Andava descalça na calçada afirmando que tinha tomado a anti-tetânica há menos de dois anos. O calçadão de Copacabana nunca era vazio, mas as pessoas pareciam abrir caminho para que ela passasse, agradecia e dava risada; se contrastava na multidão pela sua pele branca e o enorme chapéu de palha que usava. Se apresentava como Amanda em um restaurante, Letícia num bar e volta e meia me chamava de William na frente de desconhecidos. Flertava com eles e me dava risada, piscando o olho.
Me lembro de quando a gente se conheceu, no mesmo boteco de sempre; eu comia açaí com flocos de tapioca e ela suco de manga eu mandava porções de azeitona de vez em quando e ela me devolvia com continhos de fada em guardanapos. Depois de uma semana (somente nos encontrávamos nas segunda e quinta feiras) ela se senta do meu lado.
- E agora que me chamou a atenção, qual o seu plano?
- Não sei, não esperava que respondesse.
- Te mandei bilhetes o suficiente para você saber que me interessei, não seja covarde agora.
- Ok então, onde você quer ir?
"Para o mundo" foi a resposta. Queria poder falar que entrei num ônibus e desci no outro lado do país, mas seria mentira. Contudo a levei para ver o pôr-do-sol em Ipanema, ela bateu palma e me beijou na areia. É exagerado demais falar que me apaixonei nesse momento, mas me desapaixonei dois segundos de novo quando vi que ela roía as unhas. Só dois meses depois então que o amor voltou mesmo. Não sou que nem ela, não diferencio amor de paixão.
- Paixão é complicado - ela diz, feito menina - amor é simples, mas nem dê bola, coisa de mulher.
Eu tentava não dar, mas sabia que ela se incomodava, porém um dia ela me sussurrou num sonho que samba a consolava, então comprei todos os discos do Noel. Ela jurou que se algum dia terminássemos ela os levaria consigo. Não deixaria que ela o fizesse.
Um dia, num show do Carlinhos Brown ela me pediu em casamento; vestia uma saia um pouco curta demais (nada que eu tivesse o direito de opinar) e uma blusa transparente um pouco indiscreta. Me beijou e mordeu a orelha e pediu. Eu disse que sim, mas ela teria que esperar que eu pedisse pra acontecer de verdade.
- Babaca, só está me enrolando. - Riu da minha cara e continuou dançando e dançando. Acho que ela não esperava que eu fosse continuar lá nos duzentos dias seguintes.
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