Não há Pôr-do-sol em Curitiba, ela escreveu num fôlego rápido enquanto esperava o ônibus na ainda vazia e nebulosa Getúlio Vargas vespertina; por mais que o sol ainda não houvesse nascido, o pensamento servia tanto para a aurora quanto o crepúsculo.
É perigoso isso, a baixa incidência de sol. Não há divisão dos turnos, o dia só é menos escuro do que a noite, o que é ideal para vampiros, mas não para garotas. It’s indeed a dangerous time for dreamers. Teve que reescrever no celular, a caligrafia no ônibus era hedionda; guardou a caneta em um bolso específico da mochila e pegou o aparato eletrônico com pressa, afinal a inspiração era como um fôlego efêmero, poderia ir embora tão rápido quando chegou; o que era terrível para pessoas que se distraiam muito.
A tão chamada cidade dos poetas. Tivemos Leminksi, Trevisan e Perneta, mas nenhum Bandeira, Drummond, Vinicius de Moraes ou Gregório de Mattos, sem o sol para inspirá-los se sucederam bem para temas mundanos e espirituais, contudo a poesia não conseguiu tirar a tristeza da cidade. Uma cidade tão bonita e tão triste, com pessoas bem comportadas, bem orgulhosas e bem tristes.
Depressão. Disseram para ela que ela podia ter depressão. Não podia ter depressão.
Citou Nabokov enquanto segurou as lágrimas que brevemente vieram “Se matar a própria mãe fará uma boa estória, o escritor deve fazê-lo”.
Pessoas depressivas não escrevem, não produzem.
Por um momento contemplou tudo o que tinha feito na sua vida pela escrita, os relacionamentos que teve, os lugares que frequentava e as escolhas que tomava. Se sentiu triste ao sorrir para tudo aquilo, ver que o drama havia compensado.
A cidade em si é um poema. Conta histórias tristes nas esquinas das marechais onde viciados se agarram às drogas, onde os refugiados que vendem comida árabe choram por terem abandonado tudo, mas não são essas as histórias contadas. São de prostitutas que ao invés de amarguradas lidam com a sua profissão, são de meninas que são perdidas até um príncipe encantado de tênis surrados e jeans rasgado as resgate.
Olhou para as unhas roídas e parou de digitar. Pensando em algum dos príncipes encantados que haviam aparecido. Não queria ajuda deles, tinha que aprender a andar com as próprias pernas, há algo de digno nisso, em não depender do par. Quase chorou de novo ao perceber o tanto que mentia para si mesma. Não é certo assumir que quer ser salva, quando não consegue fazer isso por si mesma. Alguns momentos depois e se olhou no espelho. Algumas, se não várias, lágrimas haviam escapado. O rímel e o delineador estavam borrados e o batom falhado por marcas de dentes.
O saldo final tinha sido de treze linhas inconclusivas entre si e no coração miúdo.
E se lembrou porque tinha parado.
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