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Homônimo

 O beiço dela trava tremendo, não culpo ela. Por mais que nunca a tenha pedido em namoro, éramos namorados; ela dava em cima de alguns caras quando eu estava olhando, somente para me deixar em meu lugar, mas eu fazia coisa pior quando ela piscava. Eu realmente acreditava que a vida seria mais fácil sem uma esposa. Mas deixar uma mulher grávida e sozinha por cinco anos não é algo que ela perdoe.
 - Você não mudou nada. - Tento elogiar.
 - Pois é, aceitei esse encontro. Jurava que iria aprender com o tempo.
 Ela não tinha mudado mesmo. Os cabelos estavam mais longos, mas somente isso. Ainda tinha os olhos de menina. 
 - Ainda fuma?
 - Com frequência. Pode acender se quiser.
 Acendo dois Marlboros e entrego um pra ela. Ela se relaxa.
 - Como vai a vida?
 - Bem, continuo sozinha, não tive nenhum outro homem sério se é o que quer saber.
 E era. 
 - Sozinha com o garoto?
 - Nunca cheguei a ter o bebê. Admito que foi provocação. Sabe, eu tinha aquela ilusão que no momento em que você descobrisse iria me mandar parar, dizer que me ama, que se arrepende e tomaria-me em seus braços e teríamos uma família. Garotinhas de dezessete anos conseguem ser muito ingênuas, não?
 Um soco meu acerta a mesa. Ela sabia que a minha mãe havia tentado, e tudo mais. Não queria assumir que era por causa desse complexo materno que fui embora. 
 Ela havia mentido sobre alguma dessas coisas. Cruzou os braços e se inclinou para trás, ficou na defensiva. Acho que eram os cigarros, devia estar tentando largar.
 - Te devo algumas explicações.
 - Só uma. Respeito o fato de você ter transado comigo e ido embora, mereci isso. Mas não entendo o porque do "eu te amo", mentira dos vários "eu te amo" e ter ido embora. Isso foi sacanagem. Por quê? Mudou de ideia ou foi tudo programado? 
 E agora eu tinha uma escolha. Ou ser o filho-da-puta de novo ou correr atrás e rastejar mais uma vez. Eram muitas vezes em que ela dava em cima de outros caras.
 - Você cometeu o erro em se transformar no vilão de novo. Devia ter continuado, jogando as coisas na minha cara sutilmente e bem, me conseguiria na palma da tua mão. Ainda tem eu acho, mas agora você é o vilão, por mais que eu seja a bad girl da história. - Sinto as tentativas de golpes nisso tudo. Era como se ela fosse uma naja e estivesse dando o bote. 
 - Cut the crap, isso daqui não é os Estados Unidos e não somos ricos ou glamourosos para estar em algum filme.
 - O que você quer? 
 - Antes era só um café, agora não sei se ir embora ou te roubar um beijo. 
 A resposta dela é passar um batom vermelho e deixar o celular na mesa, com o contato de um tal de Francisco pronto para ser discado. Tinha dois "A" na frente do nome dele, de maneira que ele fosse o primeiro contato da lista. Até agora não sei se ela pensava que eu fosse reparar nisso ou não. Enfim, não era sobre os cigarros que ela havia mentido afinal. 

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