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Volúpia, culpa e vergonha.

 Lá estava ele, cigarro nos lábios, cerveja na mão, deitado na maca. Sorria com a companhia de seus amigos. Discutir politica com aqueles animais era quase impossível. Viviam nesse fim de mundo que era o Rio Grande do Sul, não foram para Brasília. Três pessoas presentes. Cada um representando uma faceta. 
 Zeca; amigo de infância. Nasceu para ser peão. Morrerá sendo o melhor peão que já existiu. Sem escolaridade, foi alfabetizado pelos seus cuidados. Vivia ora cuidando de seu sítio, ora lendo. Sabia Nietzsche, Freud, Jung... Mas não conhecia Marx, Weber, Locke ou Smith. Ainda assim tinha a visão política mais simples e bela que nosso enfermo já havia visto. "Não pretendo morrer rico. Mas pretendo morrer feliz. É o que o governo devia fornecer"
 Fernando; seu filho primogênito. Oposto de Zeca. Viveu de Marx. Entrou de cabeça na política socialista, enquanto era sustentado pelo pai para estudar em São Paulo. José Carlos sabia que o filho se envergonhava disso e o esbofeteava mentalmente por tomar essa atitude. Se frustrava com ele. Nando tinha carisma, podia apoiá-lo politicamente; mas não. Preferia ser um rebelde e desgostar o pai. 
 E havia, como sempre, sentada num canto observando a tudo e todos, com um sorriso torto cínico, estava a filha favorita de nosso enfermo; Mariana, ou como chamava a si mesma, Mary. Ele não sabia nada sobre ela, não conseguia decifrá-la. Mas a adorava. Ela o acompanhava para as festa, extremamente atraente (tal como seu progenitor), fria e calculista, ela sempre estava com um homem diferente. Sempre mais velhos. Ele não conseguia sentir vergonha da filha, ela era como ele.
 Todos na sala discutiam algo sobre as eleições, porém José e Mary trocavam algo como que por telepatia, ambos com olhares oblíquos e ela com lábios semi-cerrados, quase como seduzindo o pai. Quase como o quê! Ela estava cortejando-o diretamente! Ele não conseguia ficar envergonhado. E muito menos ela. Ambos sabiam o que aconteceria. Repetiriam a situação que se passou em Brasília. Ela falaria que saí com um congressista mais velho, e ele fingiria uma amante. Sumiriam todas as noites, e iriam para um lugar desconhecido, fazer coisas desconhecidas. Menos aos dois. 

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