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Porque vamos terminar a garrafa - Bebendo aos poucos.

 Se despediu no tubo do biarticulado, com o a sombra do sorriso dele na boca. Era uma caminhada de meia hora até sua casa, seria cinco minutos de ônibus; mas deu a volta e levou uma hora e quinze minutos. A rua estava quieta, o dia estava escuro às cinco da tarde, mas a vida estava com muita delicadeza para ter medo. 
 Reparou nas casas bonitas que havia na ciclovia, e pela primeira vez realmente sentou e encarou o muro grafitado que havia perto do museu e nos casais que preenchiam a praça.
 Uma garota de meia calça rasgada vestindo a camisa de um garoto que agora só usava uma regata. Outro par, não tão bonito quanto o primeiro, dando risada e tocando violão; ainda tinha o menino feio sentado num canto com um caderno amassado e com páginas ressecadas como se houvessem sido encharcadas.
 "talvez ele o tenha jogado numa poça d'água num momento de revolta, mas se arrependeu" e ela compreendia aquele arrependimento. 
 Entrou no bosque, sabia que não devia, não àquelas horas, mas sabia que o universo conspiraria ao seu favor. Olhou para o céu, ele ainda refletia aquele azul bonito, não estava completamente escuro. 
 "Como pedacinhos delicados de verde, as folhas translúcidas decoravam a paisagem do céu"; e procurou por amora no mato. Era curioso pois, junho não é época de amora.
 Esfriou, deu meia-volta e apressou o passo para casa. 
 "O asfalto brilhava quando os minúsculos pedaços de vidro refletiam a luz dos faróis, estes mesmos lhe machucavam os pés, mas sabia que era uma questão de tempo, logo logo a dor se acostumava com ela".
 Queria chegar em casa, fazer um café e não precisava dormir naquela noite. Uma ligação e um caderno que deveria ser repleto de anotações, riu em silêncio, já imaginando a dor dos calos ao segurar a lapiseira que já estava enferrujando, decidiu voltar com o violão também, fazer as pazes. Mas havia uma boa história que precisava ser publicada.
 E no intervalo em que subiu a escada e ligou a tela do computador, tudo aquilo foi-se embora, a imaginação ficou esquecida, junto com aquele dia que foi guardado para ela. 

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