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Chelsea St Nº 2

 A cretina manipulava ele como dava.
 - Tem certeza que vai dar certo?
 - Claro benzinho, você é o chefe. - Abraçava ele por trás, acariciava o peito do velho tarado. E então sussurrou algo no ouvido dele enquanto me olhava. Aqueles olhos de quem aguenta a tequila e a noitada por seguir, os olhos de piranha.
 Ela então pegou os duzentos reais e saiu, vestiu o casaco branco por cima do vestido branco e me esperava na frente do hotel com o cigarro já aceso. A chuva caia e parecia se desviar dela, como um feixe de luz; e ela me viu e sorriu, e por dois segundos deixei a guarda baixar. Mas me recompus ao voltar para ela, não estou na Sicília mas as mulheres sempre serão mais perigosas que armas.
 - Noite agradável, não?
 - Claro, se você gosta de frio e chuva.
 Estranho que não consigo imaginá-la de dia. Em dois anos que a conheço, nunca a vi de dia. Todas as vezes que acordei do lado dela ainda era madrugada e eram cinco da manhã quando ela pegava o táxi.
 - Você sabe que vou ter que fechar o hotel não é?
 - Claro que sei detetive, relaxe, não se preocupe comigo. Desempregada não fico. - E então assopra a fumaça da última traga em mim, jogando a bituca na chuva.
 - Me avise daí, cuido de você.
 - Por quê? Para fechar de novo? É o quarto lugar que trabalho que você destrói.
 - Não é minha culpa se você atraí o perigo.
 - Pois é, você ainda está aqui.
 - Não por muito. - Não é como se ela deixasse. Não era puta somente porque trocava prazer por favores, comigo não deve ter sido diferente. Deixei ela escapar muitas vezes. Essa seria somente mais uma.
 - Ah, mas você sempre vai embora, não é baby? Assim como sempre volta.
 - Você sabe que eu não preciso de você.
 E ela me beijou naquela chuva, provando-me errado como sempre. Então sinto o meu próprio revolver na minha cintura.
 - E ainda se deixa enganar pelos mesmos truques meu bem. Ainda morrerá por causa disso.
 - Provavelmente em seus braços.
 - Ou colo.
 Entramos no táxi em silêncio, ela fumava olhando pela janela, mirando a fumaça para a brecha da janela. Chegamos no mesmo prédio no mesmo beco de sempre. Um gato preto cruza o caminho dela. 
 - Sete anos de azar.
 - Que entrem na fila.
 Subimos os três andares das escadas, ela entra, tira o casaco e veste uma camisa que não é minha.
 - Quer jantar antes de comer a sobremesa? 
 - Não, você sabe que não funciono bem de barriga cheia. 
 Acordo sozinho três horas depois, ela está na cozinha ainda fumando o mesmo cigarro.
 - A grana está curta, ok? - Respondendo a pergunta que não fiz. - Você estava certo, cantar e dançar para prostitutas, adolescentes e bêbados não dá dinheiro.
 - Posso fechar o hotel?
 - Pior do que estou não fico. Vou acabar abrindo as pernas, nós dois sabemos disso. Só vou ter que cobrar dinheiro ao invés de favores.
 - Vai ficar bem?
 - Não, mas isso não é novidade para você.
 - Você poderia estar casada comigo e com um filho, sabe disso não?
 - E você sabe que essa é a maior mentira que já contou a si mesmo. Vá lá policia, prenda quem você tem que prender. Ainda sabe o meu endereço.

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