Pular para o conteúdo principal

Tudo pode ser feito, só depende do calibre da tua arma.

 Uma vez por mês durante uma semana em cada mês do ano Alessandra não conseguia dormir, era um distúrbio psicológico causado por ansiedade, explicou sua médica. Uma semana por mês, oitenta dias por ano ela passava apenas por cochilos momentâneos. Uma semana sem sono é algo estressante; noites regadas de Godart e Tolstói, não era agradável, mas como não tinha coragem de usar drogas (sabia que ia se viciar) era o máximo que ousava. Durante os outros dias da semana; cantava, dançava e xingava. Jogava as pernas para o ar e ria. Mentia sobre seus sorrisos, mas qual garota de nossa geração não faz isso? Mas, por alguns dias era um fantasma. Ela gostava de ser esse fantasma.
 Uma vida simples, acordar, ir pro colégio, trabalhar e voltar para casa. Nesse meio tempo ela cochilava, lia durante o expediente e saia da escola para uma tragada ocasional de cigarros de cravo. Era útil não dormir a noite. Seria se o coeficiente de produção não caísse tanto, sono afeta os sonâmbulos, mas ela conseguia sonhar. Acordada ou cochilando, ela sonhava. Cada dia era um sonho diferente, mas sempre seguindo a mesma história, ele se esforçava quando estava acordada para tentar manter essa linha e por sorte, ou alguma função obscura da mente, ela conseguia. Era um paradoxo interessante, tudo o que ela tinha de ordinário e entediante quando estava acordada, mudava ao se apoiar na parede durante a aula ou quando deitava no sofá, nele se deitava e nele acordava, porém quando acordava pela primeira vez, não era na sua casa.
 Um salão de festas, sempre vestindo o mesmo vestido tomara que caia vermelho e os cabelos soltos. Andava descalça pela boate, com cuidado para não pisarem ou tropeçarem nela. Quinze minutos do sonho era somente esse labirinto.
 Uma cena psicodélica, com luzes brilhantes e uma atmosfera de LSD. Tudo o que normalmente daria dor de cabeça, mas como estava em seu próprio subconsciente, era agradável. E a atração principal da festa se encontra recostada no balcão vestida com um macacão colado, colado até demais, mas isso não importava, afinal ela era linda. Ela podia ser vulgar.
 - Senti sua falta Alex.
 - Te conheço? - Confusa, ela tinha a sensação de sonho dentro do sonho, querendo se lembrar de uma lembrança.
 - Odeio quando você me esquece. - Ela traga o Narguilé e sopra a essência de mel com cravo no rosto da garota. - Tente adivinhar. - E um sorriso um tanto quanto impecável nasce.
 Ruiva, cintura fina, lábios vermelhos, sardas, olhos verdes.
 - Você é o sapatinho de cristal de nossa geração.
 - Sou a garota perfeita para ti.
 - Nunca conseguiria pintar alguém, as pessoas perfeitas não podem ser criadas.
 - Mentira, eu sou os seus sonhos. Vamos lá, tenho a aparência, o jeito, o perfume. - Ela se aproxima. - Sei te agradar. O quê falta?
 Ela podia falar que originalidade, mas a moça cantava uma melodia curiosa e a encarava de uma maneira peculiar. Sonhos se tornavam realidade até a hora de acordar.
 Despertou-se arfando, com as pernas úmidas e as costas encharcadas. Olheiras e sono.
 Começou um diário, todas as noites em que dormia mal e sonhava com a perfeita estranha, anotava, virou um hobby, depois uma obsessão e mais tarde um desejo lunático por não viver mais acordada. Tudo era perfeito enquanto dormia, as bebidas, os momentos, as transas. Era inacreditável.
 - Por que você usa esse tipo de cinta? - Alessandra pergunta a si mesma em um momento de criatividade.
 - Para provar que o bege também é bonito. - Finge que Natália responde.
 Um momento de silêncio enquanto ela se vestia, como todo personagem perfeitamente desenhado tinha um metodismo especial ao vestir a calça 7/8, colocar o salto e terminar a produção perfeitamente equilibrada nele. Desfilava no quarto espaçoso, sorrindo com os cabelos bagunçados mas ainda assim penteados. Uma atmosfera perfeita rodeava o casal, bebericavam café enquanto fumavam cigarros, tentando reviver a geração retrasada, onde a beleza ainda era uma espécie de regra. Era uma fantasia perfeita, onde o maior fetiche era que se tornasse realidade.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Porque vamos terminar a garrafa - Pillow Talk.

 - E se terminarmos? Você sabe que tem chance, uns oitenta e oito por cento, eu diria. Digo, eu provavelmente não sou o grande amor da sua vida.  - Então porque estamos juntos? Se tem tanta chance de terminarmos.  - Porque, nesse momento, agora, você é o amor da minha vida. Prefiro viver o presente, não gosto de "e se".

A rosa desabrochada

Apesar de tudo. De todas as mudanças de todos os sutiãs queimados; as mulheres permanecem com a mesma função. Manter um lar. Sorrir quando tudo estiver caindo, engolir as lágrimas e sorrir. Oferecer os ombros para carregar o peso que os homens em toda sua masculinidade e orgulho, se recusam a admitir que não agüentam. Será assim até o fim dos tempos. Os homens lutarão, se armarão, porém as mulheres os manterão. Mesmo que não os homens, mesmo que amem outro, elas continuarão lá. Com ou sem roupas intimas.