E de todos os lugares do mundo para nos encontrarmos, te vejo em Paris. Um chapéu de abas largas e um sorriso com lábios pintados de laranja. Você me vê, eu te cumprimento com o Brandy em minha mão, você me aponta para uma amiga que segue a dica e vai embora, entrando na loja da Chanel. O zênite te ilumina da mesma maneira que no nosso casamento, você não muda nada, Botox é algo impressionante.
- Não mudou nada querida.
- Você sim. Cabelos brancos e rugas. Um novo prêmio literário. Bom saber que você está bem.
- Chegou a ler o livro?
- Não. Tive medo que seu primeiro romance fosse sobre mim.
- Ele foi.
- Deve estar repleto de coisas maldosas.
- E está.
Aproveito ela pedindo um café vietnamita para o garçom para analisar aquele corpo moldado por academia e cirurgia. A bela flor conseguiu resistir à anos de tempestade. E conversa vem, conversa vai, crepes foram devorados e um pôr-do-sol pintou Notre Dame. Seis badaladas marcam o crepúsculo e o frio começa a cair na capital do romance. Como todo cavaleiro coloco meu blazer em seus braços e a chamo para passar lá em casa, somos velhos o suficiente para saber como a noite vai acabar, mas não velhos o suficiente para selar o contrato. Toquinho tocava no nosso antigo apartamento no Sena que acabei mantendo para mim. Ela ficou com Londres e eu com Paris. Ela com Milão e eu com Veneza. Mas essa noite, tinha somente os dois. E por uma madrugada, ela me desenhando em cadernos e eu pintando-a com palavras. Seus lábios viravam pétalas e seus cabelos seda.
- Você me exagera.
- Eu te retrato como te vejo.
E esperava ansioso pelo ano seguinte para vê-la de novo.
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