Pular para o conteúdo principal

Flor símbolo do Brasil.

 Os cabelos cacheados cheios de nós. O sorriso de covinha bobo e a camisa transparente que deixava os mamilos a mostra. Junto com a manhã, ela acordava. A mulata bonita do Brasil.
 No apartamento na orla rica e bonita de Maceió ela fica, um suco na mão e a cabeça apoiada na outra, tudo o que podia pedir ela, com aquele corpo, tinha. Tom Jobim tocando enquanto a Maria (que tinha cuidado dela desde seus oito anos) arrumava seu quarto. Márcia sambava com gosto para si mesma. Delicada e alegre, era o Ipê Amarelo da nação.
 Trocou a camisa por uma regata, colocou uma saia e saiu a pedalar pelo calçadão. Conhecida na região, parava sempre nos mesmos lugares; comia tapioca com o seu Di, comprava um coco na banca do Zé e saía a desfilar. Terminava de beber a água, e pedia para cortar e comer a polpa. Ritual acabado e continuava a pedalar. Passava na frente de uma obra, e ficava de pé, deixando o vento do mar levantar a saia, sorria para os operários enquanto a renda da calcinha aparecia. Voltava pra casa só pro almoço.
  Ligava para o amor de sua vida, marcava um jantar enquanto comia seu arroz com feijão e peixe na grelha. Modelo e Miss á parte, era boa de garfo. Acaba o almoço, vai pra aula de dança. Mãe reclamava, e falava pra parar de ser vulgar. Professora respondia:
 - Deixe a morena contente, deixe a morena com a gente!
 De tarde ia pra televisão, simpática e engraçada, falava palavrão, jogava beijo, usava saia rodada e curta e sambava, sambava como podia, como dava na telha. Pulava carnaval, ia pro fervo. Sorriso no rosto e alegria no corpo. Eita corpão!
 Pôr-do-Sol. Hora de ir pra praia. Pegar bronzeado, comer acarajé, molhar as pernas e sorrir pros paparazzi com o laço na cabeça e o sorriso gozador no rosto. Sempre sozinha, sempre sorrindo, sempre rindo com Dona Maria e falando do marido dela, cara complicado esse. Gastou todos os setecentos reais que ganhou no mês em um final de semana! Como pode? Ai, ai, ai. Maria ia largar do homem, e vir morar com Márcia. Márcia queria isso. Márcia adorava Maria.
 E a noite chegou. Márcia vestida de vestido vermelho, esperando pela visita do seu Beija-Flor. Fazia um bobó de camarão e uma piña colada, e então chega Renatinha.
 Branquinha, quietinha e cabelos pretos curtinhos, corte de jornalista e corpo de mulher, não de miss, de mulher de verdade; com direito a celulite e uma barriguinha charmosa segundo Márcia.
 Casal mais lindo não havia. Renata Acácia queria ser física, e tava quase se formando, inteligente, estagiando, sempre trabalhando. Foi engraçado como as duas se conheceram, foi numa casa de samba. Márcia chamou atenção de todo mundo, com vestido rodado e top colado, e Renata foi a escolhida para dançar com ela naquela noite. Como ela não sabia dançar, pela primeira vez Márcia bebeu no bar com companhia, uma garota, quem diria?
 Só não assumiam porque não tinham um porquê, as duas gostavam de sua privacidade, e Renatinha, coitadinha, tímida e romântica. Dizia eu te amo o tempo todo. Na cama, no banho, no jantar. Márcia retribuía com um cheiro no pescoço e um selinho nos lábios, como se selassem um segredo. A nossa modelo gostava de beijar, mas amava beijar seu amor. Beijava da maneira com a qual sambava, sorrindo e se deliciando. Aproveitava. De noite, Ritinha ia pra tua cama, se deitava e dormia. Somente de manhã ou madrugada as duas faziam amor (ou sexo como Márcia chamava) e a rotina voltava. Com o sabor da tapioca variando no meio do caminho.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Porque vamos terminar a garrafa - Pillow Talk.

 - E se terminarmos? Você sabe que tem chance, uns oitenta e oito por cento, eu diria. Digo, eu provavelmente não sou o grande amor da sua vida.  - Então porque estamos juntos? Se tem tanta chance de terminarmos.  - Porque, nesse momento, agora, você é o amor da minha vida. Prefiro viver o presente, não gosto de "e se".

A rosa desabrochada

Apesar de tudo. De todas as mudanças de todos os sutiãs queimados; as mulheres permanecem com a mesma função. Manter um lar. Sorrir quando tudo estiver caindo, engolir as lágrimas e sorrir. Oferecer os ombros para carregar o peso que os homens em toda sua masculinidade e orgulho, se recusam a admitir que não agüentam. Será assim até o fim dos tempos. Os homens lutarão, se armarão, porém as mulheres os manterão. Mesmo que não os homens, mesmo que amem outro, elas continuarão lá. Com ou sem roupas intimas.