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Em momentos difíceis é preciso pensar em alguma coisa bonita.

 - Malditos ideais! - É o que mais um bêbado diz enquanto enfia a cachaça goela a baixo. Claro que, uma palavra diferente de "puta" ou "desgraçada" por aqui, é o suficiente para atrair a atenção, mas é claro, nunca vi um homem pedir uma garrafa inteira e precisar de uma platéia pra contar tua história de como se apaixonou e teve o coração partido.
 - Sabem, antes de vir pra cá encontrei uma carta. Devia estar no meu casaco desde que ela foi embora, mas, bem, viu frio por aqui? Também não. De qualquer jeito, sabem, me apaixonei por uma garota. Uma garota mesmo. Apaixonada, jovem, bonita, fogosa. Aquela garota sobre que as histórias são feitas sabe? E ela era fiel. E me amava. Até casou comigo. - Ele ri e toma mais um copo. - Não igreja e toda aquela porcaria, não tinha dinheiro, só na prefeitura... Como se diz?
 - Civil?
 - Exatamente rapaz! Enfim, por oito meses fomos felizes, pobres mas felizes. Sabe, ela não ligava pra dinheiro. Ela até que tinha, os pais dela e tudo, mas ela tinha ideais. - Ele riu e terminou a garrafa, devia estar inconsciente quase. - e bem, vivíamos de vinho barato, Marx e os livros dela. Entulhou meu apartamento. Eu ia até melhorar de vida sabe? Terminar faculdade, ter emprego pra ter um filho com ela.
 - Faculdade do quê? - Entreguei uma cesta de pão pra ele.
 - Música. Virar artista.
 - Viver na boemia... - Completei.
 - Ha! Você é inteligente rapaz, o que ta fazendo aqui?
 - Te servindo.
 - Hahaha, enfim. Em alguns meses, adivinha? Eu descobri que tava certo em saber que ela era boa demais pra mim. Lembra do Haiti? Foi pra lá. Tinha qualificação, e foi. E eis que "a coisa que amo mais que você" é uma resposta. Choro? Muito. Peço pra ela ficar? Não. Sabia como ela tava sofrendo. Ela jurou que voltava.  Mas não voltou. Os pais dela me disseram que ela tinha morrido - Outro riso nervoso - Eles podiam estar mentindo, nunca foram muito com a minha cara... Só por causa de quinze anos de diferença? Haha, entendo eles. Eu não me aprovaria. Mas, bem. O olhar da mãe dela. Digo... Mulheres perdem filhos todos os dias, mas não pra suicídio.
 - O quê dizia a carta? - Perguntou um dos espectadores, no fim das contas a história chamou atenção.
 - Que ela ia voltar pra mim, e ter o garotinho que sempre quis.

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