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Aquela Utopia toda

 A desgraça era a maquiagem perfeita do garoto, que somente se apaixonava pelas meninas que inventava; sua feiura e sua miséria eram a declaração perfeita de tua poesia. Se sentava na Riachuelo em dias nublados procurando por espelhos para refletir sobre si mesmo, no colégio desaparecia, somente andando em frente. Não havia nada nem ninguém lá que era digno de nota. As confusões de garotas de classe média-alta não chegavam aos pés aos que ele criava. 
 Sua última inspiração se chamava Clarisse, um nome de puta que também poderia ter sido uma princesa do século XV, atemporal, como o rosto dela era; a boca em forma de coração, a face polida e o olhar amendoado triste. O batom pink completava o beijo perfeito e carnal, a língua ávida e os lábios voluptuosos. Clarisse era a menina perfeita que nunca se tornaria uma mulher; atenderia as suas necessidades e quando ele pedisse namoro ela citaria Nietzsche e perguntaria o que ele quer: continuar encarando os olhos azuis dela enquanto fazem sexo (não amor) ou se chorar sozinho por coração partido. Uma relação impossível, quando eles conseguissem ter suas pequenas ilhas temporais de felicidade, um problema externo apareceria. A imagem dela ficaria cada vez mais borrada e aos poucos se consertaria mais. Clarisse viraria Clarice porque é mais classudo e faria letras, sendo uma professora brilhante. Clarice utilizaria drogas, mas não deixaria isso interferir em sua vida profissional, pagaria mais da metade das contas e apoiaria o seu processo criativo, viveria da boemia e então teria uma Overdose, que a transformaria em Clara, a futura esposa; mas Clara procuraria outro garoto, algum que queira se casar também, abrindo espaço para que outra personagem seja desenhada.
 Após isso tudo, ele começaria a mudar de rua, viraria um andarilho no largo da ordem procurando um projeto de adolescente de classe média que estivesse disposta à se enquadrar nesses parâmetros, para somente então nela poder se vingar.

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