Quando eu me apaixonei pela primeira vez, eu queria ser um espião e ela uma enfermeira. Nos nossos onze anos já discutíamos. Eu queria brincar que me machucava e ela cuidava de mim enquanto ela falava de como a gente faria, porque eu viajaria o mundo inteiro enquanto ela trabalharia no interior ajudando os velhinhos pobres. Crescemos um pouco, resolvi ser professor e ela começou a fazer voluntariado. Ela estudava, me perguntava onde eu ia prestar vestibular e resolvendo o nosso futuro. Eu só queria uns beijos no sofá. Ela sempre a frente, sendo Mônica e eu Eduardo. Eu disse tchau, sequei as lágrimas dela e fui embora.
Na segunda vez, eu não corri o risco. Me casei e fiz dois filhos. Melissa era um doce, fazia suspiro, bolo e feijoada. Me dava um beijo quando eu saia de casa e me recebia de tarde cheirando a perfume. Me recebia com mais carinho do que paixão na cama, era uma ótima esposa e péssima amiga. Não me deixava beber nem fumar, queria que eu corresse de manhã e comesse salada de noite.
A terceira vez foi a pior. Ainda casado quis a minha empregada. Mulher mulata tem uma coisa diferente de mulher branca; um carinho e uma energia que contagiam. Me lembro de pegar ela sambando na cozinha enquanto fazia comida. Sílvia não era uma cozinheira tão boa como minha esposa, mas fazia um ambrosia que não tinha igual. Ela dançava e sorria, tinha um sotaque nordestino que era quase cantado, me chamava de sinhô e cheirava a cravo. Minha mulher sabia de tudo, não sei como, mas sabia. A vizinha deve de ter dito pra ela.
A quarta e última vez foi algo mais doentio. Eu, meu ego e minha mão. Não sei se é da idade ou é coisa de homem, mas funcionou bem por alguns anos (até o fim da minha vida nesse caso) mas como Melissa não se incomodava, Sílvia tinha saído de casa e Mônica sumido, era isso ou um prostíbulo.
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