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A Aventura do Alpinista.

 Caminhava sozinho. Os pés já repletos de calos, as panturrilhas ardendo, suor gelado no rosto. Nariz branco, os olhos cansados de tanto forçar a vista pela máscara. Suas mãos doíam de tanto segurar os pinos.  Viu uma base, estava à trinta metros de distância. Tomou fôlego, quase caindo, e então subiu. Cada enganchada precisava de um esforço infinito. Cada passo uma tortura. Sua garganta agoniava, seca. Chorava em um suspiro mudo. Quando menos percebeu, chegou em uma altura, onde ele podia descansar. 
 Jogou-se na neve gelada, e se arrepiou com o frio. Armou o fogão e acendeu uma fogueira. Riu de alegria quando viu que conseguia sentir os dedos. Abriu uma lata, pegou uma barra de chocolate, armou a barraca e fechou os olhos. Quando os abriu, ouviu um rugido. Não era nenhum animal selvagem conhecido, não. Nem ursos nem tigres. 
 Saiu da barraca, surpreso por estar quente, e viu então. No céu, as cores. Era azul, lindo e límpido. No chão, estava a grama. Chorou de alegria e alívio. E ao sair da barraca, acordou.
 Deu um grito mudo de raiva e se pôs a subir. Faltava somente mais um quilometro. Mas... Por que um quilometro? - Ele se perguntava.
 O tempo todo, subia, se esforçava. Para que? Ter o nome em uma placa. Seria aquilo o suficiente? Status! Fama! Dinheiro! Quando ele começou isso, parecia valer tudo. Mas agora... Meses no breu da neve, meses no frio, meses no medo... O haviam feito cogitar sua filosofia. 
 Fechou os olhos e se lembrou. Se lembrou do sonho. Se lembrou de casa. De tudo do que tinha deixado, por um título. 
 Suas mãos começaram a falhar, não queriam mais se segurar nos pinos. Ele não queria mais se segurar nos pinos. A mão esquerda se soltou. Ardia. Estava dura. Então ele soltou a direita. E caiu.
 Por cinco quilômetros de altura, ele caiu. Se deixou perder-se. Se soltou. E então, em questão de segundos, voltou para o seu sonho. E acabou com essa corrida incessante sem sentido. 

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