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Mostrando postagens de agosto, 2013

The times, they are a changin

 - Pode sair agora pai?  - Vai mesmo fazer isso?   - Claro, digo, já deu tempo né.   - Se mudar, e casar. Tudo junto?   - É.   - Bem, já te disse o que eu penso. - Ele toma um gole da cerveja e olha pra trás, vendo uma foto que tirei dela. Os cabelos no rosto, lábios sendo mordidos com um sorriso. - Ela é ótima. Que ela te aguente.  - Amém.  Noite já, o churrasco acabou e está aquela bagunça na cozinha e na grelha. Só o quarto que está com um perfume surpreendente de baunilha que ela exala. E aquele sorriso amarelo que ela tem no sono, com uns resquícios de maquiagem ainda. Aos poucos se pega os hábitos da moça. Me deito do lado, beijo sua bochecha. Penso em acordá-la. Mas ela acorda sozinha.  - Eu aceito. 

In Paris, dreams come true at midnight.

 Em uma tarde ensolarada um grupo de garotas ria alto em Versalhes. Saindo do palácio, dois pares de moças. Uma morena de cabelos escuros, outra loira de pele pálida, uma falsa-ruiva com decote e Rosana. A única que não falava francês, a única que apreciava a frança. Deslumbrada com o ouro do palácio, seus olhos brilhavam. Ficou sozinha por lá, passeando pelo jardim, esperando pelo garoto charmoso que deveria abordá-la com um livro embaixo do braço. E apareceu o encantador francês com olhos de Chico Buarque. Só que ele não veio falar com ela. Somente a encarou e virou-se de costas.   Ela vai até ele, com um sorriso pintado de rosa.   - Parlez vous Anglais?  - Pas.  - Portugais?  - Oui.   - Prazer, Rosana.  Como poderia ele falar que seguira ela e as amigas até o castelo somente para esperar uma oportunidade de chamar para um café? Era o sonho da garota. Que suspirava e falava enquanto o rapaz somente a seguia com um sorriso e olhar calmos. Ela falava sobre Van Gogh e ele

Além de Palavras Bonitas: Nota do Autor.

  E de todos os lugares do mundo para nos encontrarmos, te vejo em Paris. Um chapéu de abas largas e um sorriso com lábios pintados de laranja. Você me vê, eu te cumprimento com o Brandy em minha mão, você me aponta para uma amiga que segue a dica e vai embora, entrando na loja da Chanel. O zênite te ilumina da mesma maneira que no nosso casamento, você não muda nada, Botox é algo impressionante.   - Não mudou nada querida.   - Você sim. Cabelos brancos e rugas. Um novo prêmio literário. Bom saber que você está bem.  - Chegou a ler o livro?  - Não. Tive medo que seu primeiro romance fosse sobre mim.  - Ele foi.  - Deve estar repleto de coisas maldosas.  - E está.   Aproveito ela pedindo um café vietnamita para o garçom para analisar aquele corpo moldado por academia e cirurgia. A bela flor conseguiu resistir à anos de tempestade. E conversa vem, conversa vai, crepes foram devorados e um pôr-do-sol pintou Notre Dame. Seis badaladas marcam o crepúsculo e o frio começa a

Garotinhas Fajutas

 Um punhado de corações partidos durante os anos, uns olhares de maquiagem borrada e até alguns garotos correndo atrás, por que não? Tudo isso misturado com uma moda de sorrisos falsos e tristeza valorizada. Uma geração tentando repetir duas anteriores, onde café e cigarros eram moda e protestos não eram uma opção. Todos querem imitar seus pais. Todas querem imitar suas mães.  Mulheres que lutaram porque não tiveram escolha, ou se orgulham de suas filhas ou se preocupam por seus garotos. Alguns posteres em baixo do braço, alguns seios semi-desenvolvidos à mostra e está feito.  Alguns riem ao chegar em casa, outros chorar da dor da bala de borracha.  Trinta anos atrás, eram de verdade. 

Porque vamos terminar a garrafa - Sotaque

 - Eca!  - Ainda não gosta?  - Eu deveria, mas erva mate não me atrai.  - Sabe, não tomar chimarrão te torna uma espécie de pária.  - Talvez, mas continua sendo amargo. É que nem cerveja.  - É tudo questão de hábito.  - Por isso mesmo. Pra que diabos vou me habituar com algo que é ruim e faz mal?  - Chimarrão não faz mal.  - Mas é ruim.  - Ah, vamos lá, adira ao sistema.  - Tererê serve?

Foi ontem.

 O sol do domingo vai embora a medida que nos falamos. Uma garoa incômoda começa, mas como você não se pronuncia eu fico quieto. O tempo de você soltar os seus cabelos e deitar na toalha na grama é o tempo de que a chuva engrosse e o seu vestido, outrora esvoaçante, se cole em seu corpo. O sorriso provocador dela, me perguntando sem abrir a boca até quando eu vou aguentar, ela sabe que eu odeio frio. E chuva então?   Tiro a jaqueta de couro e a uso como travesseiro como resposta. Ficamos lá deitados, eu começo a espirrar e a quase tremer de frio. E ela pega na minha mão. Por mais assustador que pareça, aquele contado com alguns centímetros quadrados de área é o suficiente para fazer o frio passar. E somente alguns milhares de palavras bonitas descreveriam tudo aquilo. Coisas que eu poderia passar uma tarde descrevendo, ela resume em sete palavras.  - A vida é mais interessante com você. E é mesmo.

O futuro da nação, nem chegue perto.

 Tinha dinheiro pra comprar calcinha rendada e camisola de seda, podia pintar o cabelo para tirar as manchas de sol que sobraram do verão em Barcelona. Usava roupa íntima de algodão e pijama de malha. Tinha até um camisão mais curto perdido, com somente um par de lingerie rendada no guarda-roupa.. O dinheiro ganho, além de ir para o apartamento e suas flores, se dividia entre as fantasias em seus livros, viagens peregrinas e comida. Tinha um contrabaixo que sabia tocar apenas duas músicas, um violão com o qual já pediu esmola de decote e shorts curtos com as amigas e um piano ao qual se dedicou durante a adolescência. Uma coleção de ex-namorados, todos que duraram por mais de seis meses e não a aguentaram por mais que isso. Alguns livros velhos, vários novos. Profanava-os colocando xícaras de café quente sobre eles. Dormia até tarde nos finais de semana, porém de segunda a sexta escondia as tatuagens com blazers, penteava os cabelos e se maquiava impecavelmente para auxiliar o preside

Porque vamos terminar a garrafa - Pés com bolhas

 No meio do banho, um sorriso borrado aparece no rosto da garota que esperava com os cabelos encharcados na porta. Uma encarada quase constrangedora que definiu tudo de uma maneira estranha. Palavras nervosas saindo de lábios mordidos. E uma risada caminhando para o quarto enquanto a outra parte de tudo ficava com medo do que podia acontecer.

Tatuei uma rosa no tornozelo para me lembrar que Aquiles perdeu.

 Tragando o cigarro da noite passada ela liga o rádio e pula ao som de bandas que não ouvia fazia tempo. Se maquiou, colocou shorts de couro, bota de cano e uma camisa cujo comprimento chegava às coxas. Abriu a garrafa de vinho que havia guardado para comemorar o seu aniversário, e ligou para algumas pessoas. Chamou ninguém para ir até sua casa, mas quem perguntasse ela responderia que estava em festa. Quase um litro de uvas fermentadas depois, finalmente estava tonta. Pronta para sair de casa.   Comprou um maço de cigarro de palha para experimentar, conseguiu desconto cantando o atendente e caminhava pela praça do cavalo babão como se fosse para uma boate no Brooklyn. Colocando uma peruca no cabelo, e tirando a camisa entrou no salão e começou a trabalhar. Algumas gorjetas na calcinha, outras no salto do sapato. Até LSD ganhou naquela noite. Cabelos encaracolados saíram por baixo dos loiros de plástico em algum momento, e ela teve sua identidade de volta. Aquele pequeno detalhe fez

Me lembrando de casablanca

 Em um café com nome e donos já mudados e pratos e bebidas permanecidos, um novo casal perambula. Se olham, se encabulam. Hesitações e clichês. Demorando sempre para tomar iniciativa; passou-se muito do tempo de que o garoto inventava uma desculpa besta para ela vir ao teu lado e roubar um beijo delicado. Agora cada um esperava algo, casais mudaram, atitudes se metamorfosearam, o café pintou as paredes. Estações mudaram e por algum motivo nenhum outro beijo foi lá roubado.

The gentleman's year

Um marmanjo tentando fazer a vida com apostas e jogos. Um cara salva a pele dele; com uma faca, habilidades incríveis e nenhuma palavra. Descobre a vida na Argentina aos poucos, se apaixona pela prostituta. Eventos ocorrem e no fim ele se dá bem, charuto na boca e sorriso de Bogart no rosto. O momento em que você percebe que somente a classe econômica define se a vida vai virar filme ou não. Pois a mesma história acontece em um boteco de estrada.

Clarisse

 Todos encaram, rindo nas costas e falando coisas maldosas. Todos os dias ela finge não escutar, ou achar graça. Encolhida no banheiro de sua casa somente pensa no que poderia fazer, o que seria mais simples e percebe que não seria justo se matar. A vida era dela e não dos outros para opinar.  De manhã acordava, pensando em falar algo. Em mudar. Ficava quieta enquanto os velhos nojentos se esfregavam nela no ônibus, ou faziam piadas sobre seu corpo. Dias vêm, dias vão. E ela e os seus vários arranhões, esperando a rotina acabar. 

Estava guardando essas palavras para agora.

 As coisas ficam mais calmas com o tempo. Talvez o timing foi errado, mas o sentimento é o mesmo; quem sabe que se, eu tivesse, quem sabe, te falado mais cedo as coisas tivessem sido mais fáceis. Mas bem, se foi tudo culpa minha agora peço-lhe desculpas, do fundo do coração, mas agora que você é mulher feita, já me esqueceu, se esqueceu de como se faz para amar esse homem esquisito que já foi bonito, eu te digo que durante os nossos doze anos, eu também gostei de você. 

Crônicas Anônimas - parte 5

 - Você me fez ouvir Cazuza.  O mais próximo que ela chegou de um "eu te amo". O mais próximo que qualquer um chegou junto daqueles olhos azuis. Foi logo antes de voltar a fumar. O sorriso ainda era branco e existente. Não era a cópia barata e torta. Foi logo antes de ficar sozinha.  E são aqueles momentos de sempre, comece a trair o namorado sem motivo. Não chora quando ele termina, só joga na cara que não faz mais diferença pra ela e que nem do sexo vai sentir falta. Se joga para as garotas que são que nem ela, só que nenhuma tão bonita. Difícil de competir com aquele olhar e aqueles cabelos.  Aprendeu a tocar violão, dava show só de sutiã e calça. Pulava na platéia e dedicava "Nosso Amor a Gente Inventa" para quem a beijasse melhor na noite. Foi numa dessas que começou com a cocaína. E junto com os vários pacotes que sua mãe jogou fora quando descobriu, ela foi junto.

Sob as estantes empoeiradas - o final do conto da contadora.

 A cidade se transformou. Sebos viraram livrarias com desculpas de não serem tecnológicas. Velho Beto morreu, Betinho assumiu o lugar e manteve o último sebo de verdade da cidade. Se descer pela Rua Riachuelo e entrar na Treze de Maio, vai ter em um muquifo uma portinhola escondida, entre lá (menos se tiver rinite) e respire fundo o perfume de mofo e luzes quentes. Tem uma senhorinha sentada, triste e minguada, lendo em voz alta pra quem quiser ouvir, um garoto bonito e triste atendendo. Cazuza no fundo durante as manhãs, Milton Nascimento durante o almoço e músicas aleatórias durante a tarde.   Dona Ivone nem Betinho sabia mais quem era, aquela mulher que já foi tão característica quanto os pombos da rua XV virou um fantasma melancólico. Ninguém mais procurava por Érico Veríssimo, ou as crônicas de Machado de Assis. Bukowski era prioridade em relação Leminski. O mundo mudou e o Sebo Edificações não.   Todo ano, dia doze de abril, certos filhos acompanhavam seus pais para o velóri

Um par de manchas roxas embaixo dos olhos

 Na madrugada procuramos por companhia. Garotas solitárias ligam para estranhos, estranhos procuram por estranhas que estão dispostas a serem pagas para mentir sobre o tamanho de seus objetos fálicos. Mulheres sozinhas bebendo em casa, casais dormindo cada um virado pro lado. Namoradas solitárias dormindo abraçadas com seus travesseiros, namorados dormindo com amantes.  As ruas vazias das praças turísticas são decoradas apenas com faxineiros e mendigos; uns dormindo, uns morrendo, uns quase lá. Mas, ainda assim, ninguém estava sozinho se estava fora de alguma casa. A garoa e o choro silencioso da noite os acompanhava. No inverno, o sol só nasce às sete da manhã. A madrugada dura até as seis. A solidão o dia inteiro.

Era vidro e se quebrou.

 Não soube o porquê, mas ao vê-la pular diante de meus olhos, eu contei os segundos até ela cair no chão. Foram seis. Fiquei estática com tudo aquilo, não sabia o que pensar. Nem conhecia a mulher, que somente pulou no viaduto, sorriu, me deu um aceno e se foi. Cinco anos se passaram, eu passei no vestibular e a mulher continuou morta. Se eu tivesse falado pra ela parar, quem sabe ela poderia estar viva? Ela tinha uma filha, pelo amor de deus. Eu podia ter puxado ela, pelo menos ela só se ralaria da queda. Mas só assisti.  Que direito tinha eu de interferir na escolha de vida dela? Ou de não interferir? Sei lá... Fardo muito grande pra uma garota de 12 anos.

Taberneira, não me deixe aqui sozinho

 Devo ter balbuciado alguma coisa como "mas, pra onde que tu vai?" ou "vai ficar bem?" porque a última coisa que me lembro foi ela dizendo:  - Nem se preocupe em se preocupar.  Enquanto batia a porta na minha cara e derrubava a minha garrafa de cachaça que estava equilibrada na mesinha de chaves. Por um milagre que não quebra. Mas o terço que ainda tinha na garrafa foi praticamente todo no chão. Fico me perguntando que se, não tivéssemos bebido tanto, as coisas não teriam sido melhores.  Bem, pra início de conversa, eu não teria derrubado ela na cama. E não teríamos começado a discussão. Que foi pelo fato de eu beber tanto. Teria que largar ou da pinga, ou ela de mim. Convenhamos que ela não me amava tanto.

Flor símbolo do Brasil.

 Os cabelos cacheados cheios de nós. O sorriso de covinha bobo e a camisa transparente que deixava os mamilos a mostra. Junto com a manhã, ela acordava. A mulata bonita do Brasil.  No apartamento na orla rica e bonita de Maceió ela fica, um suco na mão e a cabeça apoiada na outra, tudo o que podia pedir ela, com aquele corpo, tinha. Tom Jobim tocando enquanto a Maria (que tinha cuidado dela desde seus oito anos) arrumava seu quarto. Márcia sambava com gosto para si mesma. Delicada e alegre, era o Ipê Amarelo da nação.  Trocou a camisa por uma regata, colocou uma saia e saiu a pedalar pelo calçadão. Conhecida na região, parava sempre nos mesmos lugares; comia tapioca com o seu Di, comprava um coco na banca do Zé e saía a desfilar. Terminava de beber a água, e pedia para cortar e comer a polpa. Ritual acabado e continuava a pedalar. Passava na frente de uma obra, e ficava de pé, deixando o vento do mar levantar a saia, sorria para os operários enquanto a renda da calcinha aparecia.

brincadeirinhas de criança.

 - Olá, Dita.  - Dita?  - É, que nem a Von Teese...  - Tudo isso por causa do batom vermelho?  - E o decote... Cintura marcada...  - Pode deixar que eu tiro então.  - Sabe que eu te ajudo.  - Não aqui né. Só o batom eu deixo.

Coração partido não se cura com aspirina

 No sofá na sala empoeirada rodeada de pessoas se abraçava na garrafa, julgava que só nela podia confiar. Triste o fato que estava certa. Camuflada já na paisagem do bar, poderia estar nua que ninguém a veria. Só ela e o taberneiro. Bebia uísque. Nunca gostou de uísque, nunca entendeu o porquê daquele negócio com cor de âmbar e gosto de inferno, só bebia bebida com gosto de doce. Mas não dessa vez, coração partido se cura com bebida forte e ressaca. Ou piora, não faz muita diferença.  Um olhar de pena de uma garota que não ficava perto para não incomodar, misericórdia da garrafa de Domecq e raiva de si mesma. Uma madrugada naquele lugar, tão detonada que estava que ninguém nem se quer chegou perto. Seis da manhã sai do bar e encontra ele (por "ele" definimos o homem/garoto que é a causa de tudo).  - O quê você está fazendo? - Bravo, surpreendentemente.  - Indo pra casa.  - O quê você andou bebendo?  - Uísque! Orgulhoso de mim?  - Você é idiota.  E ela vomita, na parede

The most fun a girl can have

 Um sorriso psicopata que apenas garotas bêbadas conseguiam fazer era o suficiente para qualquer rapaz as sete horas da noite num bar, pois não é seguro ficar até mais tarde. O mesmo sorriso que a meia noite se transforma em uma mordida e um beijo ardente, que por um milagre faz ele ligar no dia seguinte para repetir a dose. E de novo. E de novo.  Pararam de ir ao bar, porque depois da meia noite só tem gente barra pesada lá, migraram direto para o quarto dele. Todas as noites. Até que uma, ele a leva para um café, na outra para almoçar com os pais. O sorriso psicopata se transforma numa careta de desgosto e ela vai embora. Tira a lingerie do quarto e se muda para outro bar, enquanto ele vai lá, todas as noites esperando por ela. A garota que transforma garotos em homens barra-pesada.

So long since you've last kissed me.

 O suspiro saudoso é disfarçado pelo jazz tocando na sala, não que tivesse alguém lá para ouvir, era apenas difícil assumir; o robe de seda e a calcinha de cintura alta do mesmo material eram o vestuário da noite, junto com a taça de vinho. Se apoiava na sacada durante aquela sexta-feira crepuscular no centro, qualquer um podia ver, muitos viram. O vulto da mulher triste; seios cobertos até a metade, uma lágrima buscando repouso em seu rosto. E a taça quase se quebrando na mão dela. Podia sair, encontrar alguém para transformar a sua noite um pouco menos solitária; mas sabia que não funcionaria.  Uma transa de vingança não te faz esquecer o que o álcool não cura.

Sonhos de uma tarde de inverno (ou imitação barata de Shakespeare)

 Ela sorria ao se sentir abraçada, fechava os olhos e suspirava ao ver que ele estava lá, assim como em questão de segundos perdia toda a emoção facial ao ver que estava abandonada. De novo. Todo um algorítimo programado de como funcionavam as coisas, se beijavam, sorriam, diziam que se amavam, ela passava a tarde na casa (cama) dele e ia embora sozinha ao pôr-do-sol, no começo ele até ligava e lhe desejava o melhor, mas aos poucos isso se fragmentou em lembranças da moça insegura.  Todas as festas que ia com ele, se arrumava, perfumava e vestia o decote com a saia brilhante; salto nos pés e brilho no olhar, como era uma situação rara, ele se estonteava. Controlava a mão apenas na cintura e sorria ao vê-la. E outros prestavam atenção nela, se ele percebia eram outros quinhentos.  Ria e dançava, devagar se esvanecia dele. Ia conversar. Outros falavam com ela, notavam a troca da calça jeans velha pela maquiagem, o cabelo sempre trançado longo e solto. E ela ria com a atenção e o deleit

Nenhum Título

 A chuva disfarçou as lágrimas do rosto dela. O cabelo encharcado e a roupa colada, o frio já preenchia algumas partes do corpo, principalmente a garganta que estava seca e com um nó. Insuportável praticamente. E cada vez ficava pior, fechava os olhos para tentar fugir de tudo aquilo; a maneira que doía cada vez mais, em como ele olhava pra ela com desprezo até deixá-la sozinha em tudo. Sozinha na rua. Sozinha na sina.  Se arrastou até a cama, pensando em que não deveria tomar um banho, deveria ir à um hospital ou a polícia, mas não aguentava; foi pro banho e se lavou. As gotas do chuveiro tinham o mesmo som que as da chuva; a dor ainda estava lá e o barulho. As pancadas. Nada nunca sumia. Ela devia ligar para o namorado, alguém, sair do banheiro, fazer algo. Mas não conseguia.  Sumiu da vida até que o trauma passasse. Nunca foi.

O grande glamour da sombra preta borrada

 A bebida dourada ardeu a garganta, uma careta instintiva mascarou a face bronzeada dela mas em dois segundos já se recuperou. A tequila realçou tudo o que ela tinha de melhor, bochechas coradas, olhos mais abertos, seios mais avantajados e um sorriso estampado. E é claro, que ela vai dançar.  O vestido justo que quase subia demais, o decote que quase mostrava tudo o que queríamos ver. As costas nuas disfarçadas pelos cabelos enrolados e um salto realçando tudo o que é possível. Dança com um, dança com outro, chama as amigas, senta no balcão. Rindo, sendo a mulher dos sonhos de vários e por uma noite ela foi, cansada e com pernas bambas se ajoelha na frente da privada e passa mal. Toda aquela massa repleta de decepções, risadas e um pouco de bebida se esvai do corpo da bela mulher. Lágrimas se misturam juntos, e quem surgiu na noite como uma leoa sai como filhote exilado, quase sendo devorada pelo próprio bando. Outrora foram olhares de desejo, viram olhos tortos e ofensas. Sai sozi