Eu me mudei para Paris por causa dela. Claro que a cidade em si é maravilhosa, me conquistou como uma lata de sardinhas conquista um gato, mas ela era a cadela no cio que atrai os cachorros, não que ela fosse uma bitch mas era irresistível. A conheci num museu, não vou citar aqui o nome por questões éticas, mas era um desses grandes e famosos, lotados de turistas, garotas russas e japonesas tirando fotos com flash ao lado de Van Gogh e Monet e turistas italianos furando filas. Em uma sessão havia o nascimento de Vênus, noutra as artes decorativas; e ela no meio do caminho. A pele lisa, branca, firme e perfeita; lábios delineados por artistas e as ondas vívidas do cabelo. Ela era a minha Afrodite. Duas vezes por semana ao mínimo eu voltava pra lá. Ser crítico de artes ajudava muito o meu trabalho, e eu tinha a sorte de sempre encontrá-la. Ficava horas a observando, a amando em silêncio, ela devia ter notado, mas se notou não demonstrou nada, só ficou impassível, neutra, linda.