A cidade se transformou. Sebos viraram livrarias com desculpas de não serem tecnológicas. Velho Beto morreu, Betinho assumiu o lugar e manteve o último sebo de verdade da cidade. Se descer pela Rua Riachuelo e entrar na Treze de Maio, vai ter em um muquifo uma portinhola escondida, entre lá (menos se tiver rinite) e respire fundo o perfume de mofo e luzes quentes. Tem uma senhorinha sentada, triste e minguada, lendo em voz alta pra quem quiser ouvir, um garoto bonito e triste atendendo. Cazuza no fundo durante as manhãs, Milton Nascimento durante o almoço e músicas aleatórias durante a tarde.
Dona Ivone nem Betinho sabia mais quem era, aquela mulher que já foi tão característica quanto os pombos da rua XV virou um fantasma melancólico. Ninguém mais procurava por Érico Veríssimo, ou as crônicas de Machado de Assis. Bukowski era prioridade em relação Leminski. O mundo mudou e o Sebo Edificações não.
Todo ano, dia doze de abril, certos filhos acompanhavam seus pais para o velório de seu Beto. Cada ano ia menos gente, uns morriam, outros iam embora. Só Dona Ivone que sempre estava lá. Betinho jurou que quando Dona Ivone morrer, abre um boteco.
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