Tinha dinheiro pra comprar calcinha rendada e camisola de seda, podia pintar o cabelo para tirar as manchas de sol que sobraram do verão em Barcelona. Usava roupa íntima de algodão e pijama de malha. Tinha até um camisão mais curto perdido, com somente um par de lingerie rendada no guarda-roupa.. O dinheiro ganho, além de ir para o apartamento e suas flores, se dividia entre as fantasias em seus livros, viagens peregrinas e comida. Tinha um contrabaixo que sabia tocar apenas duas músicas, um violão com o qual já pediu esmola de decote e shorts curtos com as amigas e um piano ao qual se dedicou durante a adolescência. Uma coleção de ex-namorados, todos que duraram por mais de seis meses e não a aguentaram por mais que isso. Alguns livros velhos, vários novos. Profanava-os colocando xícaras de café quente sobre eles. Dormia até tarde nos finais de semana, porém de segunda a sexta escondia as tatuagens com blazers, penteava os cabelos e se maquiava impecavelmente para auxiliar o presidente. Salto e saias um pouco antes do joelho. Sorrisos para ministros e flertes sutis para os deputados. A meia três quartos, calcinha rendada e sutiã bordado estavam reservados para eles. Nos momentos em que viajava a trabalho, colocava rasteirinha e impressionava a todos com sua casualidade. Sorria e ria, era simpática e bonita, o que faltava para a política?
E após três dias sumidas no colégio, você só a vê te encarando na chuva e com lágrimas no rosto. Mal percebe que é somente ilusão de ótica da chuva.
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