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49 (mais 17) músicas

 E foi muito devagar. Ele apareceu do nada, com calma; me olhando discreto mas tomando todo o cuidado para eu perceber. Me beijou tranquilo, dando tempo para eu me apaixonar, e nos caminhos da universidade ele sempre deu um jeito de me encontrar.
 O que era pra ser fácil e tranquilo se mostrou no começo confuso. Ficava a noite inteira em claro, com os pés pra cima apoiados na parede e a cabeça pendurada pra baixo na cama. Foram três semanas relembrando todas as feridas. As causadas e sofridas.
 Na quarta semana a vida ficou tranquila, pisquei um dia e deitei no colo. Cabeça descansando naquele peito, como uma canção de Buarque. Ouvi falar tantas vezes que era feio, tinha que saber se comportar, mas não parecia errado. Fechei os olhos e os abri, re-lembrando das mágoas. 
 Teve um dia que quase saí para matar e evitar todas, aconteceram, o que as impedia de voltarem? Sentar no balcão sujo de um bar e sumir pelo final de semana, quem sabe mandaria a mensagem?
 Mas com a mesma calma de sempre, ele me ligou e não desligou naquela noite. E me chamou para sair no dia seguinte.
 Nem tentei dormir, mas passei bastante maquiagem e tomei café o suficiente para que ele não notasse. Cheguei na livraria. Ele não chegou. Quase fui embora. Nada me impedia de sair correndo pela porta e inventar um mal súbito, ligar para uma amiga que fosse compreender, o passado, o histórico; sofrer de novo para o meu coração seria muito abuso. Mas não, apostou consigo mesma, como naquela música dos Engenheiros. 
 Três meses juntos já, eram namorados. Agora a calma, que outrora foi motivo de estranhamento era motivo de amor. Só perdia para as manias dele. Mas agora, com a ironia do mundo, eu decidi, em segredo, que não ia embora. Mas a roda viva carrega o destino e cá estou longe, rindo de todas as músicas estou ouvindo, sobre como queria que ele viesse comigo. 

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