Cabelos pretos e soltos. Naquela altura entre as orelhas e os ombros. Cigarro pendendo nos lábios. Uma cachecol, botas, casaco e calças. Temperatura de 27º C no ambiente. O Capital na mão direita. Um isqueiro na esquerda. O estereotipo de moça culta, talvez. Moça demais para ser chamada de moça. Uma menina querendo crescer.
Seus pés balançavam no ritmo da música, me lembravam uma banda ruim. Pensei em The Smiths. E falei isso. Alto demais para minha sorte ou azar.
- Perdão? - Ela levantou os olhos. Enormes.
- The Smiths? - Perguntei, apontando para os fones.
- Black Sabbath.
- Ah... - Ela viu a minha cara de desapontamento. Isso a deliciou. Deu um riso sarcástico. Harmonioso.
Os olhos se transformaram numa expressão de deboche. Apesar de sua boca permanecer impassível, eu via o sorriso dela de "bem-feito".
Pedi desculpas à mim mesmo por ter chamado Black Sabbath de ruim. Aparentemente ela não era tão estereotipada assim.
- É comunista?
- Quase isso. - Respondi.
- Explique. Socialista? Anarquista?
- Acéfalo.
E ela riu de novo. Estava começando a pegar raiva daquele riso.
- E você?
- Sou rebelde da cintura para baixo, querido.
- Mas a cabeça é a parte importante, baby.
- Fale isso para os homens.
- Você deveria ler Kerouac com esse pensamento. Não Orwell e Engels.
Ela riu pela terceira vez. O suficiente para eu me apaixonar.
- Preconceito cultural isso.
- Por isso comunismo não daria certo. Em todos os sentidos existe um elitismo. Até no cultural. Você é a prova viva, querida.
- Está dizendo que eu não vou dar em nada?
- Não se continuar fumando. - Peguei um cigarro. E ela fez o mesmo.
E então pela primeira vez, a observei. Todo o seu metodismo. Pegar o cigarro da cigarreira decorada. Levá-lo à boca com os dentes incrivelmente limpos para alguém que fuma aqueles cigarros. Ela acendeu o cigarro. Sugou a fumaça e a expeliu. Sem tragar.
- Não traga a fumaça?
- Não quando acendo.
E o olhar de desprezo apareceu em sua expressão. Mas logo se desfez quando o metodismo de acender o cigarro voltou. Cigarro. Lábios. Isqueiro. Mas dessa vez ela me passou o cigarro manchado de batom. E então ela tragou o dela. Sem pestanejar ou engasgar. Somente a fiquei encarando. O olhar oblíquo me fascinou. Fazer o quê? Sou humano.
- Pode fumar. Não tenho sapinho. - Um sorriso se esboçou.
- Talvez eu tenha...
- Com sapinhos eu posso lidar.
E então, eu exibi os meus dentes amarelados para ela num sorriso. Não é sempre que se encontra a sua Mia Wallace.
Seus pés balançavam no ritmo da música, me lembravam uma banda ruim. Pensei em The Smiths. E falei isso. Alto demais para minha sorte ou azar.
- Perdão? - Ela levantou os olhos. Enormes.
- The Smiths? - Perguntei, apontando para os fones.
- Black Sabbath.
- Ah... - Ela viu a minha cara de desapontamento. Isso a deliciou. Deu um riso sarcástico. Harmonioso.
Os olhos se transformaram numa expressão de deboche. Apesar de sua boca permanecer impassível, eu via o sorriso dela de "bem-feito".
Pedi desculpas à mim mesmo por ter chamado Black Sabbath de ruim. Aparentemente ela não era tão estereotipada assim.
- É comunista?
- Quase isso. - Respondi.
- Explique. Socialista? Anarquista?
- Acéfalo.
E ela riu de novo. Estava começando a pegar raiva daquele riso.
- E você?
- Sou rebelde da cintura para baixo, querido.
- Mas a cabeça é a parte importante, baby.
- Fale isso para os homens.
- Você deveria ler Kerouac com esse pensamento. Não Orwell e Engels.
Ela riu pela terceira vez. O suficiente para eu me apaixonar.
- Preconceito cultural isso.
- Por isso comunismo não daria certo. Em todos os sentidos existe um elitismo. Até no cultural. Você é a prova viva, querida.
- Está dizendo que eu não vou dar em nada?
- Não se continuar fumando. - Peguei um cigarro. E ela fez o mesmo.
E então pela primeira vez, a observei. Todo o seu metodismo. Pegar o cigarro da cigarreira decorada. Levá-lo à boca com os dentes incrivelmente limpos para alguém que fuma aqueles cigarros. Ela acendeu o cigarro. Sugou a fumaça e a expeliu. Sem tragar.
- Não traga a fumaça?
- Não quando acendo.
E o olhar de desprezo apareceu em sua expressão. Mas logo se desfez quando o metodismo de acender o cigarro voltou. Cigarro. Lábios. Isqueiro. Mas dessa vez ela me passou o cigarro manchado de batom. E então ela tragou o dela. Sem pestanejar ou engasgar. Somente a fiquei encarando. O olhar oblíquo me fascinou. Fazer o quê? Sou humano.
- Pode fumar. Não tenho sapinho. - Um sorriso se esboçou.
- Talvez eu tenha...
- Com sapinhos eu posso lidar.
E então, eu exibi os meus dentes amarelados para ela num sorriso. Não é sempre que se encontra a sua Mia Wallace.
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