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Amor em Vermelho

 "A arma estava muito gelada em contato com a pele de sua face, quente, escarlate. A garota estava impassível. A expressão de medo dominou o rosto dela. O rosto todo estava pálido, com exceção das bochechas. Sempre rosas. Não importe o que acontecesse. Não importa a temperatura. Rosa sempre terá pele quente e bochechas rosadas."
 Bochechas. Que palavra estúpida. Sonoridade horrível. Por que não chamar de rosto? Ou maçãs do rosto? Melhor maçãs do rosto.
 "Não importa a situação. Rosa sempre terá pele quente e as maçãs do rosto rosadas..."
 Deveras soa melhor.
 Permaneço meia hora nesse parágrafo. Logo menos desisto. Pego minha carteira, coloco meu casaco e saio. Levo meu caderno de notas (sim, século XXI e ainda utilizo cadernos de notas), sento em um bar e espero pela inspiração. 
 E ela me atinge.
 Uma garota. Minto. A garota. A mesma de sempre. Mesmos cabelos descoloridos, olhos quase negros de tão castanhos e a mesma boca vermelha. Tantas vezes que já escrevi sobre ela...
 É mal de escritor isso. Só pode. Não, uma garota não pode ser somente bonita ou sexy. Ela tem que ser algo mais. Seja provocante, seja ingênua, carinhosa, caliente, devassa (me lembrar de pedir uma cerveja logo), ou até mesmo uma professora. Mas para mim, essa mulher é uma prostituta. Sempre andando sozinha, sempre mexendo nos cabelos, sempre aquele sorriso com o canto da boca, e é claro, pelo fato de ser inatingível para mim.
 Eu poderia ir lá conversar com ela. Ridiculamente fácil. Mas algo me para. O medo de ser humilhado? Talvez... Mas é algo mais. Orgulho? Isso também... Ela já me viu olhando para ela. Ela deveria vir falar comigo. 
 Peço uma cerveja. Preta. Bebo enquanto continuo a observar. Ela sorri para mim, joga o cabelo e vai-se embora. Da mesma maneira que um sonho se esvoaça da mente quando acordamos. 
 Sou um Christian da vida real (somente não canto tão bem quanto ele em Moulin Rouge, nem plagio Elton John), fantasiando com uma prostituta. 
 Volto para casa. Transcrevo tudo para o computador. E continuo a alimentar a minha paixão platônica por Satine. 


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