Cambaleava assustado impregnado com o cheiro amargo do aguardente, demorou até me ver sentada no sofá, quieta.
- Quié mulher?
- Nada, tem janta no forno.
Nenhum problema que em duas horas seria o horário do café-da-manhã. Aprendi a não questionar ele quando ele bebia, muito menos quando chegava junto com o sol nascendo; mas como a janela da sala ficava do outro lado, em casa só virava dia quando eu já tava no trabalho. Seria hora de começar a me arrumar, mas como é feriado não vou trabalhar hoje.
Ele entra abrupto, mastigando uma peça de carne assada, tava gritando mas nem devia perceber, pessoas perdem noção da vida junto da birita.
- Não vai trabalhar hoje?
- É primeiro de maio.
- Vai vagabundear hoje?
Um tapa na cara é a resposta dele, então ele deita no sofá e dorme, só acordaria na hora do almoço, arrumo casa e faço as compras nesse meio tempo.
- Desculpa, não chego mais desse jeito.
- Não faça promessas que não pode cumprir ok? Tá ardendo demais o rosto?
- Um pouco.
- Que bom.
Podia ser malandro, mas era macho. Apanhava em silêncio.
- A missa hoje é as quatro. Lilica vai com a gente.
- Toninho também?
- Aham.
Lilica tinha três pares de chifre na testa, Toninho cinco.
Faço um peixe assado pro almoço, ele não toma a cerveja diária. Joga as garrafas fora, só fico olhando com o rabo do olho pra ver quando compraria mais.
Ele passa o resto da tarde afinando a viola e treinando um pouco, tirou um cochilo, fez limonada pra mim, e me ajudou a colocar o colar de pérolas pra missa. Voltamos pra casa depois, eu e Lili conversamos na cozinha e ele e Toninho fizeram um chorinho, uma serenata bonita pra gente. Toninho pediu por cerveja, falei que não tinha, nem ele acreditava direito. E não continuou acreditando quando não tinha mais nos meses seguintes.
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