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Mucambo Cafundó

 Uma luz se acendeu no prédio em frente ao meu. Na realidade estava na lateral do edifício, mas na frente da minha janela. Uma loira de olhos verdes chora para a rua. Não sei se ela pretendia ter algum espectador, mas a partir daquele momento me teve. Em duas semanas já aprendi os hábitos dela.
 Até que em uma sexta-feira eu sentei no meu parapeito e acendi o meu primeiro cigarro em dez anos, ela olhou para a frente, diferente dos outros dias que somente olhava para a rua, e me deu um sorriso de presente, para que ninguém fale que eu roubei. Devia ter uma saúde de ferro, pois desde então começou a dormir de janela aberta.
 Tomávamos café-da-manhã junto, um rindo para o outro. Eu trabalhava antes dela, saía as oito da manhã e em uma quarta ela desceu o prédio dela e me deu um beijo de despedida.
 - Volte logo, meu amor.
 E subi direto para o apartamento dela. Quarto andar, número 42. Uma banda de rock meio manjada tocava enquanto ela fazia a janta.
 - Nickelback?
 - Uhum. - Ela sorri - Someday, somehow I'm gonna make it alright, but not right now. 
 - I know you're wondering when...
 - Gosta?
 Não respondo, não queria mentir para ela. E observo como ela cozinhava, sempre dançando e ando pelo o apartamento. Metade do tamanho do meu, porém ela tia uma televisão maior. E vejo a minha janela, do lado dela colados, todos os bilhetes que já foram jogados. Os elogios, o número do celular e a foto da minha avó. Pegajosa ela.
 - Lasanha de berinjela, o quê acha?
 - Não sabia que você era vegetariana.
 - Nunca perguntou oras.
 Conversamos, ela me sorri aquele sorriso de volta, só que esse eu já tinha. Ela me rouba um beijo como resposta. E me acabo na cama dela, que já havia tanto visto da janela. Parecia mais confortável do que era.
 Me estico para acender um cigarro.
 - Por favor, fume no corredor.
 E, morrendo de frio saio do nº 42 e sento no corredor, de frente para o 45. Onde na fechadura eu vejo um vulto de uma menina, que eu nem sabia o nome, mas acho que era Maria Rita.

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