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Foi no mês de Dezembro.

 Natal, ano novo.Todas as cenas lindas e felizes. Casais abraçados sob a lareira, presentes debaixo do pinheiro. Neve... Deveria ser assim, porém, estou no Brasil. Ou seja, o Ano-Novo se resume em praias lotadas, acidentes de trânsito, estupro massivo e suor. Muito suor. Deus (se é que você existe), odeio suor. 
 Tinha deixado meus primos em Copacabana, estava voltando para casa, quando a vi. Só estávamos eu e ela no vagão, íamos para o sentido centro. Ela sentada, ouvindo música, cabeça baixa. Me aproximei um pouco, consegui reconhecer o que ela ouvia. ...Justice for All.
 - James ou Mustaine? - Perguntei.
 Silêncio como resposta. Ela não me ouvira. Ou decidira me ignorar.
 - James ou Mustaine? - Repeti a pergunta, cutucando-a. 
 - Ahm? - Ela tirou os fones e me encarou. Aqueles olhos. Castanhos, cílios grossos. Rímel borrado. Ela havia chorado, mas ainda assim era magnífica. O cabelo castanho-escuro desbotado, tinha mechas pretas e marrons. Lábios vermelhos mordidos e machucados. 
 - James ou Mustaine? - Perguntei pela terceira vez.
 - Hammet. 
 Sorri e comecei a conversar com ela. Durante toda a viagem discutimos sobre bandas em geral. Chegamos num ponto em que já havia passado da meia noite, e era ano novo. 
 - Deveríamos nos beijar. - Ela disse.
 - Por quê? 
 - Vi em uma série qualquer, que deve-se beijar alguém na  meia noite de ano novo. 
 - Já passou da meia noite, minha querida. 
 - Tudo bem então. 
 Descemos em um ponto, a conversa continuou. Resolvemos ir à um bar qualquer. Rústico, mofado. Tocava Matanza. 
 - Você não tem um caminhão, né? - Ela me perguntou, bebendo cerveja enquanto amanhecia. 
 - Não. - Respondi, virando meu Chopp e olhando para a janela. - Somente uma moto. 
 - Que droga; não vou poder roubá-lo. 
 - Então terei que sentir sua falta.
 - Não deixo. - Ela foi ríspida. Até demais.
 - Por que não? 
 - Porque se você sentir minha falta, é sinal de que está se envolvendo. Você não pode se envolver. Não deixo. 
 A beijo.
 - E sentir tesão, você deixa?
 Como resposta ela somente me pegou pela mão, e quando me dei conta, estava acordando às cinco da tarde em um apartamento desconhecido com a garota mais bela que já vi nos meus braços.
 - Bom dia, dorminhoco. - Ela respondeu, enquanto se espreguiçava. Parecia uma gata. Ou uma cachorra preguiçosa. Não sei, acho que uma mistura estranha dos dois. 
 - Meu Deus. - Esse sou eu blasfemando mais uma vez. - Que ressaca da porra.
 - Vou gritar.
 Ela grita. 
 - Não faça isso de novo, ou terei que te matar. - Eu rio junto com um gemido de dor.
 - Mas... Já estou morta...
 Acordo num pulo. Olho para o lado. Me ponho a chorar. O amor da minha vida é somente uma memória de minha esquizofrenia. 

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