Um dia cinzento, simples, ordinário. Como todos. A garoa leve e pinicante caia sobre o rosto dela. Os óculos totalmente repletos de gotas. A maquiagem meio borrada. Lábios mordidos.
Ele estava com o cabelo molhado, arrepiado com o frio. Afinal, havia emprestado a camisa para ela. É o que cavalheiros fazem.
Ela o olhou. Estava sorrindo. Ele adorava aquele sorriso. No mesmo tempo que odiava aquele olhar. O olhar cínico, irônico, cético. O olhar de que sabia o que ele iria saber. Mas aquela gota de travessura em sua íris era o que fazia que tudo valer a pena.
Ele a encarou. Também sorria. Ela odiava aquele sorriso. O sorriso de deboche, o mesmo de quem vê uma criança tentando ser adulta. Aquele sorriso em parte sincero e que em parte escondia algo. Aquele sorriso que ela também adorava.
Afagou-lhe os cabelos e a encarou. Ela tomou a iniciativa ao mesmo tempo que ele. E então sincronizaram-se. Era mais uma coisa em que combinavam. Gosto cinematográfico, literário. Em contrapartida as visões políticas e gosto musical. Mas foi nesse momento em que ela soube, que valia a pena se arriscar. E foi naquele beijo em que ele descobriu que a queria.
Ela se sentiu querida, se sentiu feliz. Protegida. Ninguém a havia beijado com tanto cuidado e nem tanto carinho.
Ele ficou feliz porque ela beijava bem.
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