A chuva caía serena em mais uma noite de outono. Ventava somente o suficiente para a chuva ser horizontal; mas nada que fizesse o vento assoviar. Uma menina bonita demais para ser pobre se senta sob o toldo da entrada de um prédio já condenado.
Um hotel antigo agora já ocupado por quem não tinha dinheiro o suficiente para correr atrás de seus próprios sonhos. Seus inquilinos se dividiam entre boêmios, poetas, mendigos, travestis (alguns mendigos travestis) e ela.
Estava frio, ela vestia um moletom grande mas nada nas pernas. Pernas bonitas, sem marcas ou hematomas, como era comum das damas que ficavam até essa hora da noite. Resultado de muitos minutos passando hidratante talvez, afinal elas ainda reluziam sobre a luz crepitante.
Havia tempos que eu a observava. Ela sempre soube. É uma região pequena, difícil de não perceber as coisas. Conversávamos as vezes na fila do banco ou quando nos esbarrávamos. Não sabia seu nome de verdade, mas ela gostava de se chamar de Mary Anne. Acho que era Mariana o nome verdadeiro; ela deve ter mudado pois afinal, como todas as adolescentes, não queria ser ordinária.
O neon agora já estava quase apagado, ela havia planejado bem aquela cena; poste iluminava apenas ela, com o cigarro manchado de batom somente esperando o seu close. Esse seria o momento, logo antes de um corte rápido para os pés desengonçados.
Em silêncio, ofereceu um cigarro no maço. Neguei e ela jogou o dela em uma pequena poça escura. Ele apagou fazendo um tss.
- Você estuda? - Ela perguntou.
- Não, tento compor. E você?
- Aham, fotografia e cinema.
- Vai realmente tentar fazer uma carreira disso?
- Você vai realmente tentar fazer uma carreira de "tentar compor"?.
Típico, mas ainda assim consigo fazer a conversa fluir. Ela deveria estar determinada também; com uma frase para cada situação da minha vida e cruzando aquelas pernas sempre que desse. Mas ainda não tinha tirado um sorriso.
Mas eu tentava, tentava digitar as palavras daquele diálogo, os suspiros e somente depois de duas semanas o tão aclamado suspiro. Ela era a atriz e eu podia tentar dirigir.
Coloco minha mão em cima da dela e ela tira.
Tudo bem, afinal aquela noite ainda estava sem inspiração.
Um hotel antigo agora já ocupado por quem não tinha dinheiro o suficiente para correr atrás de seus próprios sonhos. Seus inquilinos se dividiam entre boêmios, poetas, mendigos, travestis (alguns mendigos travestis) e ela.
Estava frio, ela vestia um moletom grande mas nada nas pernas. Pernas bonitas, sem marcas ou hematomas, como era comum das damas que ficavam até essa hora da noite. Resultado de muitos minutos passando hidratante talvez, afinal elas ainda reluziam sobre a luz crepitante.
Havia tempos que eu a observava. Ela sempre soube. É uma região pequena, difícil de não perceber as coisas. Conversávamos as vezes na fila do banco ou quando nos esbarrávamos. Não sabia seu nome de verdade, mas ela gostava de se chamar de Mary Anne. Acho que era Mariana o nome verdadeiro; ela deve ter mudado pois afinal, como todas as adolescentes, não queria ser ordinária.
O neon agora já estava quase apagado, ela havia planejado bem aquela cena; poste iluminava apenas ela, com o cigarro manchado de batom somente esperando o seu close. Esse seria o momento, logo antes de um corte rápido para os pés desengonçados.
Em silêncio, ofereceu um cigarro no maço. Neguei e ela jogou o dela em uma pequena poça escura. Ele apagou fazendo um tss.
- Você estuda? - Ela perguntou.
- Não, tento compor. E você?
- Aham, fotografia e cinema.
- Vai realmente tentar fazer uma carreira disso?
- Você vai realmente tentar fazer uma carreira de "tentar compor"?.
Típico, mas ainda assim consigo fazer a conversa fluir. Ela deveria estar determinada também; com uma frase para cada situação da minha vida e cruzando aquelas pernas sempre que desse. Mas ainda não tinha tirado um sorriso.
Mas eu tentava, tentava digitar as palavras daquele diálogo, os suspiros e somente depois de duas semanas o tão aclamado suspiro. Ela era a atriz e eu podia tentar dirigir.
Coloco minha mão em cima da dela e ela tira.
Tudo bem, afinal aquela noite ainda estava sem inspiração.
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