Natal, ano novo.Todas as cenas lindas e felizes. Casais abraçados sob a lareira, presentes debaixo do pinheiro. Neve... Deveria ser assim, porém, estou no Brasil. Ou seja, o Ano-Novo se resume em praias lotadas, acidentes de trânsito, estupro massivo e suor. Muito suor. Deus (se é que você existe), odeio suor.
Tinha deixado meus primos em Copacabana, estava voltando para casa, quando a vi. Só estávamos eu e ela no vagão, íamos para o sentido centro. Ela sentada, ouvindo música, cabeça baixa. Me aproximei um pouco, consegui reconhecer o que ela ouvia. ...Justice for All.
- James ou Mustaine? - Perguntei.
Silêncio como resposta. Ela não me ouvira. Ou decidira me ignorar.
- James ou Mustaine? - Repeti a pergunta, cutucando-a.
- Ahm? - Ela tirou os fones e me encarou. Aqueles olhos. Castanhos, cílios grossos. Rímel borrado. Ela havia chorado, mas ainda assim era magnífica. O cabelo castanho-escuro desbotado, tinha mechas pretas e marrons. Lábios vermelhos mordidos e machucados.
- James ou Mustaine? - Perguntei pela terceira vez.
- Hammet.
Sorri e comecei a conversar com ela. Durante toda a viagem discutimos sobre bandas em geral. Chegamos num ponto em que já havia passado da meia noite, e era ano novo.
- Deveríamos nos beijar. - Ela disse.
- Por quê?
- Vi em uma série qualquer, que deve-se beijar alguém na meia noite de ano novo.
- Já passou da meia noite, minha querida.
- Tudo bem então.
Descemos em um ponto, a conversa continuou. Resolvemos ir à um bar qualquer. Rústico, mofado. Tocava Matanza.
- Você não tem um caminhão, né? - Ela me perguntou, bebendo cerveja enquanto amanhecia.
- Não. - Respondi, virando meu Chopp e olhando para a janela. - Somente uma moto.
- Que droga; não vou poder roubá-lo.
- Então terei que sentir sua falta.
- Não deixo. - Ela foi ríspida. Até demais.
- Por que não?
- Porque se você sentir minha falta, é sinal de que está se envolvendo. Você não pode se envolver. Não deixo.
A beijo.
- E sentir tesão, você deixa?
Como resposta ela somente me pegou pela mão, e quando me dei conta, estava acordando às cinco da tarde em um apartamento desconhecido com a garota mais bela que já vi nos meus braços.
- Bom dia, dorminhoco. - Ela respondeu, enquanto se espreguiçava. Parecia uma gata. Ou uma cachorra preguiçosa. Não sei, acho que uma mistura estranha dos dois.
- Meu Deus. - Esse sou eu blasfemando mais uma vez. - Que ressaca da porra.
- Vou gritar.
Ela grita.
- Não faça isso de novo, ou terei que te matar. - Eu rio junto com um gemido de dor.
- Mas... Já estou morta...
Acordo num pulo. Olho para o lado. Me ponho a chorar. O amor da minha vida é somente uma memória de minha esquizofrenia.
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