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Um presente para as noites gélidas

 Algo de estranho acontece com as meninas quando elas aceitam a 
ideia de ter um amor não-correspondido.
 Elas viram mulheres. 


 Já era quase cinco e meia da tarde, e estava escuro como se fosse uma madrugada. Tudo parecia uma madrugada naquela cidade invernal que parecia ter saído de um livro de ficção, aqueles com temática noir, onde sempre se chovia, era frio e sinistro. Mas nada disso impede uma menina apaixonada. 
 O vento gelado machucava o rosto, os pés, por mais que secos pareciam úmidos e gelados, quase como se fossem gangrenar ou apenas cair. A pele frágil como papel, ressecada, prestes à partir. Mas continuava. Kept on Goin.
 Era só um boato, as chances eram pequenas, mas tinha que confirmar. Os olhos, verdes, pareciam negros por causa de toda aquela maquiagem borrada. Ela sabia, os boatos eram verdadeiros.
 Ele disse tudo. Primeiro que não significava nada, depois que era culpa dele, então que era a dela. Mas mulher nenhuma precisa virar um mártir para saber quem está errado. Somente de um bar próximo e alguém para quem dar risada. Apenas isso, duas doses e uma risada.
 Era maio no país tropical, e poderia estar nevando naquela cidade desgraçada. Um conhaque salvaria a noite e os dedos congelados, mas o bom senso fala alto e toma um banho na noite gelada. Uma banheira quente demais, mas nada que ela não aguentasse.
 Cigarros, banheira, frio. Tinha mudado de continente e ninguém a avisou.
 Pensou que havia alguém tocando alguma espécie de blues, mas era somente a imaginação. De corpo quente abriu uma garrafa de vinho e pensou em ligar para algum amigo, seria bom, reconfortante e ele era querido; mas não estava afim de fazer besteiras naquela noite. Se a vontade continuasse ela discaria o número na próxima semana. Naquela noite somente dançaria como se ouvisse música, afinal ainda era um sábado. 
 Vestiu as meias para se esquentar e passou hidratante na pele. Afinal, tinha que continuar indo. 

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