e a bebida, a conta é paga na cama dele.  Quem entra chorando baixo sai aos prantos do boteco. Os homens riem e parabenizam, as garotas se agoniam e suspiram porque não tinha como resistir aos sorriso branco com gosto de bala.  Dançava com todas e toda noite escolhia uma para casa, desvirginava menininhas inocentes e não ia para igreja, porém jurava que seu lugar era no céu ou como um fantasma num cemitério na pior das hipóteses. Mentia o nome e dava o número errado para não apanhar de pai emputecido, jurava que o filho não era dele e ia pra praia de carona. Cheirava cocaína com os amigos sem pagar por nada, ganhava o dinheiro no truco e nos dados.   O mundo dele estacionou no final do sécu

Porque vamos terminar a garrafa - Já sei chutar a bola

 E com as pernas bambas de nervosismo e as mãos suadas na sacada de um shopping um garoto dois palmos mais alto que a menina a abraça. Coloca as duas mãos em uma cintura em processo de desenvolvimento e uma língua grande demais invade a boca desajeitada. Algo quente demais e com sabor estranho assusta, e o que deveria ser o momento mais romântico da vida de uma garota vira o mais traumático.

Roist that Rag

 Os olhos melancólicos tentando imitar a geração passada. Os dedos preguiçosos tocando a base de um blues enquanto imagina uma gaita bem pausada e programada, e enquanto está sozinho em seu apartamento, Nicolas toca bem.  Vai dormir tarde porque a estética não se forma sozinha, se engasga com os cigarros de palha e a guitarra dele toca a música favorita dela sem ele nem se quer saber disso. Um artista tem o hábito de formar suas fãs. Algumas são loucas o suficiente para se meterem na cama do condenado. Não era Kurt Cobain, mas era próximo o suficiente, só rezava para achar a sua Courtney e poder cair morto de uma vez.

Pare de sussurrar, infelizmente decidi crescer.

 Tentei me vender como um símbolo sexual (sex symbol se preferir), mas não deu certo. Os olhos marcados, o hábito de lábios semi-cerrados. Saias curtas com meias rasgadas, bitucas apagadas e os lábios berrantes. Somente nos becos impregnados com urina e nos bares repletos de bárbaros eu era uma estrela. Infelizmente a rejeição me fazia chorar. E em algum momento troquei as saias por calças, mas continuava com o decote. E fumava sozinha, ao lado das garotas que fumavam em grupo, porém uns cinco metros longe. E tinha um garoto, acho que o único do colégio que os pais sabiam que ele fumava.  - Como você está? - Ele me pergunta, quase por cortesia. Soava demais como desprezo pra ser interesse de verdade.  - Não falo com estranhos.  - Mentira.  -...  - Ok, fale comigo até deixarmos de sermos estranhos então.  E conversamos, ele diz que me conhecia dos becos malditos e dos bares fedorentos. Eu falei que o reconhecia e que ele tocava bem. Que eu gostava do som da bateria dele. Nos conhe

Chegou a conta, esteja pronta, aquele ponto em que tudo muda.

 Eu fumo um cigarro e bato o carro esperando que você veja. Na sombra de um olhar repleto de desdém e gelo, me rebaixo à fazer uma cena no meio da rua, ficando impossível manter a sanidade e o QI enquanto se ama. A loucura das paixões que sinto por você me consumem de tal jeito que realmente, acabo te amando mais do que você a si mesma garota. Aprendo a tocar as músicas que você gosta e enquanto você se vai embora em neblina eu sou a última a chorar.
 - Eu sempre fingia dormir um pouco quando nós acabávamos de fazer amor.   - Pra quê isso?  - Pra ver o que ele fazia, oras. No começo ele até me fazia um carinho antes de me abraçar e dormir. Mas em dois meses ele nem se quer dormia virado pra mim mais.  - Que rápido.  - Menos que você. 

Porque vamos terminar a garrafa - lhe servindo das dores de corno

 Eu faria tudo de novo se me perguntassem, dançaria Elvis e ouviria metal ao seu lado, quem sabe se repetíssemos a história vezes o suficiente nós realmente iríamos até Las Vegas de moto (não uma qualquer, uma Harley Softail). Me apaixonaria pela sua psicopatia mais uma vez e ficaria louca com as suas psicoses que perdoaria em seus belos olhos verdes. Em algum momento eu beijaria outra pessoa, mas você fingiria que perdoou e nos casaríamos em um cassino mesmo assim.

Solos de guitarra me conquistaram

 Algumas palavras bonitas. Um pouco de poesia, flores e chocolate. Leve-a para dançar. Faça-a sorrir. Deixe-a sorrindo mesmo quando for embora.  No dia seguinte, mande uma mensagem. Mantenha o sorriso lindo dela.   Ao decorrer do dia, seja divertido, engraçado. Educado.  Depois de uma semana, ela lhe falará as coisas. Dirá os problemas dela.  Em três semanas, ela vai chorar. E você secar as lágrimas.  Quando você finalmente perceber que não pode perdê-la. Ficar sem aquele sorriso e então ver que esperaria 2000 anos por ela. Diga que a ama.  Ela dirá que te ama também. E a primeira semana será perfeita. Ela terminará com os outros namorados.  Porém, na segunda semana, vocês terão a primeira briga. Ela ficará com medo, fria, insensível.   Dirá que não te ama.   Passará 48 horas desesperada.  Você vai beber. Ela também. Ela te ligará bêbada.  E dirá que te ama de novo. Você não vai acreditar. Mas ficará com ela. Pelo simples motivo de que ela vale a pena.   Então e

Between the pretty Jenny and the Smart Jenny

 - Me chame de estúpida, mas eu quero um amor de domingo que ainda esteja lá no próximo sábado de noite.  - Ah querida, nunca te chamarei de estúpida, apenas ingênua... Ocasionalmente.  - Pare, sabe como eu amo Hepburn.  - Deveria gostar mais de Katherine do que de Audrey.  - Só quero um pouco do amor boêmio...  - É o único que nós temos querida. - Aponta para as meias 7/8 com as cinta-ligas.  - Não desse. O outro. Moro em Paris mas nunca fui para o Café de La Flore, nunca entrei no Louvre. Quero um homem que me leve para esses lugares.  - Infelizmente você escolheu a Hepburn errada.

txurururu

 E terminando a segunda garrafa da semana ela se senta no balcão da cozinha ouvindo as músicas que não ouvia fazia muito tempo. Coloca a meia sete oitavos de uma maneira sensual, espia por cima do ombro, morde os lábios e vai dormir mais uma noite sozinha.

Manchas no carpete

 - Volte pra ela. - Ela me diz, exalando à nicotina.  - Será?  - Vamos lá, três anos se passaram e ainda pensa na moça, a não ser que vocês se encontrem ocasionalmente por todo esse tempo já virou uma coisa doentia.  O meu silêncio me condena. Ela joga o cigarro em mim, queima minha mão. Entendo a raiva dela. Desses três anos namoramos um.  - Podia ter me falado, Brutus.  - Ah, gostava de te deixar pensar que era inferior para me trair.  Ganhei a taça de vinho barato na cara por essa. Mereci.  - Você sabe que eu também fiquei com ela né?  - Aham. - Respondo, lambendo o vinho que ficou na camisa.  - Podíamos ter aproveitado pra fazer um ménage.

Sempre esconda algumas cartas nas suas mangas

 A biografia de um escritor sempre é um porre porque para cada fato simples que aconteceu temos um dom de adicionar várias linhas a mais porque infelizmente quantidade acaba contando para a qualidade do produto. Mas tem suas vantagens, afinal estar sozinho e triste é sinônimo de inspiração e estar de bom humor e tranquilo também.  Podia começar escrevendo sobre os meus mil e um amores, e as mil e duas decepções. Podia falar em como foi viver de boemia, mas é tudo mentira. No fim das contas foram apenas 7300 dias realmente normais. Tiveram momentos ótimos e momentos péssimos, mas sempre aqui. Mas não vou fingir que foi ordinário.  Nasci em Brasília, morei um pouco no Rio de Janeiro mas a minha adolescência e tentativa de virar homem foi em Curitiba. Cidade chuvosa do capeta, mas eu gostava. Ainda gosto, não saí daqui até agora por um motivo, passei alguns meses longe, mas voltei.  Antes de pular para o final da minha fase de espinhas, temos que recapitular uma coisa; eu tive vári

Com todas as regalias - 3

  Meu Francisco.  Tomo aqui a liberdade de dizer-te adeus. Me dói, mais do que tudo, mas você sabe o motivo. Não temos condições, você tem uma família e eu sou somente mais uma. Sou apenas mais uma que se perdeu nessa ilusão, mas nós dois sabemos que não podemos sair das páginas, o nosso afrodisíaco  é o drama e a saudades a nossa história. Quem sabe você escreva sobre nós algum dia? Me deixe uma carta quando você morrer. Algo romântico e piegas, digno de nós. Nunca te agradeci pelas crônicas que me mandou. Não estava acostumada com esse tipo de literatura, acho que é típico de russos termos moralismo e repreensão em tudo, fiquei chocada com a simplicidade cotidiana de sua terra. Vou passar dois meses no Brasil, não vou te contar nem onde nem quando. Você tem uma esposa e filhos que te amam. Nós sabemos que sou nada comparado, não cometa o mesmo erro de vários amantes mesmos. Não me valorize de tal maneira.  Ninya Vishna. Protagonista de minha poesia,  Estou com saudade

Mrs. Polly

 A garota que samba sozinha, tem companhia para a salsa quando na realidade precisava de uma valsa tranquila. Cantarola sozinha de pijama e dança ridiculamente na rua. Nos sonhos improvisa um jazz com um garoto na surdina que toca blues. Acorda e vai sapateando até o colégio onde em dois segundos termina uma prova com uma trova simpática. Parecia gringa de tão estranha, mas não era, fazia parte de um mundo comum, tentava pintar ele de divertido.

So irresistible

 - Se você estava se sentindo sozinha, por que me disse que não estava?  - Você sabe porque não.  - Mas você é a garota boba da história né?  - É, fiquei sabendo.   - É, realmente é teu isso de ficar vindo e indo.  - Pare, você nem se quer me conhece, mas é gentil por tentar.  - Fazer o quê, você me chamou a atenção.  

eu te prometi né?

 Enquanto alguns versos formam poesia e beleza, uma palavra pode destruir um sonho de doze anos que uma garota espera para ir para a disney. Ou somente uma música errada no ônibus. Pois é menina, te devo toda a falta de inspiração do meu dia.

Be my Bonnie

 Em algum momento enquanto tomávamos cerveja e ríamos de piadas antigas, ela me olha nos olhos, era um desafio. Por dois segundos me chamou para beijá-la no banheiro, ao mesmo tempo em que abraçava o namorado (meu amigo por mera coincidência dos fatos) e se levantava para dançar.  E era a única no nosso grupo social que tinha essa habilidade. Outros garotos se aproximavam e ela se afastava com o sambado, ria e me olhava. Com o mesmo olhar.  Tomei um gole da caipirinha dela e fui para o banheiro.

ópera do mallandro

 Chega para o churrasqueiro pedindo emprego assando carne, comia durante o expediente e guardava uns quilos de picanha e mignom. Tentava limpar o contra-filé para chamar de maminha e com um sorriso simpático e um bronzeado atraente, conseguia. Falava sobre o preço das carnes enquanto discutia sobre a inflação e a Cléo Pires. Numa mesa de sinuca conheceu um banqueiro que lhe deu um emprego melhor em uma de suas várias lojas. Fazia uns desvios, culpava outro atendente e por assim melhorou um pouco de vida. Todo sábado ia para o bar e com o passo de axé conseguia a morena bonita. Mas uma noite ele conheceu uma morena um tanto diferente.  Uma morena normal, com o colo suado de tanto dançar e os cabelos emaranhados, passaram a noite em um motel de beira de estrada, mas ela se ofereceu para dar carona para ele. Uma coisa levou a outra e em alguns meses estavam morando junto. Em um ano se casaram e logo tiveram filhos. Uma vida simples com churrasco no domingo e ano novo na praia.  Quando