Um dia como qualquer outro, ela entra. Bonita, perfumada e vitaminada. Mas naquele momento a garota que passava muitos dias sorridente e cantando estava séria. Não podia-se dizer que ela estava triste, afinal seus olhos ainda tinham um brilho sutil que a pertencia assim como a gravidade ao universo. Mas, ver aquela moça séria era o equivalente ao ver uma mãe de luto.
Ele somente se senta na frente do colégio e espera ela chegar. A camisa de ontem a noite e as olheiras de semana passada. O isqueiro na mão, as balas de canela no bolso e o perfume no pescoço. Nem sabia que ela já estava na sala. Somente descobriu isso depois de meia hora esperando. Entrou para a aula de psicologia e esperou ela sair de sua sala de história. Somente se encontraram durante o pôr-do-sol, ela fumando o cigarro e rebolando com a saia curta.
- Comprei um isqueiro para acender os teus. - Ele diz, uma mistura de raiva e humilhação.
A resposta dela é apagar aquele pela metade e deixá-lo acender outro nos seus lábios. Ela tragou a fumaça do cigarro novo, mas guardou para estourar a bolinha de menta.
- Somente tu e seus cigarros de puta.
- Você e seu sotaque falso.
Ele tira algumas fotos dela enquanto ela fuma naquele final de tarde magnífico no campus. Ela nem se incomodava mais, porém naquele dia ela não sorria para as fotos. Ele até se incomodou, mas não falou nada. Era triste admitir que ela era mais bonita sem um sorriso nos lábios. A modelo falsa de um fotógrafo de mentira. Terminando os tubos filtrados de nicotina, ela se vira para ele e prende os cabelos em um rabo de cavalo. Um sinal claro de que queria conversar.
- O quê você vai fazer agora? - Ele pergunta, entregando uma bala para ela.
- Beijar outros caras talvez. Mas relaxe, não pretendo ir para a cama com nenhum deles.
- Beijar mais outros caras, você quer dizer.
- Vai me dizer que me acha uma vadia?
- Acho.
Mastigando a bala de canela, ela pega mais uma do bolso do garoto que aproveita a oportunidade para beijá-la de novo. Ele a pega de surpresa, é claro.
- Os beijos nunca mais serão os mesmos, não é?
A retribuição dela é uma performance maravilhosa de sua língua, suas mãos e seus lábios. Mostrando que a química ainda estava lá.
- Toda vadia sabe beijar bem. - Ela responde, seca, roubando mais várias balas.
- Não foi isso o quê eu quis dizer.
- Foi sim, não minta pra mim. Também falei mal de você para os outros. Coisas ruins.
- Tipo o quê?
- Que eu tava melhor sem você.
E o foda, aquilo doeu. Doeu mais nele do que nela por ter sido xingada pelo garoto que a amou dois anos dos três que estavam juntos. Era a vida, o amor doía, mentia e tudo sobre o que os cantores de rock dos anos 80 e 90 cantam sobre.
- Boa sorte para encontrar outra garota. - Ela diz, virando de costas e deixando a aliança cair na grama.
Ele demorou quinze minutos para pegá-la do chão. Não conseguia chorar ou ficar mal, só contava os passos que o amor de sua vida dava até o ponto de ônibus.
"Ele demorou quinze minutos para pegá-la do chão. Não conseguia chorar ou ficar mal, só contava os passos que o amor de sua vida dava até o ponto de ônibus."
ResponderExcluirEngraçada essa dor que a gente sente pela dor de um personagem que talvez nem a estivesse sentindo.
Passando aqui para dizer: adoro a sua narrativa.