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Pare de sussurrar, infelizmente decidi crescer.

 Tentei me vender como um símbolo sexual (sex symbol se preferir), mas não deu certo. Os olhos marcados, o hábito de lábios semi-cerrados. Saias curtas com meias rasgadas, bitucas apagadas e os lábios berrantes. Somente nos becos impregnados com urina e nos bares repletos de bárbaros eu era uma estrela. Infelizmente a rejeição me fazia chorar. E em algum momento troquei as saias por calças, mas continuava com o decote. E fumava sozinha, ao lado das garotas que fumavam em grupo, porém uns cinco metros longe. E tinha um garoto, acho que o único do colégio que os pais sabiam que ele fumava.
 - Como você está? - Ele me pergunta, quase por cortesia. Soava demais como desprezo pra ser interesse de verdade.
 - Não falo com estranhos.
 - Mentira.
 -...
 - Ok, fale comigo até deixarmos de sermos estranhos então.
 E conversamos, ele diz que me conhecia dos becos malditos e dos bares fedorentos. Eu falei que o reconhecia e que ele tocava bem. Que eu gostava do som da bateria dele. Nos conhecemos da maneira que pessoas se conhecem, normalmente. Ele não me contava nada sobre ele e eu nada sobre mim, somente sobre nós. Nossas músicas favoritas, nossas manias. As marcas de cigarros. E fomos para a cama juntos em duas semanas de convivência diária, sem encontros e nem bebidas, casa dele e lençóis sujos. E nenhum de nós sabia, depois de três meses, se éramos namorados ou não, mas nos contentávamos com aquilo. Ele comia outras garotas, eu dava para outros caras e olhávamos para trás enquanto tudo isso acontecia. Eu era a esposa dele, ele o meu marido e o nosso relacionamento era o purgatório. Em algum momento ele parou de ter as amantes dele (se é que esse é o termo certo) enquanto eu me apaixonava pelo meu psicólogo, acho que o único homem com uma formação em qual a minha vulgaridade funcionava. Ou talvez ele fosse somente um daqueles onde uma donzela indefesa era a melhor coisa possível. De qualquer jeito, ele me deu um encontro. Esperou até o terceiro para dizer:
 - Faça amor comigo até deixarmos de sermos estranhos.
 E não sei se fazia parte da terapia ser amante do meu psicólogo, mas o meu namorado concordava que era o melhor.

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