Pular para o conteúdo principal

Desatinou-se

 Num canto da cidade ela passava o batom escuro e colocava os brincos de argola; pensava no que ia fazer, ainda estava indecisa entre uma cerveja ou uma dança. Trocou a calça de couro por uma saia rodada e foi para o samba. 
 Em outro lugar ele ligava para Rose, perguntando de Marina, se ia para o centro ou outro lugar. 
 - Vai pro Palco, mas a namorada é tua, tu não devia saber?
 Riu da ironia, bebeu um trago e saiu em busca.
 Ela dançava com um mulato que naqueles quadris se enlaçava, ela olhava para cima dando risada e mostrando o rebolado pra quem quisesse pudesse olhar; tirou o chapéu branco de faixa vermelha da careca morena e vestiu-o. 
 Acabou o samba.
 - Mais um! - Ela berrou. Então finalmente o encarou. O menino havia quebrado o acordo.
 Quinze dias sem se ver para ela decidir foi o combinado. Ela falou, ele concordou. Ele não cumpriu.
 Benedito cheirava o pescoço de quem falou que se chamava Laura. Morena bonita, dançava como deusa, pernas longas e ria e sorria. Assustou quando ela tirou a mão dele e parou pra encarar o moleque que se aproximava. Branquelo, mirrado, não se safava da briga.
 - Benê, pode ir me pegar uma água? 
 E o moreno saiu.
 - Faz tempo que você dança com ele?
 - Algum, mas não é nada sério. 
 Então Noel tocou, e Francisco a enlaçou. Ela não respondeu, dançou junto, deixou os quadris se tocarem, mas não deitou cabeça no peito de ninguém. 
 - Ainda me lembro quando te trouxe aqui pela primeira vez. Nunca imaginei que iria gostar mais que eu.
 - São muitas as coisas que me agradam mais que a ti. 
 Era um casal bonito, ele assumia isso, mas Laura era demais para o branquelo; mas ele sabia dançar, acompanhava ela. Mas franzino demais. 
 Um beijo foi roubado. 
 - Você devia ter cumprido com o prazo. Não devia ter voltado. Não ainda.
 - Pare disso, você me ama e eu te quero. O que falta?
 - Eu me entediei e você se decepcionou. Não é algo difícil de lidar.
 - Foram dez dias me afogando em cachaça. Você não foi me socorrer.
 - Cumpro com a palavra.
 Zeca Pagodinho tomou a cena. Benedito retornou. 
 - Não vai aborrecer a moça.
 - Já to de saída.
  O olhar dela mostrava como ela sabia que era mentira. E o olhar deles mostrava o carinho.
 - Ele tá te incomodando?
 - Nem se preocupa bem, meu soco é mais forte que o dele.
 - Ok minha linda. Minha casa ou tua hoje?
 - É cedo demais pra isso. - Ela descolou o corpo. 
 - Não é a primeira vez que...
 - Cedo demais para o minha.
 E com Chico se desvaneceu daquela roda. 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Porque vamos terminar a garrafa - Pillow Talk.

 - E se terminarmos? Você sabe que tem chance, uns oitenta e oito por cento, eu diria. Digo, eu provavelmente não sou o grande amor da sua vida.  - Então porque estamos juntos? Se tem tanta chance de terminarmos.  - Porque, nesse momento, agora, você é o amor da minha vida. Prefiro viver o presente, não gosto de "e se".

A rosa desabrochada

Apesar de tudo. De todas as mudanças de todos os sutiãs queimados; as mulheres permanecem com a mesma função. Manter um lar. Sorrir quando tudo estiver caindo, engolir as lágrimas e sorrir. Oferecer os ombros para carregar o peso que os homens em toda sua masculinidade e orgulho, se recusam a admitir que não agüentam. Será assim até o fim dos tempos. Os homens lutarão, se armarão, porém as mulheres os manterão. Mesmo que não os homens, mesmo que amem outro, elas continuarão lá. Com ou sem roupas intimas.