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De uma a outra.

 Passou metade do tempo em que estava internada imaginando o próprio velório. A outra metade se dividiu entre novelas, novelos de lã e visita dos parentes. Dona Xica, ou Francisca Gonlez, sempre foi uma senhora realista. Ainda mais porque a idade servia bem nela. Setenta e oito anos, analfabeta. Mas a sua neta caçula sempre lia para ela. No dia em questão, haviam acabado O Tempo e o Vento. Beatriz, além de sua neta, era afilhada. Era a favorita da vó. Todos sabiam disso. Mas também, foi a única que fez companhia para a velha nos anos finais. Ela estava lá quanto teve o ataque cardíaco, e estava segurando a mão dela quando ela morreu. Bia estava grávida ainda quando D. Xica morreu. Chorou. E do choro, rompeu a bolsa. Foi uma sorte que ela já estava no hospital.
 Uma garota linda e saudável, apesar da prematuridade (nasceu com 8 meses) nasceu. Sem nem hesitar, deu o nome de Francisca para a pequena criança. Ficou com a casa da vó como herança. Criou sua filha com os mesmos valores que foi criada. Simplicidade, honestidade. A diferença dela para sua bisavó, era que ela sabia ler. Franscisquinha, ou Lininha (a irmã mais nova de Francisca não sabia pronunciar "Francis") cresceu amando a bisavó, a mulher que deu origem ao seu nome. Acostumou-se com o fato de sempre ser comparada por ela pela mãe. E a partir das histórias de sua mãe sobre a vó, escreveu um livro. "Memórias de Dona Xica", foi complicado para explicar que não era uma continuação de Monteiro Lobato. Triste foi saber que ninguém se lembrava que o nome da personagem era Dona Benta.

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