A cretina manipulava ele como dava.
- Tem certeza que vai dar certo?
- Claro benzinho, você é o chefe. - Abraçava ele por trás, acariciava o peito do velho tarado. E então sussurrou algo no ouvido dele enquanto me olhava. Aqueles olhos de quem aguenta a tequila e a noitada por seguir, os olhos de piranha.
Ela então pegou os duzentos reais e saiu, vestiu o casaco branco por cima do vestido branco e me esperava na frente do hotel com o cigarro já aceso. A chuva caia e parecia se desviar dela, como um feixe de luz; e ela me viu e sorriu, e por dois segundos deixei a guarda baixar. Mas me recompus ao voltar para ela, não estou na Sicília mas as mulheres sempre serão mais perigosas que armas.
- Noite agradável, não?
- Claro, se você gosta de frio e chuva.
Estranho que não consigo imaginá-la de dia. Em dois anos que a conheço, nunca a vi de dia. Todas as vezes que acordei do lado dela ainda era madrugada e eram cinco da manhã quando ela pegava o táxi.
- Você sabe que vou ter que fechar o hotel não é?
- Claro que sei detetive, relaxe, não se preocupe comigo. Desempregada não fico. - E então assopra a fumaça da última traga em mim, jogando a bituca na chuva.
- Me avise daí, cuido de você.
- Por quê? Para fechar de novo? É o quarto lugar que trabalho que você destrói.
- Não é minha culpa se você atraí o perigo.
- Pois é, você ainda está aqui.
- Não por muito. - Não é como se ela deixasse. Não era puta somente porque trocava prazer por favores, comigo não deve ter sido diferente. Deixei ela escapar muitas vezes. Essa seria somente mais uma.
- Ah, mas você sempre vai embora, não é baby? Assim como sempre volta.
- Você sabe que eu não preciso de você.
E ela me beijou naquela chuva, provando-me errado como sempre. Então sinto o meu próprio revolver na minha cintura.
- E ainda se deixa enganar pelos mesmos truques meu bem. Ainda morrerá por causa disso.
- Provavelmente em seus braços.
- Ou colo.
Entramos no táxi em silêncio, ela fumava olhando pela janela, mirando a fumaça para a brecha da janela. Chegamos no mesmo prédio no mesmo beco de sempre. Um gato preto cruza o caminho dela.
- Sete anos de azar.
- Que entrem na fila.
Subimos os três andares das escadas, ela entra, tira o casaco e veste uma camisa que não é minha.
- Quer jantar antes de comer a sobremesa?
- Não, você sabe que não funciono bem de barriga cheia.
Acordo sozinho três horas depois, ela está na cozinha ainda fumando o mesmo cigarro.
- A grana está curta, ok? - Respondendo a pergunta que não fiz. - Você estava certo, cantar e dançar para prostitutas, adolescentes e bêbados não dá dinheiro.
- Posso fechar o hotel?
- Pior do que estou não fico. Vou acabar abrindo as pernas, nós dois sabemos disso. Só vou ter que cobrar dinheiro ao invés de favores.
- Vai ficar bem?
- Não, mas isso não é novidade para você.
- Você poderia estar casada comigo e com um filho, sabe disso não?
- E você sabe que essa é a maior mentira que já contou a si mesmo. Vá lá policia, prenda quem você tem que prender. Ainda sabe o meu endereço.
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