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Desenvolvimento de personagem

 - É fácil demais ser um hipócrita querido, sei disso melhor que você mesmo, por favor não force a barra.
 Eu esperava um tapa na cara depois dessa frase, ou um dedo do meio junto com a margarita que ela estava tomando na minha cara. Porém ela sorriu para mim e acenou a cabeça, me respeitava. Mas não ia ir para a cama comigo, talvez alguns beijos antes que a noite acabasse, mas no dia seguinte no escritório ela me sorriria o mesmo sorriso pontual que todos os outros deputados de mais de cinquenta anos recebiam. Estava a um passo de ser indiferente.
 Terminamos o jantar e ela pagava a conta, um sinal que o salário dela ela pelo menos o dobro do meu, conversamos sobre música, descubro que ela além de adorar jazz tinha uma fraqueza por heavy metal, mas é claro que a mídia não gostava desse tipo de coisa. Dividimos uma pavlova (acho que é esse o nome) e ela me convida para um whiskey na casa dela, todos os adultos sabem o que isso significava, que era o que deixava a situação ainda mais humilhante.
 Um apartamento sofisticado no Urca, com vista para o mar, ela era vizinha de um grande traficante de drogas, e ela sabia disso. Sempre tomavam café depois das reuniões sindicais.
 Ela sabia jogar o jogo, sabia quando mostrar o ombro e quando dar risada. Era calculada a maneira que ela jogava os cabelos de comprimento médio para trás quando dava risada, ela sabia como usar a sua idade para ativar sua sensualidade, sabia a diferença entre homens e garotos. Os meus pontos fracos ela não sabia, não tinha a menor ideia de que se ela lambesse os lábios superiores discretamente com aquele batom acobreado eu seria impelido a beijá-la. Mas ela sabia que pernas longas atraiam qualquer um. 
 Vou-me embora duas da madrugada de seu apartamento.
 - Você me traiu com ela? - Pergunta minha esposa, outra mulher de quarenta anos extremamente atraente.
 - Não, ela não quis.
 Obviamente ela não acreditou em mim.

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