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British boys don't do it better.

 Os feijões agridoces acompanham o pudding em um Pub, alguns comem isso, outros peixe frito e batatas. A chuva cai devagar enquanto o vento sopra frio como os infernos (não que essa expressão faça algum sentido). Uma garota maquiada que trabalha no bar ri da piada de algum cliente enquanto enche o copo de cerveja mordendo os lábios, compreendo ela; difícil resistir à olhos azuis. Sento sozinha bebericando alguma bebida fermentada que não é cerveja (não sei o que diabos ale significa) e espero que minha irmã chegue no horário dessa vez, ok entendo que ela esteja noiva, mas fiquei 13 horas num avião e três num trem para visitar ela. 
 Ela chega três quartos de hora atrasada. Diz que sentia minha falta, nos abraçamos, conto como mamãe está (insuportável) e pedimos um chá. 
 - Você tem que provar o Earl Gray! 
 Mesmo falando em inglês ela ainda mantia aquele insuportável sotaque goiano. Olha, eu sempre fui uma garota caseira, vida mundana, ordinária. Me formei em direito, virei juiza bem jovem (realmente, todo mundo fica impressionado com isso) e mantenho um apartamento na zona rica de São Paulo que comprei muito barato de uma velhinha que tinha medo de negros. Mas enfim, eu era a filha boazinha e comportada, ela viajou pelo brasil e depois pelo mundo. Visitou vinte estados brasileiros, cinco regiões e entre todos os malditos sotaques que ela podia escolher, escolheu o goiano; sabem? Aquele cantadinho.
 E realmente, o chá é muito bom. 
 - Como vai Benny? - o nome dele era Benito, italiano, mas ela gostava de Benny. 
 - Muito bem. Great! Estamos ansiosos para o casamento. 
 E temos mais quarenta e cinco minutos de conversa. Por favor, não pensem que foi uma conversa fútil ou que eu não gosto da minha irmã por não estar contando aqui, é só que eu estava mais interessada em ver a cidade. Fomos até a ópera, vi Cinderella, tomei chá em copos para a viagem e comi muito mas muito feijão agridoce. O casamento era no dia seguinte.
 Ela se casou na universidade onde Benny trabalhava. Foi uma cerimônia curta e divertida, não sei como vocês estão imaginando a minha irmã mas saibam que ela é uma ótima garota. Gentil, estilosa, de bom gosto. Se chama Amanda. Eu me chamo Roberta. 
 E então conversei com Benito, gente boa, professor de História Contemporânea, disse que queria se especializar nos políticos da década de 40 (1940, não 1840), recomendei Vargas de prontidão e contei um pouco da história da política brasileira. Levei cantada de alguns garotos no casamento (hi, are you from Brasilian? Yes. Yeah, you really are that pretty) e saí para fumar. Cigarros ingleses não prestam. 
 Volto para casa em duas semanas, e ligo para o meu novo cunhado de lá. 

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