- Você merece os seus cem anos de perdão.
- Por quê?
- Roubou o meu coração, logo depois de eu ter roubado o teu.
- Que fofa você.
- Vamos lá, você que disse "eu te amo" primeiro.
- Fica quieta e toca alguma coisa.
E ela pega o violão e começa a tocar a nossa música. Uma bem sem sentido, mas me embalo na canção de ninar. A grama começa a pinicar as minhas costas, e mais ainda quando ela se joga por cima de mim. Cenas bonitas de filme que só acontecem na vida real ao lado dos cachos dela. Tomamos sorvete, sentamos no meio-fio dividindo uma garrafa de jurupinga. As pessoas encaram, aparentemente até no largo da ordem é estranho duas garotas juntas ao céu aberto. Ela toca, eu canto. Pagamos o jantar assim.
- Posso acender? - Pergunto tímida.
- Somente se eu poder servir a tua taça de vinho.
Fumamos o cigarro, bebemos a bebida barata enquanto caminhamos para casa. Um apartamento com mofo na rua XV. Nossa vizinha era um travesti que se chamava Morgana e o senhorio do prédio era um dono de um bar que já foi militar, seu Ívaro. Ele nos chamava de raio de sol, no meio de tudo aquilo. No fim, era verdade. Ela era o meu e eu o dela. Bom saber que para alguém, isso também era verdade.
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