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Provisoriamente não cantaremos o amor

 Carlitos passeava sozinho por cima do viaduto, poderia ter passado por de baixo dele, porém pontes e construções altas lhe passavam a sensação de superioridade, como todo bom corno precisava. A lua brilhante pós-chuva era a cafetina daquela noite, e as garotas pobres do bairro as putas, já que as estrelas não apareciam mais no céu poluído. A rodoviária era o bordel dos homens cansados e ávidos por uma ilusão. Carlitos quase se une à eles, mas estava em cima do viaduto. Em cima em sua superioridade poética.
 Sussurrava a si mesmo, agoniado com a cachaça em seu sangue. "Um dia eu me permito esse tipo de vício", mas por ora os diabos internos eram o suficiente para atormentá-lo; se a vida algum dia ficasse menos complicada ele jurava que se emaranharia nos braços de uma mulher maquiada e de perfume barato qualquer. Aqueles seres obscuros, que lavavam o cabelo com detergente na pia e os homens juravam que iam para salão. A colônia barata era Chanel nº 5. 
 Se encara em um espelho quebrado no chão e percebe a semelhança física que tinha com tais seres; o cabelo cacheado como utilizavam na Tropicália, a boca inchada e um resquício de brilho nos olhos; talvez fosse um outro tipo de prostituto, um daqueles que aluga carinho e algumas palavras charmosas, rezando para que alguém o adote também. Mas só uma teoria, ele não merecia ser também prostituído pela lua.

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