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Esperar não é saber

 Podia ser uma madrugada; pelo sono, pelo frio, pela chuva. Mas era nove da manhã, ainda estava com sono, sentindo frio e ouvindo a chuva. 
 E nesse mesmo frio e naquela mesma chuva olhava a janela do quintal desde a madrugada do dia anterior, procurava a filha sumida fazendo uma varredura minuciosa pela grama, esperando ver a menina ou dando risada com as amigas ou entrando de fininho com a cara vermelha; mas sabia que se a visse a realidade seria diferente.
 Veria a sua pequena capengando pela rua, com a maquiagem borrada, ou até mesmo saindo bamba do carro, como tantas outras que tiveram o mesmo destino.
 As olheiras contavam toda a história da preocupação que a havia emudecido, as rugas tinham aumentado mais nesse mês do que nos seus quarenta e cinco anos de história. 
 Uma última lágrima caiu, e ela finalmente fechou os olhos, cansada. Afinal uma morte é uma tragédia, mas mil já é estatística. 

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