Não consegui ficar sozinho. Não sei se foi de propósito, mas naquilo tudo, na rede de abraços e cobertores ela me prendeu. Saí trêmulo da cama que já havia doze dias estava vazia, mas essa foi a primeira vez que me dispus a dormir e acordar aqui. Mãe já encheu o saco "eu que não vou criar marmanjo depois de adulto" e então pra cá voltei. E saí da cama de vez.
Não tinha pão. Não estava mais habituado a fazer as compras, e num domingo então... Fiz ovo mexido; não tenho a destreza que ela tinha de virar o omelete.
E o complexo processo começou; havia me esquecido como se cozinhava antes dela. Nunca entendi isso, a dependência que uma pessoa desenvolve em você em tão pouco tempo, destruiu os 24 anos que fui criado para me virar em apenas um e meio.
A manteiga começou a cheirar e coloquei os dois ovos e uma pitada de sal. Estranho fazer isso sem a voz risonha mandando tomar cuidado. Ou me chamando atenção quando forma uma película na panela, impedindo que o ovo ficasse tão bem.
Me sentei sozinho na mesa pequena, sentindo falta dela de pernas cruzadas à minha frente.
Não engoli os ovos secos demais para serem bons, mas tomei uns cinco tragos da dependência. Ponderando o que foi nela que me prendeu e impediu de ficar sem. Quase chorando de saudades.
- Amor?! Cheguei, finalmente! Aeroporto lotado.
E ela sorriu para mim, mostrando que também não ficava.
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